quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

O que se aprende sobre as pessoas na travessia do Montijo a Lisboa...



Há poucos dias um amigo meu, o João, contou-me uma histórica caricata e muito reveladora. Uma história verdadeira, que se tinha passado com ele nesse mesmo dia.

Agora que os valores dos salários foram cortados e os preços de tudo aumentaram por uma ou outra causa, o João decidiu passar a vir para o trabalho de transportes públicos. Mora no Montijo e o trabalho é em Lisboa, pelo que vem de barco.

Nesse dia o João chegou ao cais de embarque alguns minutos antes do horário previsto de partida. Como era habitual, já todos se guerreavam sem se tocarem por um lugar mais próximo da porta de embarque. Entretanto, no rio, o barco que chegava de Lisboa, e que voltaria novamente para lá carregado com todos estes passageiros novos, vinha mais lentamente que o habitual. O João estranhou essa marcha lenta.

De repente ouviu pelos altifalantes "senhores passageiros, é favor abandonarem o barco para que este possa partir imediatamente para Lisboa". Que aviso tão estranho!... Reparou então que estava um outro barco atracado no local onde o que chegava de Lisboa deveria atracar. Por isso o barco de Lisboa se aproximava tão lentamente!...

Ainda assim, não compreendeu bem aquele aviso sonoro e não percebeu o que o outro barco fazia atracado ali... Decidiu perguntar o que se passava a uma senhora que aguardava impacientemente. Então a senhora explicou.

O barco que estava atracado já devia ter partido há muito. Na verdade, esse barco devia ter-se cruzado com o que estava a chegar de Lisboa a meio caminho, e devia estar agora a atracar do outro lado do rio. Em vez disso, ainda ali estava porque calhou de entrarem demasiados passageiros para o barco e este ficou com excesso de peso.

Ao constatarem que o barco estava com excesso de peso (não sei quem o fez, nem como... e até me espanta que tenham estado atentos a isso, uma vez que nem se deram ao trabalho de contar os passageiros à entrada) decidiram, e bem, não iniciar a viagem, e pedir aos passageiros que saíssem do barco até que este ficasse com uma carga admissível para poder partir.

Naturalmente, ao ouvirem o aviso sonoro e a explicação, os passageiros do barco, todos eles, não arredaram pé. Para quê ser eu a sair se pode sair aqui o bacano ao meu lado? - devem ter pensado eles todos. E nisto ninguém saiu! E ninguém saiu, e ninguém saiu, e os trabalhadores do cais a pedirem para sairem e nada... e o tempo a passar... e o outro barco a chegar.

O outro barco que estava a chegar de Lisboa ia deixar os seus passageiros, ia carregar passageiros novos, e ia voltar para Lisboa. A única coisa que os passageiros do barco sobre-lotado teriam de fazer era sair, alguns deles, ver o seu barco predilecto a partir com os restantes, esperar que o outro atracasse e deixasse sair os passageiros recém-chegados, e entrar no novo barco. Uma simples troca.

Mas não. Ninguém arredou pé.

E foi assim que, deixados com a liberdade de escolher entre perder 10 minutos em prol de todos os restantes passageiros do barco ou fazer com que todos perdessem 100 minutos, todos optaram por esta segunda possibilidade.

Porque foi isso que aconteceu. Chamaram a polícia, e o problema só se resolveu mais de uma hora depois da hora prevista para a partida do barco. Entretanto o João já estava a chegar ao trabalho... mas de carro!

Uma outra amiga minha, a Raquel, disse há dias, em tom de brincadeira, que a diferença entre um historiador e um antropólogo é que o antropólogo acredita na natureza humana. Pois eu disso não sei muito, mas sei que se quisesse caçar humanos seria muito fácil. Está aqui a explicação:
Link


Quem quiser ver o procedimento mesmo em acção pode ver este vídeo.

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