quinta-feira, 24 de março de 2011

"Vitória"...


Sensações e sentimentos que me deixou esta peça de teatro...

Trabalho. Nos dias que correm até parece que isso é uma sorte. Mas tenho os tostões contados. Há muitos pior do que eu, mas a verdade é que a minha vida é contadinha, e no fim de contas parece que corro e não saio do sítio... Parece que o progresso se traduziu numa espécie de tapete rolante, como os que existem nos ginásios, colocado sob os nossos pés: a nossa vida é mais sofisticada, mas com menos sentido...

Enfim, o dinheiro não me chega para a sede de cultura que tenho. Esta sede, ironicamente ou não, é também o resultado do frenesim do progresso. Daquilo a que chamam progresso. E dá-me vontade de ler livrarias inteiras, de estar em todos os locais ao mesmo tempo a assistir e a participar em tudo o que acontece à minha volta. E não posso.

Vim para Lisboa trabalhar. Sou do Porto. O Porto tem coisas boas e coisas más. Eu preferia viver noutro sítio, mas certamente nunca em Lisboa. Lisboa também tem ainda mais coisas boas e mais coisas más que o Porto. Vim para aqui atrás do trabalho... mas sinto-me em trânsito, entre o passado e o futuro, entre o Porto e outro sítio qualquer que há-de vir.

Mas Lisboa também tem coisas boas. E se tenho de gramar as coisas más, o melhor é aproveitar também as boas. Uma delas é a grande oferta cultural, a grande quantidade de coisas a acontecer todos os dias à nossa volta... e uma rede de bibliotecas públicas bastante razoável. Tornei-me frequentador dessas bibliotecas. Aconselho vivamente. Um cada vez mais raro exemplo de serviço público bem prestado à população...

De entre as coisas todas que se vão passando à nossa volta, há uma série delas que são gratuitas. Aprendi, nos anos em que estudava no Porto e tinha de viver com 200 euros por mês, a construir agendas de eventos gratuitos que iam ocorrendo na cidade. Eventos de tudo, porque não quero e não creio que a alma seja pequena, mesmo que esta causalidade possa (ou não) ser ao contrário.

Vim para Lisboa e apliquei o mesmo método à ainda maior oferta. Tenho uma folha de cálculo que me dá a possibilidade de optar, todos os dias, por três, quatro, cinco ou até dez eventos alternativos, todos gratuitos. Já divulguei tais folhas de cálculo, mas sinceramente sinto vontade de deixar de o fazer. Uma das razões para isso é que sinto que estou, ou posso estar, a minar as fontes de rendimento de artistas que bem precisam dele. Mas por outro lado, se as coisas não forem divulgadas, nem sequer as pessoas se habituam a desalapar o rabiote do sofá e a sair de casa...

Enfim, a verdade é que nestes meandros acabei por ganhar bilhetes para ir assistir a esta peça de teatro cujo título é "Vitória", pelo grupo Teatro dos Aloés, em exibição nos Recreios da Amadora.

Fui sem saber ao que ia. E saí de lá encantado!

E, já agora, como isto de ir sem saber ao que se vai e sair de lá encantado é uma coisa que me acontece não raras vezes, fica aqui o conselho: desalapem o rabiote do sofá e saiam de casa... E já agora, vão onde nunca foram, façam o que nunca fizeram, não deixem que a alma definhe.

À entrada, e com a devida antecedência relativamente à hora de início do espectáculo, dirigi-me ao "foyer" (não se arranjava um nome português para isto?) com vontade de tomar um chá: descobri que já havia uma chaleira com chá.

- Quanto é? - perguntei.
- Não é nada! - respondeu-me uma rapariga simpática do outro lado do balcão.
- Hummm... de camomila... Isto às tantas vai-me fazer dormir?...
- Não! A peça não é para dormir! - garantiu-me.

