segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Mandela, uma lição de luta!...



Agora que Nelson Mandela morreu, os adoradores de ídolos e criadores de mitos tratam de dourar as memórias desse homem. De repente já nem homem é, é uma espécie de santo. O que até não fica mal à humanidade, porque já se sabe que os santos conseguem fazer coisas que os homens comuns não conseguem, e assim podemos todos simplesmente ficar sentados no sofá a ver televisão, com a consciência levezinha como um passarinho.

Mandela foi um grande lutador. Lutou por aquilo que acreditava. E quando se acredita, quando se sentem as coisas cá dentro, e se é íntegro, a luta passa a ser uma necessidade, algo que não poderia ser de outro modo.

Quem luta tem sempre inimigos. Mandela teve muitos inimigos e foi considerado um terrorista por muitas pessoas e instituições, por exemplo dos EUA e do Reino Unido. Havia muitas razões para considerar Mandela um terrorista, entre as quais a razão simples de ele ser líder do braço armado do ANC.

Hoje, fruto da tecnologia e da sociedade que temos, sedenta de mitos, Mandela, vencedor de um prémio Nobel da paz (que toda a gente sabe que é uma coisa importantíssima atribuída por quase-deuses) e idolatrado por meio mundo, tem de ser encarado, mesmo que morto, com um sorriso amarelo por todos os seus inimigos que querem continuar a parecer bonitinhos nas fotografias e nas sondagens.

E é assim que se espalha a mensagem de que Mandela foi uma pessoa fora do comum porque, acima de tudo, soube perdoar o seu inimigo. Acima de tudo... perdoou!...

É evidente que esta tinha de ser a mensagem a transmitir, por todos os seus inimigos poderosos em todo o mundo, a toda a população que tem fé em homens maiores que os outros homens e que podem fazer as coisas por eles. O sujeito é fenomenal porque perdoou. A lição é clara: queres ser uma boa pessoa? então perdoa. Perdoa, e lembra-te que afinal não há inimigos, afinal somos todos amigos, muito amiguinhos e estamos todos a trabalhar para ficarmos todos melhor, certo?...

E é assim que num ápice se esquece que Mandela afinal era apenas um homem, que lutou com muita força por causas justas em que acreditava muito. É assim que de repente se esquece que Mandela foi um lutador. É assim que de repente já ninguém sabe por que é que Mandela andou a lutar.

É assim que se esquece que este homem, depois de ter liderado o braço armado do ANC, de ter sido acusado de muitos crimes, de ter estado preso pelo sistema racista da África do Sul durante 21 anos, renunciou à sua libertação condicional que o obrigaria a renunciar à violência como um meio para conseguir a mudança em África do Sul.

Mandela não renunciou ao uso de todos os meios que tinha ao seu dispor para lutar contra algo que era essencialmente mau, do mesmo modo que ninguém no seu juízo renunciará a utilizar tudo o que estiver ao seu dispor para impedir que outra pessoa a mate.

Seria bom pensar que o seu legado, em vez de se cingir ao perdão, e muito antes disso, passaria primeiro pela aprendizagem e pela interiorização do conceito de justiça e do conceito irmão de solidariedade, os quais em conjunto nos fazem sentir a necessidade de combater a injustiça, toda a injustiça que há no mundo, e depois pela concretização desse sentimento, isto é, pela luta efectiva. Só quando a injustiça está sanada é que chega o tempo de perdoar.


Deixo-vos com uma citação tirada deste trabalho da ONU "Nelson Mandela - in his words" cuja leitura recomendo. Para os discursos completos, seguir os links desta página.



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