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Sabes como é,
o que a gente quer é mudar o mundo, não fazemos a coisa por
menos, já os beatles vinham com esta
cantiga e a culpa não foi da Yoko Ono. Só que nem por isso os caciques se
espantam e os cidadãos se acordam a montar algo de agradável. Parte será
questão de gosto e feitio. Será outra de transigir, que é do mais difícil que
há quando divergem os nossos absolutos. E depois há o medo, que facilmente se
dilui nesta modernidade líquida, que requer determinação para se dissolver. E
por vezes sabes lá de que parte te privas porque eles querem, e que parte outra
sonhas porque ainda eles te deixam. Que tramada é esta terceira pessoa plural
indicativa––até porque há quem acredite que a coisa é nossa e quem cultiva e
partilha o comum deve por ele––e por si–– responsabilizar-se: um qualquer elo
que não tem de ser sólido mas convém que funcione em conjunto. Isto é:
inventámos a roda e a democracia, o que foi muito; agora é revolver os eixos
pares, os dinâmicos êmbolos do teu trabalho, dentro e fora, aros distribuidores
de luz. E depois poder também girar suficientes e livres, que é o que hoje nos
retiram, porque antes nos querem eficientes e crentes no paradoxo da
austeridade produtiva. Mas sabes o resgate: a tua natureza contra o abstracto
que estabelecem os banqueiros, vertigem de fumo e espelhos, de mal formados
fabricantes de armas e andróides. Que o consumo que te vendem só te rouba o
desejo e estraga o clima, imateriais super-potentes de viagras, os vilõezinhos
das troikas, que te dizem que lhes deves quando tu nunca os viste mais pobres,
a empatar o que tens a fazer––ah! o amor. E há por ora esta divisão: eles ou
tu. E é relativamente simples: eles são poucos, querem mandar; tu és dos tantos
que queremos mudar.
Já calhava bem uma revolução.
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Margarida Vale de Gato, tradutora, professora universitária,
poeta.
Obrigado Margarida.
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