É uma peça num acto, com três personagens, todas muito principais. Três actuações muitíssimo boas e um enredo, que aparentemente simples, nos prende à cadeira e nos espreme como se fôssemos esponjas a libertar emoções... A encenação... bom, a encenação permitiu isto tudo sem sequer pensarmos nela. Muito bom mesmo.

Emocionei-me. Claro que me emocionei! Emociono-me com coisas muito menores... Mas se o digo assim é porque foi visível, é porque me saltou cá para fora.

Eu cresci com cenas de pais bêbedos a espancar mulheres e filhos, mansões cheias de história e de dinheiro, tráfico de droga, obras de caridade, campo, cidade, ricos, pobres, cultos, ignorantes, tudo e mais alguma coisa. Felizmente tive a sorte de saber, julgo eu, retirar as lições destas coisas todas.

Convivi, mesmo que só às vezes, mesmo que maioritariamente à distância, mas desde sempre, com as questões sociais bicudas do Zimbabwe e da África do Sul. Tinha família por lá. E tive direito a sermões sobre como não me devia nunca casar com uma preta e coisas do género.

Quando me calhou de ir trabalhar para o Zimbabwe vi-me confrontado com uma situação caricata e ao mesmo tempo muito triste: para além de todo o pessoal da empresa (o meu chefe também, claro) ser preto e de isso não ligar bem com o espírito colonialista dos meus familiares, vi-me obrigado a escolher se ia conviver com brancos ou com pretos. Certo era que assim que optasse por uns, seria ostracizado pelos outros.

Certamente Athol Fugard escreveu a sua peça num caldo pós-apartheid que continha isto tudo e muito mais, mas que, penso eu, tal como toda a parvalheira que encontrei e continuo a encontrar ao longo da vida, pode ser reduzido a uma essência: a capacidade (ou falta dela) de nos interessarmos pelos outros, de comunicarmos, de sermos solidários, em vez de nos fecharmos no nosso pequeno mundo e nos nossos problemas pessoais.

Num instantinho estavam ali resumidas a luta e a angústia que me acompanham desde há tantos anos...

Parabéns e obrigado a toda a equipa por isso.

Teatro "Vitória", até 27 de Março nos Recreios da Amadora, às 21:30, pela companhia "Teatro dos Aloés".

Texto do encenador José Peixoto acerca da peça (os negritos são meus):

"Para vencer o medo

Nasci no tempo do medo. Havia a guerra. Não sabia ainda ler, mas nas revistas que folheava havia sempre fotografias de corpos amontoados, de mortos, de feridos. Cheirava a morte.

Havia jovens que iam cumprir um dever que não sabiam muito bem qual era e que não voltavam mais.

Cresci no tempo em que as pessoas por medo não diziam o que sentiam o que sentiam ou pensavam. Era o tempo do fascismo.

Ainda não tinha feito 20 anos e numa praça de Lisboa encostaram-me uma metralhadora à barriga gritando que me fosse embora e tive medo.

Depois vestiram-me uma farda e mandaram-me para a guerra também. E via no rosto dos que comigo estavam que havia medo.

Com tanto medo e injustiça à nossa volta fomos aprendendo a fazer o exercício da alma que nos dava a força, a coragem e a ousadia de vencer o medo e lutar pela justiça e por um mundo em que os seres humanos olhassem para os seres humanos como seres humanos.

Um dia chegou a revolução e com ela a esperança ou a certeza de mudar o mundo e não se ouviu falar mais de medo.

Depois chegou a "crise" e as pessoas começaram a sentir outra vez o medo de perder o emprego, de perder as reformas e os benefícios sociais e começaram a calar-se como antigamente.

E o teatro também se calou com medo de perder o apoio, e a fingir que não era nada com ele começou a pensar em fazer rir muito o público, que queria divertir-se muito para esquecer a crise. E deixou de tentar pensar ou avaliar de onde vinham as crises.

