terça-feira, 18 de outubro de 2011

As minhas mensagens na manifestação de 15 de Outubro...

No dia 15 de Outubro lá estive na manifestação no Porto. A Nina ajudou-me a pensar, a pintar (também o meu pai) e a empunhar um cartaz com duas mensagens...


Num dos lados tinha um gráfico do PIB com a evolução desta medida (muito foleira, mas enfim) do dinheiro gerado na economia desde o século XIX até ao presente. Em baixo acrescentava a interrogação "mas quando é que saímos da merda?".

Esta mensagem tem para mim uma relevância fundamental. É que, efectivamente, o PIB cresce, cresce, cresce, mas nós continuamos a ter dificuldade em simplesmente sobreviver.

Toda a política actual do nosso governo, tal como dos governos precedentes, tal como de todos os governos de todos os países do mundo que partilham esta organização económica chamada capitalismo, se baseia na premissa de que o crescimento económico é fundamental para gerar riqueza, riqueza essa que depois será distribuída de modo a garantir a todos, ainda que de forma desigual, uma melhoria na qualidade de vida.

No entanto, o que se observa é que o crescimento económico é, apesar das crises, a regra nestes países capitalistas, e apesar disso as camadas de população com menos rendimentos continuam a ver-se à nora para garantir os bens essenciais (mesmo que a noção de bem essencial tenha evoluído).

Isto acontece porque o resultado positivo do crescimento económico (porque o crescimento económico também tem consequências negativas) é açambarcado por quem tem mais poder. Naturalmente isto faz com que esses que têm mais poder fiquem com ainda mais poder. E a distribuição do rendimento, que sempre nos prometem, estranhamente nunca chega.

Muita gente não se apercebe, mas o PIB português dos últimos cinco anos é, em termos reais, o maior de sempre (sempre quer mesmo dizer desde a origem do universo, desde o tempo em que não havia tempo). Portanto, se fizerem o favor, os poderosos que nos respondam a esta simples questão: que mais vamos nós precisar para finalmente podermos ter mais tranquilidade a pagar a electricidade e a renda e para podermos descansar um pouco?


No outro lado do cartaz estava simplesmente a questão "E se nós trabalhássemos só para nós?". Pode parecer banal, mas esta questão é para mim (e espero que para mais gente) bastante pertinente.

Por um lado, se os menos endinheirados (e que por assim serem se vêem na obrigação de trabalhar para os mais endinheirados para conseguir sobreviver) trabalhassem apenas para si próprios, como é que os mais endinheirados iam fazer o seu dinheiro? Bom, agora o que está na moda é fazer dinheiro emprestando dinheiro e esperando pelos juros... Mas pelo menos os lucros deixariam de existir, e apesar de tudo, pelo menos em épocas normais, esses são os rendimentos que mantêm de pé o capitalismo.

Por outro lado, se nós trabalhássemos só para nós, isto é, nós pagaríamos salários uns aos outros, venderíamos uns aos outros, trocaríamos entre nós, nessa circunstância nós deixaríamos de precisar da moeda (seja ela em notas, moedas, cartões ou o que for) dos endinheirados. Poderíamos então criar uma economia paralela (e, assim como cereja no topo do bolo, como quem troça de quem tem o poder de fazer as leis a seu bel-prazer... se bem que certamente as coisas mudariam com rapidez... precisamente por causa disso), onde a nossa moeda é que valeria e a moeda dos endinheirados deixaria de ter valor. E seria giro perceber, de um dia para o outro, como o dinheiro dos endinheirados lhes permitia fazer empréstimos entre si mas não lhes permitia comprar coisas nos mercados... De um dia para o outro os ricos passariam a ser pobres!

Só que, e esta consequência também é de toda a pertinência, para que alguma coisa parecida (porque nunca poderia ser exactamente como descrevi na versão idílica) acontecesse, nós teríamos de estar dispostos a consumir apenas as coisas que nós produzíssemos. E seremos nós capazes de produzir computadores e automóveis tão bons como o capitalismo?...

(nas saias da Júlia, a minha sobrinha...)

3 comentários:

  1. Nem imaginas o número de vezes/dia que penso em despedir-me e ir para a "terra" plantar batatas, semear nabos e criar galinhas (são precisos ovos para as proteínas...). digamos que a evolução desse meu pensamento segue um traçado semelhante ao PIB!

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  2. O PIB ate podia ser maior que o Americano q isso é tudo treta. Imagina isto: compra-se algo, num certo ano, a alguém por x. Mais tarde, nesse mesmo ano, esse alguem volta a vender x a ti ou a um terceiro. O PIB aumenta, assim, em 2X. Mas não se gerou riqueza. O aumento do PIB é, assim, uma ilusão, uma miragem, uma treta. Quanto muito, é uma medida do quanto o dinheiro circula.

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  3. Hélio, se me dizes "imagina isto", então eu respondo-te "imagina tu"! :) Se procurares nas entradas do meu blogue encontrarás pelo menos uma entrada que se dedica a isso. O PIB é uma medida muito foleira de uma coisa que não se sabe bem o que é. Não preciso de explicações acerca disso, acredita que não. Mas a validade do indicador PIB é uma coisa. O meu argumento é outra coisa. Comentários ao meu argumento, para lá da treta do PIB?

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