domingo, 25 de setembro de 2016

Progressão...

(no Ilhéu das Cabras)


"E se soubermos ver nos sonhos o processo
os passos para trás não são um retrocesso."
José Mário Branco, in A Noite


Progressão

Locomoção flutuante
ondulante
vagarosa.

Persistente
rotação repetente
articulação pendente
ou içada
alternadamente.

Vou.
Voo.
Fluo como flui o mundo
à minha volta:
ordenadamente, uma
componente cíclica
e outra única
rectilínea,
em frente.

Respiro.
Sustenho.
Insisto.
Vou e venho,
vou e venho...

Pairo
sobre um chão inundado
que lá no fundo sustenta
um oceano
profundo e pesado...
E que nem por isso
parece cansado!

Vermes do fogo vagueiam
pelos pepinos do mar.
Poliquetas esvoaçantes filtram
o que apanham no ar.
Sargos, peixes-porco, salmonetes,
alfaces, águas-vivas, rabanetes,
todos dançando abrem alas
para me deixar passar.

Insistente
rodo lentamente
o membro de trás
e retraio
o membro da frente.

Respiro.
Sustenho.
Insisto.
Vou e venho,
vou e venho...

Mas eis que estaco!

O fluxo sempre no braço
o movimento através do espaço
os fluidos
os sais
o calor
a troca
o mar
este longo abraço...

São novos os peixes
as algas, os corais,
mas lá no fundo
aquele chão
não mudou mais.

Percebo então
a onda
que se faz anunciar:
antes de levar atrai
atrasa ou faz parar.
A tal etapa que complementa
o movimento pendular.

Respiro.
Sustenho.
Insisto.
E apenas venho...

Há anos que ando nisto,
pairando este mesmo mar
sempre o mesmo fundo
o mesmo braço a rodar,
e a onda que se anuncia
e este anseio infecundo
de voltar a voar...

Deve ser gigantesca!...
E quando vier
não faço ideia
para onde me irá levar!

AWF, Angra do Heroísmo, 24 de Setembro de 2016

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Era uma vez um país...

Em 2013, em Almada, acompanhado da minha mãezinha, tive felicidade de poder assistir a isto:



De Miguel Calhaz,

Era uma vez um país

Lá num canto desta velha Europa
era uma vez um país

vivia à beira do mal “prantado”
mas apodrecia na raiz


Reza a história que foi saqueado
mesmo por debaixo do nariz

Triste sina, oh! Que triste fado!
Era uma vez um país

E os mandantes que por lá passavam
eram só ares de “bon vivant”

Viviam à grande e à francesa
como se não houvesse amanhã

E havia quem avisasse o povo
p'ra não dar cavaco a imbecis

Mas caíram na asneira de novo
era uma vez um país

E esta fábula do imaginário
tão próxima do que é real

Canção de maledicente escárnio
à república do bananal


Que se encontrava em tão mau estado
andava a gente tão infeliz

E o polvo já tão infiltrado
era uma vez um país


E lá se vão sucedendo os casos
grita o povo: “agarra que é ladrão!”

Mas passam belos dias à sombra do loureiro
Enquanto o Duarte lima as grades da prisão

E nunca se esgotam os personagens
neste faz de conta que é assim

Raposas com passos de coelho no mato

e até um corta relvas de madeira no jardim

Entre campeões de assalto à vara
e filósofos de pacotilha

Entram nas portas dos submarinos
azeiteiros de oliveira às costas
com o ouro da nação p'ra pôr nas ilhas
Caimão, cai pé, baixa os braços e as calças
e a cabeça e o nariz,

aqui finda esta história
que não tem final feliz
pois
era uma vez um país.

Porreiro, pá!...

domingo, 11 de setembro de 2016

Medo...



Obrigado Liliana.

O medo é parte integrante de nós.
Um brinde então, à outra parte de nós, que abraça e envolve o nosso sistema límbico, e nos permite reflectir, analisar e ultrapassar... e de que maneira!... o medo.