Houve um tempo em que podia dizer aos meus filhos "Estuda e torna-te sábio que terás um belo trabalho à tua espera". Hoje não posso dizer nada disso sem mentir.

Houve um tempo em que me foi possível garantir um trabalho e até mudar de profissão, o que hoje não posso garantir aos meus filhos.

Parece que perdemos a esperança num mundo melhor e ganhámos o medo de o mundo se tornar ainda pior.

E para não enganar os meus filhos e não lhes legar um mundo pior do que aquele que herdei dos meus pais, nem ser cúmplice deste estado de coisas, tenho de olhar a realidade de frente e mostrá-la com toda a crueza, toda a verdade e toda a violência que nos impuseram. E pensar que a luta não terminou e que a minha segurança é frágil se não lutar também pela segurança dos outros.

Não me interessa o mundo da concorrência, da competitividade e da trapaça, nem viver num país com medo.

Resta-me a certeza de que o mundo pode ser diferente, as pessoas solidárias, fraternas, ajudando-se umas às outras e partilhando o que a vida tem de bom. Não temos que desconfiar uns dos outros.

E por isso vos proponho este teatro, nesta assembleia onde tudo pode ser partilhado e avaliado, discutindo convosco os caminhos da mudança na busca de um mundo onde valha a pena viver. Um mundo que possa legar aos meus filhos sem me envergonhar da minha própria vida e do que nela fiz.

Alfornelos, 1 de Março de 2011"


As crises vêm-nos das entranhas. Devíamos tentar compreender isso, em vez de passar a vida a complicar e a fazer de conta... Faço minhas, com a licença que acredito que ele me dá, as palavras do José Peixoto.

terça-feira, 22 de março de 2011

A Primavera chegou à minha janela...


(esta andorinha da direita já se tinha apercebido de alguma coisa a mexer atrás do vidro... danada... levantou voo imediatamente depois de eu ter "disparado"... para a próxima monto uma barraca camuflada com arbustos e pinto o nariz de verde e tal...)

segunda-feira, 21 de março de 2011

Super Lua...


Confirma-se que no passado sábado a Lua (assim com ele maiúsculo para dizer que é nossa) estava de facto maior que os lampiões de Grândola!

quinta-feira, 17 de março de 2011

A luta pós-moderna...



(foto tirada sem autorização daqui)

No dicionário "priberam", disponível online, diz que luta é: combate corpo a corpo, briga, duelo, combate [outra vez?], disputa, controvérsia, esforço, lida. E diz também que partido é: união de muitas pessoas para um determinado fim, grupo de indivíduos partidários de uma causa comum.

No entanto, lá estavam eles, lá estávamos nós, no passado dia 12, num partido apartidário, um partido sem fim, uma aglomeração de mil e uma ideias diferentes e sem controvérsia, uma luta sem disputa, sem esforço, sem inimigo, uma luta sem luta!...

De que servirá?... Servirá para trazer as pessoas para a rua? Servirá para as tornar um pouco menos apáticas? Servirá para as pôr a pensar na vida? Servirá para levantar discussões?... Eu tenho esperança que sirva para isso tudo. Por isso mesmo também lá estive. Tenho esperança que este seja um primeiro passo, um primeiro passo de muitos necessários até chegar a algum lado, que com um passo só pouco se sai do mesmo sítio.

Mas custa-me muito a acreditar que uma luta que se luta apenas enquanto não exigir confronto, enquanto não exigir esforço, uma luta que se luta apenas por prazer, custa-me a acreditar que seja consequente contra este estado de coisas, este estado que está dentro de nós mesmos.


(foto tirada no Porto, junto da Cooperativa Árvore, em Janeiro deste ano)


Dias de Gente

Existe dias que não me sinto gente
Dia quente para enfrentar a enchente,
Dia tumultuado para a solidão,
Dia de presente sem tradição.

