sábado, 27 de agosto de 2011

Eu não sou rico!...

Américo Amorim, acerca do exemplo de algumas pessoas abastadas noutros países que se disponibizaram para contribuir para o equilíbrio das contas públicas dos seus países, disse há dois ou três dias atrás "não me considero rico, sou um trabalhador".

Só por curiosidade, se o Amorim contasse já 50 anos de trabalho ininterrupto, o que não é verdade, e se a sua fortuna resultasse exclusivamente do trabalho, o que também não é verdade, ele teria de ter poupado (poupado, não é ganho!) 6.000.000 € por mês. De facto, ele não é rico, é um trabalhador...

Só por curiosidade, Belmiro de Azevedo, o nosso deus-banqueiro, nas mesmas condições teria de ter poupado 2.000.000 € por mês. Outro trabalhador, que enquanto trabalhador, não pode ser rico.

E é esta escumalha, que com tamanha fortuna e tanta coisa para ser feita neste nosso país e neste nosso mundo (meu deus! tanto por fazer!), a única coisa de que é capaz é apostar em negócios que lhe possam dar ainda mais dinheiro.

Que valores são os desta gente?
E as pessoas que idolatram gente assim, que valores são os seus?
Que valores são estes, que só vêem dinheiro à frente?
Que porra de valores são estes?...


E depois ainda vêm dizer, com ar surpreendido e chocado, que os jovens comportam-se mal porque têm uma "crise de valores"?... Mas que porra de hipocrisia é esta?...

Vergonha...

Enfim, recomendo-vos a leitura deste artigo do jornal "i", que não fui eu que escrevi, e que poderão aferir se está bem ou mal escrito.



Dona Abastança
(Manuel da Fonseca)

«A caridade é amor»
Proclama dona Abastança
Esposa do comendador
Senhor da alta finança.

Família necessitada
A boa senhora acode
Pouco a uns a outros nada
«Dar a todos não se pode.»

Já se deixa ver
Que não pode ser
Quem
O que tem
Dá a pedir vem.

O bem da bolsa lhes sai
E sai caro fazer o bem
Ela dá ele subtrai
Fazem como lhes convém
Ela aos pobres dá uns cobres
Ele incansável lá vai
Com o que tira a quem não tem
Fazendo mais e mais pobres.

Já se deixa ver
Que não pode ser
Dar
Sem ter
E ter sem tirar.

Todo o que milhões furtou
Sempre ao bem-fazer foi dado
Pouco custa a quem roubou
Dar pouco a quem foi roubado.

Oh engano sempre novo
De tão estranha caridade
Feita com dinheiro do povo
Ao povo desta cidade.



Julgam que é brincadeira?... Vejam lá isto:
http://www.ehow.com/how_2272212_organize-charity-gala.html



Só Ouve o Brado da Terra
(José Afonso)

Só ouve o brado da terra
Quem dentro dela
Veio a nascer
Agora é que pinta o bago
Agora é qu'isto vai aquecer

Cala-te ó clarim da morte
Que a tua sorte
Não hei-de eu querer
Mal haja a noite assassina
E quem domina
Sem nos vencer

Cobrem-se os campos de gelo
Já não se ouve
O galo cantor
Andam os lobos à solta
Pega no teu
Cajado, pastor

Homem de costas vergadas
De unhas cravadas
Na pele a arder
É minha a tua canseira
Mas há quem queira
Ver-te sofrer

Anda ver o Deus banqueiro
Que engana à hora e que rouba ao mês
Há milhões no mundo inteiro
O galinheiro é de dois ou três

Sem comentários:

Enviar um comentário