(texto escrito no início de Dezembro de 2012)
Numa recente incursão pelo Museu Nacional de História Natural (MNHN) em Lisboa deparei-me com um panfleto que divulgava a “vigésima sexta feira internacional de minerais, gemas e fósseis” que aí se realizará nos próximos dias 6 a 9 de Dezembro. O pequeno panfleto incluía um texto que dizia o seguinte:
“Os minerais dos fundos marinhos são uma das grandes sensações da ciência na actualidade. A Humanidade vira-se para os fundos marinhos, na esperança de que estes contribuam para eliminar, ou minorar, as situações de escassez de fornecimento que se verificam para muitos recursos naturais.”
O texto prosseguia então com exemplos de minerais descobertos nos fundos marinhos e, referindo que Portugal possui um mar muito vasto, concluía assim:
“Por agora a XXVI Feira constitui-se como mensageira, não só da exposição, mas também de uma das maiores esperanças de progresso e bem-estar para o nosso país.”
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E é isto, nada de novo no Oeste.
A humanidade vira-se para os fundos marinhos?... Estará a afundar?... Ou serão os fundos marinhos mais confortáveis que os sofás ou os passeios à beira mar, na floresta ou no shopping?...
Nada disso. A humanidade está simplesmente a fazer o que sempre tem feito: estraçalhar a Terra inteira à procura do que considera mais valioso. A corrida ao ouro faz-se onde o ouro existir, seja lá onde isso for. Calha desta nova corrida a estes novos ouros ser no fundo do mar.
E acrescenta-se, numa visão profundamente triste, que aí reside uma das maiores esperanças de progresso e bem-estar do nosso país.
Houve um tempo em que ninguém pensava, pelo menos de forma organizada, na ideia de progresso. Vivia-se, simplesmente. Os anos passavam, cada um muito parecido com o anterior. As vidas passavam-se, cada uma muito parecida com a anterior. Mas depois veio de lá esta ideia, e esta sim muito peregrina, de que o progresso é fundamental. Sem progresso é impossível estarmos bem, é impossível sermos felizes.
Para quem está mal, melhorar as respectivas aflições é importante e urgente, e transmite uma ideia de avanço, a tal ideia de progresso. Mas para quem está bem, o progresso corresponde a quê?... A ficar ainda melhor?... E isso será assim tão indispensável à sua felicidade?...
Confunde-se assim um meio com um fim, e o progresso deixa de ser uma evolução no sentido de melhorar o que está mal, para ser um fim em si mesmo.
Acreditamos, neste século XXI de cabeças bem lavadinhas, que uma estagnação do produto é uma desgraça. O que temos nunca nos chega. Precisamos de mais coisas e sobretudo precisamos de mais dinheiro. O facto de uns terem muito e outros terem muito pouco, além de ser considerado natural, é resolúvel apenas com mais coisas, porque uma distribuição mais equitativa está sempre fora dos planos. Nunca nos chega.
Estraçalhámos o planeta em busca da felicidade perdida. Fizemo-lo desde as primeiras civilizações. Encontrámos ouro, canela, marfim, diamantes e petróleo. Encontrámos forma de dar ainda mais poder a quem já mais o tinha. Construímos impérios e fizemos guerras muitas à conta disso. Só nunca encontrámos forma de ultrapassar o problema da ganância dos homens e de ultrapassar os problemas de quem tem menos poder.
Hoje, em 2012, revelamos que não aprendemos nada com a História, insistimos que precisamos deste mesmo tipo de progresso, e insistimos que o nosso bem-estar está escondido no fundo do mar. E, claro está, continuaremos a estraçalhar o planeta.
sexta-feira, 4 de janeiro de 2013
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