Nesses dias desolados
Tudo praticamente são pecados
Infortúnios consequentes do pensamento antissocial,
A culpa egocentral da derrota do ser imortal,
Sofre o desespero da sobrevivência carnal

Dias de luta sem inimigos
Dias de guerra sem atrito
O terror dos dias tranquilos,
A inconsciência da lucidez.
Muito álcool
Pouca embriaguez.

Dias retilíneos
Curva sem destino
Movimento sem ação
Natural como a fome do leão.

Não depende do querer,
Mas, do intimo desejo de poder.
Dias como este nos leva a loucura
Pouco amor e muita ternura
Todos os desejos e nenhuma censura.

Dias de pressão sem temperatura
Dias de vontade sem coragem
Dias insuficientes para a decolagem
Dia da gente ser inconsequente
Sem reflexo
Atos imprudentes.

(de Izabella Ribeiro, retirado daqui)

segunda-feira, 14 de março de 2011

Dia dos namorados...

Trabalho comemorativo do dia dos namorados, 14 de Março de 2011 (por aí...):

12 de Março - fecundou, não fecundou?...




O que resultará daqui não faço ideia, mas tenho esperança... I'm expecting!

O melhor cartaz:

E a melhor bandeira:
:)

Um texto num panfleto no passado dia 12...

"Os jovens, e digo os jovens de todas as classes, estão um pouco à mercê de um sistema que não conta com eles, mas que hipocritamente fala deles. O 25 de Abril não foi feito para esta sociedade, para aquilo que estamos agora a viver.

Aqueles que ajudaram a fazer o 25 de Abril imaginaram uma sociedade muito diferente da actual que está a ser oferecida aos jovens.

Os jovens deparam-se com problemas tão graves, ou talvez mais graves, do que aqueles que nós tivemos que enfrentar: o desemprego, por exemplo. E por vezes não têm recursos, porque o sistema ultrapassa-os, o sistema oprime-os, criando-lhes uma aparência de liberdade. Eu creio que a única atitude foi aquela que nós tivemos - por "nós" eu refiro-me à minha geração - de recusa frontal, de recusa inteligente, se possível até pela insubordinação, se possível até pela subversão do modelo de sociedade que lhes está a ser oferecido, com belos discursos, com o fundamento da liberdade democrática, com o fundamento do respeito pelos direitos dos cidadãos. É, de facto, uma sociedade teleguiada de longe por qualquer FMI, por qualquer deus banqueiro, que é imposta aos jovens de hoje.

Tal como nós, eles têm que a combater, têm que a destruir, têm de a enfrentar com todas as suas forças, organizando-se para criarem a sociedade que têm em mente, que não é com certeza, estou convencido, a sociedade de hoje."

Surpreendentemente, ou não, isto foi proferido pelo Zeca Afonso em 1984.

Já agora, já analisaram bem o significado e a conotação que a palavra "insubordinação" tem, no uso diário que dela fazemos?... Não acham que devíamos ser todos insubordinados?...

quinta-feira, 10 de março de 2011

Banda sonora...

quarta-feira, 9 de março de 2011

A questão original: a “formação” como pretexto de diferenciação...

O que vai aqui em baixo é um excerto de um texto em preparação para discussão entre os bolseiros do sítio onde trabalho, que é o lnec em Lisboa, mas que a meu ver se pode aplicar a muitas outras situações por este país e por este mundo fora.

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No próximo sábado, dia 12 de Março, haverá uma manifestação nas ruas de Lisboa (e outra nas ruas do Porto). Prevê-se que essa manifestação (que no meu dicionário vem definida como “expressão pública e colectiva de um sentimento ou de uma opinião”, e que apesar da perfeita adequação à situação às vezes é preterida em favor de outras como demonstração ou marcha em favor de ou algo similar, por razões que seria interessante analisar melhor) contará com a presença de várias dezenas de milhares de pessoas. E num universo tão vasto, as razões para adesão serão certamente múltiplas. Mas uma das razões que será certamente comum a muitas dessas pessoas é o vínculo precário de trabalho que possuem. A justificação desse vínculo precário, por quem tem o poder de fazer as coisas de outro modo, é muitas vezes a falta de experiência dos trabalhadores (outra palavra que apesar de se adequar perfeitamente à situação é preterida em favor de outras como colaborador e afins).

