terça-feira, 5 de abril de 2011

A poesia vem de dentro...

(na rua da Achada)

A poesia está na luta. Por que lutas tu?
A inteligência é uma ferramenta. Para que te serve?
O conhecimento une as pessoas ao mundo e une-as entre si. A que te unes tu?
Tudo o que possuímos prendemos a nós. O que prendes tu?
A felicidade alheia pode ser um fim, mas a nossa é apenas um começo. Onde vais a partir dela?
A tua vida acabará. Como te lembrarão os que ficarem?
A poesia está na luta. Por que lutas tu?

AWF, 28 Março 2011

inspirado no escrito que está lá no muro, que é o final de um poema de Mário Dionísio intitulado:

ARTE POÉTICA

A poesia não está nas olheiras imorais de Ofélia
nem no jardim dos lilases.
A poesia está na vida,
nas artérias imensas cheias de gente em todos os sentidos,
nos ascensores constantes,
na bicha de automóveis rápidos de todos os feitios e de todas as cores,
nas máquinas da fábrica e nos operários da fábrica
e no fumo da fábrica.
A poesia está no grito do rapaz apregoando jornais,
no vaivém de milhões de pessoas conversando ou prague­jando ou rindo.
Está no riso da loira da tabacaria,
vendendo um maço de tabaco e uma caixa de fósforos.
Está nos pulmões de aço cortando o espaço e o mar.
A poesia está na doca,
nos braços negros dos carregadores de carvão,
no beijo que se trocou no minuto entre o trabalho e o jantar
— e só durou esse minuto.
A poesia está em tudo quanto vive, em todo o movimento,
nas rodas do comboio a caminho, a caminho, a caminho
de terras sempre mais longe,
nas mãos sem luvas que se estendem para seios sem véus,
na angústia da vida.

A poesia está na luta dos homens,
está nos olhos abertos para amanhã.

Mário Dionísio

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