quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Parvalheiras que se dizem...

Parvalheira 1:

"Se não me privilegias relativamente a um desconhecido é porque não és meu amigo."

Parvalheira 2:

- Dois mais dois igual a...
- Mas tu estudaste matemática?...
- Eu não.
- Ah, então não podes dizer isso!

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Bardamerkel...

Pelo Coro da Achada:



«Bardamerkel» (do pobre Beethoven)

Bardamerkel
bardamerkel
bardamerkel
bardamer...

... da finança é marioneta
lacaia do capital
bardamerkel
bardamerkel
essas contas cheiram mal

do banqueiro é amiguinha
ai a santa austeridade
bardamerkel
bardamerkel
erro de contabilidade

o cavaco faz-lhe uma vénia
dá-lhe prendas de natal
bardamerkel
bardamerkel
autoclismo é essencial

ei-lo agora D. Coelhinho
primeiro de portugal
bardamerkel
bardamerkel
de joelhos serviçal

vens-me ao bolso, apertas-me o cinto
e já se vê o fundo ao tacho
bardamerkel
bardamerkel
acho que vais água abaixo

pensámos fazer-te uma vaia
mas talvez o avião caia
bardamerkel
bardamerkel
não somos da tua laia

pró coelho uma cenoura
e o chicote anda de fraque
bardamerkel
bardamerkel
tu não vales mais que um traque

ela passa aqui de visita
faz a notícia do jornal
bardamerkel
bardamerkel
sê mal vinda ao curral

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Fado de Alcoentre...

Ainda no ano de 1975, a 27 de Julho, fugiram umas boas dezenas de ex-agentes da PIDE do estabelecimento prisional de Alcoentre. E a esse propósito o Ary dos Santos escreveu e o Fernando Tordo compôs e cantou o seguinte:

domingo, 25 de novembro de 2012

25 de Novembro de 1975...


Hoje é dia 25 de Novembro de 2012. Há uma data de anos passaram-se uma data de coisas. E acerca disso mesmo, estive nesta última sexta-feira na casa da Achada, onde pude ouvir a versão dos acontecimentos proferida pelo próprio Manuel Duran Clemente. Em 1975, o então capitão Duran Clemente fez no estúdios da RTP no Lumiar uma intervenção cujo conteúdo passarei a transcrever. São as suas palavras, às quais ainda acrescento, tal como ele acrescentou na sexta-feira, que levava já três dias sem dormir, que tinha 33 anos e que o discurso foi de improviso e a ingenuidade própria da idade.

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"Infelizmente a RTP não está a ser ouvida em todo o país. Isto acontece porque o emissor da Lousã já está a servir os estúdios do Porto. Há um corte feito por via administrativa e determinado não sei bem por quem!

Relativamente à antena de Monsanto (Lisboa) tivemos noticias de que haveria movimentações dos Comandos (de Jaime Neves) para, no local, ela ser desligada e na sequência ser interrompida a emissão destes estúdios.

Aqui (nos estúdios da RTP/Lumiar) a situação é calma e as forças militares estão perfeitamente dispostas a defender aquilo que é de todos nós, sobretudo do povo trabalhador!

Contrariamente a determinadas insinuações e calúnias, é evidente que não pretendemos a desordem, não pretendemos a falta de autoridade, não pretendemos a indisciplina…nada disso!

Pretender uma sociedade socialista não é querer a sociedade da “tanga” ou uma sociedade de austeridade inconfortável ou da anti-cultura ou de tudo quanto se difunde pejorativamente…

Isso é um completo disparate, propalado por forças de direita (por forças da reacção), com o intuito de impressionar os portugueses… Mais uma vez especular e explorar a falta de consciência política. Enfim, aproveitar o obscurantismo de tantos anos…  de tantos anos em que o fascismo manipulou o povo português.

Temos de acabar, de uma vez para sempre, com estas especulações; com esta outra face da exploração, que é mais uma forma de repressão do povo trabalhador português.

Nós queremos, de facto, a ordem democrática, a disciplina consentida, uma disciplina revolucionária, uma autoridade não-repressiva.

Queremos sobretudo que as novas estruturas, que as transformações neste processo, sejam criadas sob o ponto de vista dos explorados, sob o ponto de vista dos trabalhadores… isto é, sob o ponto de vista duma maioria que são efectivamente os desfavorecidos face a uma minoria que são (ou têm sido) os exploradores, seus intermediários ou seus lacaios.