Alega-se: que os jovens precisam de formação; que a entidade empregadora (para não dizer o patrão) necessita de experimentar o jovem, isto é, precisa de um “período de experimentação”; que os jovens não têm experiência na função; que porque os jovens mudaram de função ao fim de alguns anos regressaram (à casa da partida sem receber dois contos) à situação de falta de experiência e necessidade de formação; que a entidade empregadora está a prestar um serviço à comunidade (ao país e ao mundo) ao permitir a formação dos jovens; que está a prestar um serviço ao jovem porque lhe permite a aquisição dessa experiência e a melhoria do seu currículo; etc.

O discurso tem mil e uma variantes mas, em relação a este caso concreto, vai sempre dar ao mesmo: a necessidade de formação do jovem justifica que ele não seja remunerado justamente pelo trabalho que desempenha ou não seja remunerado de todo, que essa situação se perpetue ano após ano durante períodos que em alguns casos já vão próximo dos quinze anos, que apesar disso os contratos sejam sempre por períodos muito curtos, que no final do período de formação (que nunca se sabe quando é) não haja perspectivas de evolução para uma situação mais estável e com melhores condições, etc.

A verdade é que a necessidade de uns e a ingenuidade de outros (que às vezes se misturam) contribui para que a realidade seja assim, e a passividade e incapacidade de muitos para avançar com alternativas, que tanto podem resultar de uma adesão pouco esclarecida a uma forma dominante de pensamento, ou de uma simples constatação da sua falta de poder para alterar as coisas, contribuem para que essa realidade se perpetue.

Ora o que se tem passado com muitas pessoas nessa situação, trabalhando em empresas ou organismos públicos, é precisamente o mesmo que se tem passado ao nível da investigação (fundamental ou aplicada) e desenvolvimento científicos em Portugal, e mais especificamente ao nível do LNEC.

Assim, apesar de a aprendizagem (mais do que formação, que contém em si o significado de formatação) ser algo que só deixa de acontecer quando um espírito está decrépito, apesar dessa aprendizagem permanente ser sempre necessária ao desempenho profissional, e apesar de todos sabermos disso, os argumentos de que um bolseiro ou um estagiário não possui experiência profissional e de que necessita de formação são utilizados todos os dias no LNEC para justificarem as suas situações profissionais desfavorecidas relativamente aos restantes trabalhadores.

O argumento da formação não deve ser ultrapassado com o argumento da não necessidade de formação ou da posse de experiência profissional suficiente. Esses argumentos podem e serão sempre facilmente desmentidos, bastando para isso colocar a pessoa numa situação com a qual nunca antes se tinha confrontado e para a qual não é capaz de dar uma resposta imediata. Qualquer pessoa sucumbiria a tal teste.

O argumento da formação, pura e simplesmente não é um argumento. É apenas e só uma falácia.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Acerca da dívida na Irlanda...

Vejam lá se concordam com o que a seguir é dito, e de que forma se aplica também à nossa dívida pública e a tantas outras. Sabem quem é que está a expressar as coisas nestes termos?

E sabiam que na Islândia a população decidiu em referendo dizer não ao pagamento da dívida?... E que, até mais ver, a crise da Islândia está a ser superada muito rapidamente?... Procurem na net, por exemplo aqui.

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The starting-point in building a sustainable and progressive economy that can meet the needs of all the people is the repudiation of the billions in illegitimate debt imposed on our people and on future generations.

