segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Homo gananciosus...



O Homem inventou a agricultura e a pecuária e deixou de necessitar de andar de um lado para o outro a catar plantas e a caçar animais. Milénios de melhoramentos nas espécies de plantas e animais e nas respectivas técnicas de produção e finalmente, já nos séculos XVII e XVIII, a aplicação na agricultura e na pecuária dos avanços científicos, juntamente com o aumento das condições de salubridade, permitiram aumentar a população e o desemprego. Aumentos de produtividade significaram então aumentos de desemprego. Como é natural, parece-me. Mas como o ser humano não se entendeu sobre a apropriação dos benefícios que resultaram de trocar cem trabalhadores agrícolas por uma qualquer máquina, uns ficaram bem melhor, e outros, muitos, ficaram bem pior. O que até foi muito bom para os que tinham ideias sobre a aplicação dos avanços científicos e tecnológicos na extracção de minérios e na transformação de bens. As pessoas foram então exploradas nas fábricas. E isso aconteceu de tal ordem que as pessoas se revoltaram, de um modo que parece não acontecer hoje em dia (hoje as pessoas acreditam que os empregadores são nossos amigos), e conseguiram com a sua luta o estabelecimento de alguns benefícios para si. Mais de um século de avanços científicos e tecnológicos permitiram aumentos brutais da produtividade das fábricas e permitiram transportar os produtos para todos os cantos do mundo. Os aumentos de produtividade permitiram novos aumentos de população e novos aumentos de desemprego. O que fazer com os desempregados todos? Bom, aí começou então a febre dos serviços, do tal sector terciário. Finalmente, nos dias de hoje, os avanços na produtividade e a consequente globalização, geraram um excesso de produtos e um excesso de pessoas desempregadas. A nossa crise não resulta de falta de produtos, resulta, como sempre aconteceu ao longo da história, de uma apropriação desigual dos benefícios do aumento de produtividade. Nunca o mundo, e Portugal também, esteve tão recheado de produtos de todos os tipos. Há supermercados por todos os cantos e todas as suas prateleiras estão repletas. Seria talvez tempo de podermos parar um pouco, descansar um pouco, dedicarmo-nos a uma data de outras coisas que nos deviam dar imenso prazer, como ler, pintar, tocar instrumentos musicais, cantar, conversar, contemplar, jogar jogos, dormir, nadar, apanhar banhos de sol, fazer massagens uns aos outros e fazer outras coisas boas uns aos outros, aprender, construir coisas com as nossas próprias mãos, questionar tudo e todos, pensar, etc, etc, etc. Mas não. O homem continua a não querer entender-se sobre como distribuir os benefícios do nosso mundo. E em vez de gastar as suas energias a debater precisamente isso, prefere libertar as suas energias a "estalar de ansiedade", a bater com o punho na mesa, a despir-se de valores e escrúpulos para se vender a quem oferecer mais, para lutar com um amor à camisola maior que o amor aos próprios filhos por causas que não são sequer as suas. É esta a solução que nos propõem?...

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