É importante que as pessoas tenham consciência disso!

Queremos também que não haja mais ambiguidades neste processo. Que se clarifique, de uma vez para sempre, o MFA (um MFA que tem sido ambíguo), um MFA cheio de contradições… através das quais se tem afastado cada vez mais das metas a que se propôs.

Não é recuando…

É não ter perspectiva histórica, não ter uma perspectiva revolucionária. Não podemos continuar a recuar para atingir o objectivo de uma sociedade socialista.

O que nós vemos é que ainda há estruturas… ainda há organismos onde existem reaccionários muitas vezes até sem querer sê-lo, sem consciência disso, mas que objectivamente o são. Pessoas que por estarem em determinado lugar através da sua acção: através dos papeis, através das burocracias boicotam muitas vezes até o que já foi decretado pelo Governo.

Nós sabemos que muitas das pessoas, muitos dos pequenos e médios agricultores, muitos dos pequenos e médios comerciantes têm sido postos contra o processo revolucionário português. É preciso ter a perspectiva de que não são os erros das forças progressistas que põem as pessoas contra o processo.

Quem o faz é a acção da “reacção”: é a direcção internacional capitalista. Esquecemo-nos que ela existe? Existe e actua… e aproveita-se, neste País, da ingenuidade, da falta de consciência de muitos de nós e, sobretudo, dos problemas e das alienações, dos vícios e das mentalidades dos próprios militares e, até dalguns dos oficiais do MFA, quando constituídos como sua vanguarda: a das Forças Armadas.

O MFA não era mais do que uma vanguarda das Forças Armadas contendo oficiais com determinado grau de consciencialização politica… mas muitos outros não tinham qualquer consciencialização política.

No 25 de Abril o MFA tinha oficiais que sabiam o que era o Socialismo ou a Democracia, mas tinha, muitos que não sabiam o que isso significaria…. Por isso, posso dizer, alguns atingiram o seu “princípio de Peter”, como se costuma dizer, isto é, atingiram o seu limite de competência revolucionária.

Isto não pode ser!

Para bem do povo português, para que efectivamente o processo revolucionário prossiga, há necessidade que as coisas se clarifiquem e que aqueles (sobretudo os oficiais) que não são capazes, se atingiram o tal limite (essa competência)… têm que se afastar dele…

E não podemos permitir que seja nos gabinetes, que seja pela via administrativa………”

( … um técnico da RTP: começa a fazer sinais do lado das câmaras… ) (1)

“Estão-me a fazer sinais, eu não sei se posso continuar… (… dirigindo-se ao locutor, ao “pivot” António dos Santos…) … não posso continuar a falar por razões técnicas é isso!?! Não posso?!? Não posso continuar a falar por razões técnicas? Então continuo daqui a pouco, não poderá ser?! Estava aqui a ser … a minha intervenção estava a ser  perturbada pelos sinais dos técnicos… acho que devemos explicar às pessoas com naturalidade… não é verdade?”

(… locutor/pivot, António Santos: - Perturbar no sentido de elucidação!... )

“Tecnicamente eu não posso continuar a falar. Continuaria porque gostava de desenvolver este tema. Até para explicar melhor qual é a nossa posição e o que nos trouxe aqui. Está certo?”

(…António Santos: - Não sei, não sei, realmente qual é o pormenor que neste momento pode limitar ou não…)

[A emissão é transferida para os estúdios do Porto através da actuação técnica a partir da antena de Monsanto ( Lisboa ) já sob o controlo dos Comandos, após ter sido capturado o colaborador da RTP que possuía a “chave técnica” para a operação.]

Observações:

(1)                - Este colaborador da RTP que estava de serviço na antena, em Monsanto, contactou um colega dos estúdios do Lumiar, solicitando-lhe para avisar o Capitão Duran Clemente de que não conseguia manter-se escondido por muito mais tempo e que a emissão iria ser transferida para o Porto logo o apanhassem. É esse o significado dos sinais, feitos do lado das câmaras (que filmavam) que levam à perturbação da intervenção supra descrita.

