quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Migrações

 

(com contribuições de Eduardo Galeano, de Carl Sagan, de quadras populares e da bíblia)

Desde siempre, las mariposas y las golondrinas y los flamencos vuelan huyendo del frío, año tras año, y nadan las ballenas en busca de otra mar y los salmones y las truchas en busca de sus ríos. Ellos viajan miles de leguas, por los libres caminos del aire y del agua.
No son libres, en cambio, los caminos del éxodo humano.

Migrar distingue-se de passear por não incluir o regresso a casa.

Migrar é levar connosco a casa, da casa que deixámos para outra casa.

Geralmente não abandona a sua casa quem nela se sente bem.

Migrar é muitas vezes um processo doloroso.

Ó meu bem se tu te fores

como dizem que te vais

deixa-me o teu nome escrito

numa pedrinha do cais.

 Enxotam-nos o desemprego, a carestia, a guerra, a ausência de condições de vida adequadas.

Los náufragos de la globalización peregrinan inventando caminos, queriendo casa, golpeando puertas: las puertas que se abren, mágicamente, al paso del dinero, se cierran en sus narices.

Atraem-nos a paz, a riqueza, os serviços sociais, a abundância,

ou simplesmente as fotografias que vimos e o que dizem que aquilo é.

Então ele se levantou, tomou o menino e sua mãe durante a noite, e partiu para o Egito

Entre a certeza e a ilusão fica sempre alguma espécie de fronteira

que nos torna forasteiros.

Ele se levantou, tomou o menino e sua mãe, e foi para a terra de Israel

Atravessados entre cá e lá, com saudades de tudo.

Já corri os mares em volta

com uma vela branca acesa.

Em todo o mar achei água,

só em ti perco a firmeza.

Atravessados entre cá e lá, pertencentes a nada.

Alguma espécie de fronteira, espelho de poderes arbitrários:

porque foi ali que o Senhor confundiu a língua dos homens e espalhou-os por toda a Terra

sabe falar a língua? tem os papéis em dia? tem trabalho? tem família? tem onde dormir? tem dinheiro? tem saúde?... tem tudo aquilo que faz não querer nem precisar de sair de casa? sim senhor, pode mudar-se para cá.

Mas há outros motivos para migrar.

A exploração está na nossa natureza. Começámos como vagabundos e ainda somos vagabundos. Já permanecemos tempo suficiente na costa do oceano cósmico. Estamos finalmente prontos para embarcar rumo às estrelas.

Regressamos, voltamos a partir,
com as estações, atrás do clima, das manadas, dos frutos maduros, atrás dos amores, ou simplesmente à procura... para ver o outro lado da montanha.

Na medida em que os grandes e pequenos poderes arbitrários possam ser contidos, assim a migração poderá ser uma festa, para quem parte, para quem chega e para quem regressa.



Partos, medos e elamitas; habitantes da Mesopotâmia, Judeia e Capadócia, do Ponto e da província da Ásia, Frígia e Panfília, Egito e das partes da Líbia próximas a Cirene; visitantes vindos de Roma, tanto judeus como convertidos ao judaísmo; cretenses e árabes. Nós os ouvimos declarar as maravilhas de Deus em nossa própria língua!

Atônitos e perplexos, todos perguntavam uns aos outros: "Que significa isto?"

Alguns outros, todavia, zombavam e diziam: "Eles beberam vinho demais".

 

AWF, Angra, 2024