sábado, 2 de janeiro de 2021

Carlos do Carmo...

 

Morreu ontem, dia 1 de Janeiro de 2021. Tenho pena. Dele queria sempre mais. Não só isso. Já fazia parte de mim. Fico com medo que essa parte de mim também morra. Ouço-o e sinto saudades de nem sei bem o quê... mas fico feliz de o sentir vivo ainda. E então sinto gratidão.

Tinha uma voz deliciosa, afinada, certeira, um timbre doce, macio. Sobretudo, aquele exercício que o José Mário Branco exigia de si e dos outros, de construir um contexto verosímil para transmitir uma determinada mensagem carregada de significado e sentimento (ao invés de se cantar o Barco Negro como se fosse trálálá uma grande alegria), esse exercício sempre pareceu natural no Carlos do Carmo. Parecia que cantava sempre com o coração e com a cabeça, em uníssono.

Aprendi a gostar de Carlos do Carmo com os vinis que os meus pais tinham lá por casa: "um homem na cidade", de 1977, e "dez fados vividos", de 1978. Senti-lhe o cheiro das castanhas assadas, o barulho do eléctrico, o movimento do cacilheiro, e isso e o próprio Carlos do Carmo transformaram-se para mim, e para sempre, num pedaço de Lisboa. Não sabia se era fado o que ouvia. Pouco me importava, e pouco me importa ainda hoje, mesmo depois de o fado ter sido classificado como "património cultural imaterial da humanidade" por alguns iluminados. Assumir que uma coisa tem valor porque alguém diz que sim sempre me pareceu um atestado de incompetência que passamos a nós mesmos, para dizer o mínimo... mas isso é assunto para outro texto.

Ouvi da boca do Carlos do Carmo as mais belas interpretações de uma série de poetas e compositores. Eis algumas:

E como estas já têm quarenta anos, para quem acredita que o modernaço é que é (ao mesmo tempo que acredita que a medicina antiga é que é), ficam aqui mais algumas:

 Estas e muitas outras... já cá cantam, e cantarão!



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