(2)                - Aliás em comunicado feito na RTP muito antes do Telejornal, Duran Clemente havia dito ,mais do que um vez:

            “ Queria também esclarecer o Povo português, que está preocupado ao ouvir-     nos, que nós, aqui no Lumiar, estamos perfeitamente bem. É provável que nos silenciem a antena, a partir de Monsanto. Não sabemos o que se passa…. Se, efectivamente, deixarmos de estar nos “ecrans”, é porque a antena ( em Monsanto) foi neutralizada.

Não se trata de neutralização(ou prisão) do pessoal que está aqui nos estúdios no Lumiar. Quem aqui está pretendia apenas que a voz dos trabalhadores não fosse silenciada.


Apelo para a serenidade, para a vigilância revolucionária, inteligente e serena de todos os trabalhadores. Unidos venceremos!. “

Cap. Duran Clemente                                         25 de Novembro de 1975"


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O texto que ele próprio escreveu e que está datado de há um ano atrás (25 de Novembro de 2011) pode ser encontrado aqui. Nele, depois desta parte referente à sua intervenção na RTP, ele tece algumas considerações sobre o que se passou no 25 de Novembro. Delas saliento estas duas:


"(...) também começam (os mesmos/a direita) a propalar a iminência dum golpe de esquerda…(a criação duma comuna de Lisboa,etc.etc.!!!)…

Tal ideia parece não ter sentido, mas tem!
Estava criada a justificação para se preparar exactamente o golpe contrário. Chamar-se-ia um golpe de defesa para rechaçar o outro. E tudo se preparou."


Ou seja, o 25 de Novembro de 1975 passaria para a história como o dia do golpe que permitiu defender o país da ameaça comunista.

"A questão é que os poderosos de então (da mesma família dos poderosos de hoje) tiveram o braço amigo de uns quantos imprudentes e de todas as forças reaccionárias nacionais e internacionais; tudo fizeram para travar a genuína REVOLUÇÂO PORTUGUESA e iniciaram um processo que podia estar para o 25 de Abril como o 28 de Maio de 1926 esteve para a 1ª República…e só não foi assim porque os tempos e as circunstâncias  eram  muito diferentes"

Para quem não está bem dentro do assunto, o período da primeira república foi um período de mudança acelerada. Nesse período de mudança acelerada os conflitos de interesses estavam à tona e tinham repercussões na instabilidade política e não só. O 28 de Maio de 1926 pretendeu pôr fim a essa instabilidade e devolver a tranquilidade ao país. Tranquilidade, claro está, implica ausência de mudanças, certamente ausência de mudanças rápidas, e manutenção dos princípios vigentes no passado. E assim começou o Estado Novo.

O PREC, período revolucionário em curso, como ficou conhecido o período posterior ao 25 de Abril de 1974, também foi um período de mudança acelerada que trouxe à tona todos os conflitos de interesses que existiam mas que tinham sido calados durante décadas de Estado Novo. O 25 de Novembro pretendeu pôr fim à instabilidade desse período e devolver a tranquilidade ao país.

E conseguiu!... Por isso é que hoje estamos como estamos, mas continuamos tranquilos... povo mansinho...

Por isso mesmo também, os que mais desejavam as mudanças (onde eu certamente me incluiria se nessa altura tivesse idade para pensar), viram e vêem no 25 de Novembro o marco que pôs fim a um sonho.

O resto da conversa, que não será tida aqui e agora, é sobre a legitimidade democrática das mudanças... O que fazer quando um povo ignorante vota na manutenção da sua própria ignorância?...

Cantou então o José Mário Branco, numa música que se tornou célebre, e que aqui vos deixo:

" (...)
Quando a nossa festa se estragou
E o mês de Novembro se vingou
Eu olhei p'ra ti e então eu entendi
Foi um sonho lindo que acabou
Houve aqui alguém que se enganou

(...)
E então olhei à minha volta
Vi tanta mentira andar à solta
Que me perguntei se os hinos que cantei
Eram só promessas e ilusões
Que nunca passaram de canções

(...)
Quando finalmente eu quis saber
Se ainda vale a pena tanto crer
Eu olhei p'ra ti e então eu entendi
É um lindo sonho p'ra viver
Quando toda a gente assim quiser

(...)
E agora eu olho à minha volta
Vejo tanta raiva andar à solta
Que já não hesito e os hinos que eu repito
São a parte que eu posso prever
Do que a minha gente vai fazer
(...)"