This debt was incurred by developers, speculators and financial institutions and was then immorally socialised by their friends in the Government. As a consequence, the European Union and International Monetary Fund have imposed an even greater and more crippling debt on our people, which is supported by the establishment political parties.
This debt is odious. It was not incurred through expenditure on health, education, social welfare, housing, or anything of real value to the economy or the country: it was incurred by friends of the Government so that they could inflate and profit from the speculative bubble, with little or no real benefit to working people.
This debt is illegitimate. This is not sovereign debt: it is a debt of private individuals and financial institutions that was socialised by the state. We are being made to pay for the debt incurred by a handful of profiteers and private companies that supported the Government, against the needs of the people.
This debt is perpetual. It is so big that it cannot be paid off. Add the cost of bank recapitalisations and future losses, the rising cost of NAMA to the state, the cost of the bank guarantee, the cost of maturing government bonds that rose as a result, and the cost of the EU-IMF loan, and this adds up to hundreds of billions in debt that does not belong to the people.
This debt is self-perpetuating. The EU-IMF “bail-out” is itself a loan to cover other debts. But, given its exorbitant interest rate and time limits, it only means that further loans or extensions will be necessary if payments are to be kept up. The Government has created a debt spiral that will cripple the economy and smother any potential to grow. And vast fortunes will be made by financial speculators as the debt bubble grows.
Won’t pay—not can’t pay. A number of people and groups are calling for deadlines to be extended, or for partial defaults, because we cannot afford to make payments. While the cost argument is correct, we do not believe we should have to default, as this debt is not ours in the first place. Calling for default acknowledges the legitimacy of the debt. We must not default: we must repudiate.
We call for a referendum on this socialised debt. The people must decide. This is a massive transfer of wealth from the poor, the unemployed, workers, small businesses, the self-employed, and family farmers. We have a choice to make: feed our children and keep a roof over our heads, or continue to pay this unbearable and unpayable debt and suffer the mass emigration of our children.
Repudiate the debt now. Demand a referendum now.

quinta-feira, 3 de março de 2011

As tristes desventuras do desejo...

Um beijo de luz entrou
e na sua luz tão bela iluminou
toda esta mágoa, este sofrimento
onde me enclausuro há já tanto tempo

E foi assim que sem querer se abriu
em mim um pequenino sorriso
que sorriu, sorriu, sorriu...
e assim escancarado nem notou
que o que essa bela luz iluminou
era o meu corpo, caminho de carne
por onde deambula há tanto tempo
em passos lentos este contido lamento

Mas o pequeno sorriso
não lamentava, sorria!
Num tempo anterior ao seu
tudo em redor era breu
e agora, agora ele via!

Via um caminho comprido
das carnes do meu corpo estendido
do passado de onde vim rebento
ao presente que trago comigo
tudo o que arrasto e sustento

Via a realidade, via
o que dantes só imaginava,
e ria escancaradamente, ria
porque para além do sofrimento
via o buraco por onde a luz entrava.

Cá dentro agora beleza e sofrimento,
mágoa, luz e tudo o que acalento
obedece como a música ao solfejo
de um sorriso pequenito mas crescendo,
que sabe de onde vem a luz que vejo
e sabe que essa força, esse alimento,
não é apenas luz mas o teu beijo

não é apenas luz mas o teu beijo,
amor que te transporto há tanto tempo
nas tristes desventuras do desejo.

AWF, 28 Fev 2011

quarta-feira, 2 de março de 2011

O quanto deixamos de cumprir...



"Roda gigante", de Chico Buarque, em nome do progresso, do crescimento económico, do fim da crise (assim como o fim do prec), da estabilidade, a bem da nação, ámen... deixemo-nos de samba, viola, roseira, de ir contra a corrente, de ter voz activa, com cê ou sem cê, de saias, serenatas e saudades.

Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu...

A gente quer ter voz activa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá ...

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...

A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá...

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...

A roda da saia mulata
Não quer mais rodar não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou...

A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola prá lá...

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...

O samba, a viola, a roseira
Que um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou...

No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá ...

Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...