Pois é Zé Mario... e até que toda a gente assim queira, tu e eu e o Duran Clemente e tantos mais cá nos vamos tramando...


sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Miguel Torga - Voz Activa...



Canta, poeta, canta!
Violenta o silêncio conformado.
Cega com outra luz a luz do dia.
Desassossega o mundo sossegado.
Ensina a cada alma a sua rebeldia.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Greve geral...

Quem afirma que uma greve, sobretudo num momento em que se sentem mais as dificuldades, é contraproducente e só contribuiu para agravar os problemas, está, sabendo ou não, a dizer o mesmo que isto:

(do Quino. Clicar para ver em tamanho maior)

Nós estamos efectivamente todos no mesmo barco. Só que uns estão de uma maneira, e outros estão doutra. Quem tem muito poder, tem muitas formas diferentes de manifestar o seu descontentamento com o rumo das coisas. Quem apenas possui a sua força de trabalho, usa a única ferramenta que tem.

Ainda outra perspectiva pode ser lida nestoutro artigo.

domingo, 11 de novembro de 2012

Assim se chamam as coisas pelos nomes que elas são...

Ontem fui ao teatro. Nele aprendi, do poema "autogénese" da Natália Correia, estes versos, cuja genialidade se sente pelo tanto que sintetizam em tão poucas palavras:

"A gente só nasce quando somos nós que temos as dores"

Relembrei a cantiga de amigo de João Roiz de Castelo-Branco (séc. XV):

"Senhora, partem tão tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

Tão tristes, tão saudosos,
tão doentes da partida,
tão cansados, tão chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.
Partem tão tristes, os tristes,
tão fora de esperar bem
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém."

E do Ary dos Santos, fiquei a conhecer o seu poema "objecto":

"Há que dizer-se das coisas
o somenos que elas são.

Se for um copo é um copo
se for um cão é um cão.
Mas quando o copo se parte
e quando o cão faz ão ão?
Então o copo é um caco
e um cão não passa dum cão.
Quatro cacos são um copo
quatro latidos um cão.
Mas se forem de vidraça
e logo forem janela?
Mas se forem de pirraça
e logo forem cadela?
E se o copo for rachado?
E se o cão não tiver dono?
Não é um copo é um gato
não é um cão é um chato
que nos interrompe o sono.
E se o chato não for chato
e apenas cão sem coleira?
E se o copo for de sopa?
Não é um copo é um prato
não é um cão é literato
que anda sem eira nem beira
e não ganha para a roupa.
E se o prato for de merda
e o literato de esquerda?
Parte-se o prato que é caco
mata-se o vate que é cão
e escreveremos então
parte prato sape gato
vai-te vate foge cão

Assim se chamam as coisas
pelos nomes que elas são."




E aqui o registo sonoro original dessa noite em casa de Amália que deu origem à peça de teatro a que assisti.

sábado, 10 de novembro de 2012

Mantém-te firme...

Boss AC com Mariza, "Alguém me ouviu"

Não ceder nem desistir...




Não me resta nada, sinto não ter forças para lutar
É como morrer de sede no meio do mar e afogar
Sinto-me isolado com tanta gente à minha volta
Vocês não ouvem o grito da minha revolta
Choro a rir, isto é mais forte do que pensei
Por dentro sou um mendigo que aparenta ser um rei
Não sei do que fujo, a esperança pouca me resta
É triste ser tão novo e já achar que a vida não presta
As pernas tremem, o tempo passa, sinto cansaço
O vento sopra, ao espelho vejo o fracasso
O dia amanhece, algo me diz para ter cuidado
Vagueio sem destino nem sei se estou acordado
O sorriso escasseia, hoje a tristeza é rainha
Não sei a alma existe mas sei que alguém feriu a minha
Às vezes penso se algum dia serei feliz
Enquanto oiço uma voz dentro de mim que diz..

Chorei
Mas não sei se alguém me ouviu
E não sei se quem me viu
Sabe a dor que em mim carrego e a angústia que se esconde
Vou ser forte e vou-me erguer
E ter coragem de querer
Não ceder, nem desistir eu prometo

Busquei
Nas palavras o conforto
Dancei no silêncio morto
E o escuro revelou que em mim a Luz se esconde
Vou ser forte e vou-me erguer
E ter coragem de querer
Não ceder, nem desistir eu prometo

Não há dia que não pergunte a Deus porque nasci
Eu não pedi, alguém me diga o que faço aqui
Se dependesse de mim teria ficado onde estava
Onde não pensava, não existia e não chorava
Sou prisioneiro de mim próprio, o meu pior inimigo
Às vezes penso que passo tempo de mais comigo
Olho para os lados, não vejo ninguém para me ajudar
Um ombro para me apoiar, um sorriso para me animar
Quem sou eu? Para onde vou? Donde vim?
Alguém me diga porque me sinto assim
Sinto que a culpa é minha mas não sei bem porquê
Sinto lágrimas nos meus olhos mas ninguém as vê
Estou farto de mim, farto daquilo que sou, farto daquilo que penso
Mostrem-me a saída deste abismo imenso
Pergunto-me se algum dia serei feliz
Enquanto oiço uma voz dentro de mim que me diz...

Tento não me ir abaixo mas não sou de ferro
Quando penso que tudo vai passar parece que mais me enterro
Sinto uma nuvem cinzenta que me acompanha onde estiver
E penso para mim mesmo será que Deus me quer
Será a vida apenas uma corrida para a morte?
Cada um com a sua sina, cada um com a sua sorte
Não peço muito, não peço mais do que tenho direito
Olho para trás e analiso tudo o que tenho feito
E mesmo quando errei foi a tentar fazer bem
Não sei o que é o ódio não desejo mal a ninguém
Há-de surgir um raio de luz no meio da porcaria
Porque até um relógio parado está certo duas vezes por dia
Vou-me aguentando, a esperança é a última a morrer
Neste jogo incerto que o resultado não posso prever
E quando penso em desistir por me sentir infeliz
Oiço uma voz dentro de mim que me diz... Mantém-te firme

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A religião, o ópio e o povo...


Pois então é necessário um equilíbrio? Concordo. O problema com isso, como com uma data de outras coisas, incluindo as tais pessoas equilibradas do aforismo número cinco, é que o equilíbrio de uns é o desequilíbrio de outros. E aquilo que é um equilíbrio hoje, pode ser um grande desequilíbrio amanhã.

Depois da grande depressão de 1929, vários grupos musicais dos Estados Unidos da América que antes se tinham especializado em tocar “blues”, um género musical soturno, evoluíram para “big-bands” tocando músicas muito mais alegres. As pessoas estavam psicologicamente deprimidas com a depressão económica e era preciso alegrá-las.

Aí está um exemplo de um equilíbrio dinâmico que se adapta às circunstâncias. E à partida tudo parece estar bem. Mas atentemos um pouco mais.

Um jovem aluno de liceu deverá também ele encontrar um equilíbrio entre o tempo e o esforço dedicados ao estudo e à brincadeira com outros jovens. Este equilíbrio pode também ser dinâmico e adaptar-se às circunstâncias. Nesse caso, quando os problemas lectivos aumentarem, ele pode aumentar ou diminuir o tempo e o esforço dedicados a ultrapassar esses problemas. As duas opções são possíveis e correspondem a duas estratégias diferentes de lidar com os problemas.

O mesmo exemplo pode ser transposto para muitas outras situações. Pode ser citado acerca de qualquer drogado cujos problemas com essa droga aumentam. Imaginemos o caso de um jovem adulto que fuma e cujo pai, que também fumava muito, morre de cancro do pulmão. Esse jovem adulto pode deixar de fumar ou pode passar a fumar mais. E o mesmo tipo de escolha entre diferentes estratégias se pode aplicar aos problemas sociais e económicos que vivemos hoje em dia.

Em geral, as duas estratégias em confronto são: por um lado, a atitude de parar para pensar, de identificar os problemas, de os encarar de frente e de os tentar resolver com lógica, com método e com conhecimento das relações de causa e efeito que o afectam; por outro lado, a atitude de meter palas nos olhos, de encontrar uma justificação qualquer para não ter de pensar no assunto, para evitar o confronto com ele, e procurar fontes de prazer que tragam um bem-estar imediato e façam esquecer os problemas.

Penso que não teremos dificuldade em considerar que a primeira destas duas estratégias é mais responsável, mais madura, e é a única que é efectivamente consequente na resolução definitiva dos problemas. Apesar disso, quer no caso das “big-bands”, quer no caso da fuga para a frente que a actual crise estimula nas pessoas (que vão dizendo umas para as outras e de si para si que está tudo bem, que tudo se há-de remediar, que já se verá, que... vamos ao cinema), a estratégia aparentemente mais comum é a segunda, a tentativa de ignorar o verdadeiro problema.

Porque é que isto é assim?...

Na busca de razões que o justifiquem há três que se podem tornar mais evidentes. A primeira razão é que muitas pessoas podem possuir os meios capazes para garantir a si próprias um bem-estar duradouro, mesmo que esse bem-estar seja conseguido com custos elevados para terceiros. Muitas pessoas podem não possuir efectivamente esses meios, mas podem julgar que os possuem. A segunda razão é que os custos infligidos a terceiros por aquilo que traz bem-estar a um sujeito podem não ser percepcionados por esse sujeito. Isto é, o sujeito pura e simplesmente desconhece que as suas acções e omissões implicam custos para outros, ou para si próprio, mesmo que num futuro mais distante. E isto está relacionado com a terceira razão.

A terceira razão para se optar pela estratégia da fuga em frente é a da percepção de poder ou da sua falta que as pessoas possuem sobre os problemas que as afligem. Quando alguém sente que não tem qualquer poder para alterar um determinado problema, torna-se perfeitamente racional tentar evitar o problema em vez de o enfrentar. Do mesmo modo, quando não se é toureiro e não se possui qualquer arma, a atitude mais normal é de fugir do touro, não é de o enfrentar.

Imaginemos, por um instante, um mundo onde só existem consumidores e traficantes de droga, sendo que ninguém acumula estas duas características. Neste mundo, os traficantes alimentam-se do consumo que os outros fazem da sua droga. Se essa droga trouxer muito prazer mas também muitos prejuízos aos seus consumidores, eles terão um problema. Poderão encarar esse problema de frente e compreender que terão de diminuir o consumo de droga para evitar os respectivos prejuízos.

No entanto, é razoavelmente evidente que em semelhante mundo os traficantes preferem que a estratégia seguida pelos consumidores seja a de tentar evitar o problema, continuando a consumir a mesma droga ou até aumentando o seu consumo. Não é difícil de imaginar também que nesse enquadramento os traficantes possuam maior poder de influência do que os consumidores. Se assim for, decorre que será apenas natural que eles utilizem esse mesmo poder para transmitir aos consumidores a ideia de que não há problema ou então de que o problema não pode ser resolvido por eles.

E embora nesta situação o problema seja da responsabilidade de ambos, consumidor e traficante, a verdadeira ultrapassagem dos problemas do consumidor exige que ele se consciencialize de que tudo depende de si. Por isso mesmo um psicólogo irá tentar convencer (mesmo que lhe dê outro nome) um tóxico-dependente que a culpa da sua situação é só sua, mesmo quando isso não é verdadeiro. É que pode até não ser verdadeiro, mas é o mais útil, o mais eficaz, na resolução do problema.

Não será demais chamar a atenção para o paralelismo entre este exemplo da droga e a situação actual da crise económica. Neste caso, os consumidores de droga correspondem às pessoas que sofrem com a crise económica, e isso somos a grande maioria de nós, e os traficantes correspondem às pessoas que beneficiam com a crise económica. Se alguém tiver dúvidas acerca da existência de pessoas que beneficiam da crise, basta saber que nunca a riqueza esteve tão concentrada como hoje, ou que os juros todos que pagamos de todo o tipo de dívidas são sempre o rendimento de outras pessoas, que recebem rios de dinheiro sem terem de mexer uma palha.

Nestas circunstâncias, não é de estranhar que quem tem mais poder (sejam as pessoas mais ricas, sejam os políticos do poder, sejam os fazedores de opinião, seja quem for) utilize esse mesmo poder (materializado num determinado discurso que é propalado sistematicamente pelos meios conhecidos) para nos fazer acreditar que a resolução dos nossos problemas económicos está para além da nossa esfera de influência. No fundo, fazem-nos acreditar que nada podemos fazer, que não há nada a fazer, que não há alternativas. Por vezes mesmo fazem-nos acreditar que a única hipótese é insistir, com ainda mais intensidade, no consumo da droga que nos trouxe até à situação actual. É esse o discurso de quem insiste que para sairmos da crise temos de trabalhar mais, de ser mais competitivos, temos de cortar nos gastos sociais do Estado, etc.

Nestas circunstâncias, não é de estranhar que a estratégia que a maioria das pessoas adopte para lidar com os problemas seja a fuga em frente. Acreditando que nada podem fazer, as pessoas agem como o aluno cujo aproveitamento escolar é mau e em vez de se dedicar ao estudo entrega-se às coisas que o fazem esquecer e lhe dão algum prazer imediato.

Portanto, quando se diz que é necessário encontrar um equilíbrio entre o divertimento e esforço que exige o encarar os problemas de frente, a questão é a de saber que equilíbrio é esse. Aparentemente o equilíbrio encontrado pelas pessoas, motivadas pela crença de que não existe alternativa e de que a resolução efectiva dos problemas está para além do seu poder, é o das “big-bands” dos anos 30.

Folia e mais folia, até ao dia em que o problema se resolverá por sua conta, até ao dia...

Mesmo sabendo nós que o alcoólico que afoga os seus problemas em mais álcool dificilmente ultrapassará esse problema.



Primeiro agir, depois... depois logo se verá!...


Lisboa é uma cidade que possui todo o tipo de gente. Entre ela, há um grupo de iluminados. Designo-os assim, com um pouco de ironia, porque por um lado têm a tendência para possuírem soluções pouco fundamentadas para os seus problemas e para os problemas dos outros, e porque por outro lado costuma acontecer de serem efectivamente iluminados não pela razão, mas pelo foco da atenção de terceiros. É assim como nuvens de insectos luminosos a esvoaçar à volta de luzes moribundas.

Os iluminados lisboetas acreditam acerrimamente nas manifestações, nos panfletos, nas palavras de ordem e numa série de outras coisas. Seja qual for a sua crença, mesmo que pouco fundamentada, ela costuma ser acérrima.

Pois eu já dei para o peditório dos panfletos, das palavras de ordem, das manifestações e das crenças acérrimas. O mundo precisa muito menos disso tudo do que de pessoas que pensem bem e pensem com fundamento, o que exige conhecimento. Os iluminados lisboetas julgam-se os supra-sumos do pensamento e do conhecimento, mas não passam de carapaus de corrida. Ao contrário de muitas outras pessoas, falta-lhes a humildade para reconhecer que muitas vezes não sabem pensar e muitas vezes não conhecem. Aliás, em muitos casos e em muitos aspectos são do mais inculto que há.

Mas eles têm dificuldade em ver-se ao espelho. Vivem de ego inchado e vivem do ego inchado. Vivem tão juntos e tão sós que para eles o ego grande é quase tudo. Precisam de ter razão, e precisam da luz da atenção dos outros. E por vezes nem reparam que os outros são eles próprios.

Lutam imenso dentro de um círculo fechado. Sentem-se responsáveis por tudo, comandantes da sociedade dos iluminados e de todos os pacóvios periféricos, e fazem jornais e livros e revistas e blogues e películas e plataformas e folhetos e debates e também panfletos e manifestações para falaram de si a si mesmos.

Pois a minha luta não é essa. Trazer gente às ruas sem preocupação pelas suas lacunas lógicas e cognitivas é pouco frutífero. Um milhão de pessoas mobilizadas de forma errada equivale, na visão curta dos iluminados lisboetas, a um milhão de pessoas mobilizadas. E claramente, segundo a sua lógica, fazer alguma coisa é sempre melhor do que não fazer nada. E pensar e conhecer é para eles muito próximo de quase nada.

A minha luta é pelo conhecimento e pela razão, pela compreensão que deve anteceder a acção. Pela compreensão das causas e das consequências profundas. A minha luta não se faz dentro do círculo fechado das luzes moribundas que se tentam iluminar umas às outras. Faz-se no mundo que está lá fora. A minha luta é junto dos outros que estão a leste disto tudo. E sobretudo, um grande sobretudo, junto dos que querem saber mais e querem pensar melhor, entre os quais me incluo.







quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Fotos do passeio pelo Curro da Velha, Peneda...


Ver aqui.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Aforismos - 5...


Todas as coisas e todas as pessoas contêm em si mesmas aspectos positivos e aspectos negativos. Para nos sentirmos bem temos de atentar aos aspectos positivos. Mas se queremos melhorar algo temos de atentar aos aspectos negativos.