A origem do mundo. Gustave Courbet, 1866.
1 - O episódio, que é o que menos interessa...
No passado domingo, na praia de Matosinhos, depois de ter jogado à bola (com o pé e com a mão, embora não ao mesmo tempo) e de, cheio de calor, ter temperado (como o aço rubro) na água fria do mar, dirigi-me para o balneário, a terceira rocha junto ao paredão do porto de Leixões a contar do mar, para me vestir e ir embora. Depois de, já em criança, ter chegado à conclusão que fazer um grande esforço para trocar de calções com uma toalha à volta é uma inutilidade, adquiri o hábito de trocar de calções sem toalha à volta. Além de ser muitíssimo mais prático, permite arejar melhor os tintins e deste modo secá-los. Porque também não é nada prático, nem cómodo, nem higiénico, vestir cuecas e calças com os tintins ainda húmidos. Finalmente, faço-o também para aproveitar uns segundos que seja sem roupa a tolher-me os movimentos.
A ponta de um dedo, enquanto fazia nudismo numa
praia perto da Zambujeira do Mar em 2009.
Gosto de me sentir nu. Gosto da sensação de não ter nada a apertar-me ou a alterar aquilo que no fundo sou. Gosto de ter a pele toda à mostra, e os pêlos todos. De passar a mão na pele da cara e de poder deslizar num contínuo até aos pés, sentindo que cabeça e pés partilham o mesmo embrulho e fazem parte do mesmo corpo, do meu corpo, muito uno. Sem sentir que a cabeça está aqui, as mãos acolá, os pés mais adiante, com botões e cintos e fivelas e colarinhos e elásticos e cordões pelo meio.
Por isso mesmo às vezes aproveito, quando estou em casa e há condições para isso, para andar nu. E porque tenho o sono leve, infelizmente, e porque rodopio na cama durante a noite e o pijama se enrola todo transformando-se em camisa de forças, durmo sempre nu.
As condições para me pôr nu em casa incluem não ter de fazer uma actividade que ponha em risco a integridade física da pele (que feliz ou infelizmente é delicada, como em quase toda a gente), não correr o risco de gelar de frio, e ter a expectativa de estar sozinho e invisível para os outros durante um bom bocado.
Desde cedo, desde criança, como atrás referi..., que aprendi as normas sociais desta questão. Aprendi que devo trocar de calções na praia com uma toalha à volta não por minha causa, mas por causa dos outros, porque eles podem não gostar. Mais tarde, aprendi com bastante surpresa... eu diria mesmo choque, que se pode ser preso por andar nu na rua. Para mim isso levantou uma série de questões de difícil resposta: e se a pessoa não tiver mesmo nada para vestir? e se, por exemplo, os amigos lá da rua me fizerem uma "barrela" (como eles chamavam à brincadeira idiota de tirar a roupa toda a uma pessoa e deixá-la nua no meio da rua... o termo existe no meu dicionário e está associado com as lavagens de roupa à moda antiga, em que inclusivamente se procedia ao branqueamento com cinzas)? e porque é que a pessoa há-de ir presa? que mal é que ela estará a fazer aos outros?...
Bom, com mais ou menos questões em aberto às quais os adultos não me sabiam responder cabalmente, eu aprendi. Mais tarde, porém, aprendi que, como alguém dizia, é importante saber as normas para poder quebrá-las. E comecei a quebrar as normas, com conhecimento delas. Percebi que a nudez interessa a praticamente toda a gente. Que quando uma pessoa se apresenta nua à sua frente, é-lhes muito difícil não analisar o seu corpo, e sobretudo os seus órgãos genitais (a mim também... e não evito... olho e analiso e já está!... qual é o problema?... mas acredito que se a nudez fosse mais normal na nossa sociedade, também o interesse em olhar e analisar seria menor). Percebi que isso pode fazer as pessoas pensar no seu próprio corpo, ou no de outros, e isso pode desencadear sentimentos de ciúme, de inveja, de desejo... Isso pode fazer as pessoas pensar em sexo. Em casos que me parecem doentios, isso pode fazer as pessoas terem repulsa, como se sentissem que é errado termos órgãos genitais agarrados ao corpo, ou como se tivessem nojo desses órgãos, no seu próprio corpo ou em corpos alheios.
Aprendi e percebi. E porque não desejo morrer novo, de cada vez que tiro os calções em público, faço por avaliar o contexto: estou na praia ou numa reunião com o chefe? quantas pessoas estão à minha volta? de que meio cultural serão e como avaliarão a nudez?...
Neste domingo, depois de uma olhadela à volta, constatando que não havia crianças por perto e que para além de uma mulher, que estava sentada a olhar o mar de costas para mim, só havia um grupo de homens já com alguma idade, pensei que não iria chocar ninguém. Estava no "balneário", num círculo formado por três amigos. Tirei os calções, e enquanto espremia o fato de banho, achava um sítio para o guardar, procurava a toalha para me secar e depois as cuecas para vestir, algo que deve demorar um loooongo minuto, aproveitei para deixar os tintins secar. Não me virei para fora do círculo, não fiz o pino e não anunciei em voz alta a chegada do novo profeta. Mas de qualquer modo, assim que eu me estava a começar a secar com a toalha, comecei a ouvir bocas que, ao fim de uns segundos, me pareceram serem a propósito da minha nudez. Ainda não tinha olhado para investigar melhor e estava a pensar "deve ser um amigo de alguém, a gozar com a situação...". Levantei a cabeça, certamente com um ar estúpido, ao mesmo tempo intrigado e pronto para entrar na brincadeira, e reparei que as bocas vinham de um homem que estava deitado numa toalha, entre amigos que estavam de pé, a uns dez metros de distância.
Na praia da Memória, Matosinhos, em 2013.
Foto de Rui Franco, que me cortou o pé.
Esta é mesmo a gozar a situação!... Então e agora! :)
(deves julgar-te muito lindo, deves!)
Para quem gosta de apreciar os genitais dos outros, um loooongo minuto é imenso tempo! Dá tempo para atentar, por entre as pernas próximas dos próprios amigos e por entre as pernas distantes dos amigos alheios, ao modo exibicionista que tem alguém que está a secar os tintins entre a mudança de vestuário molhado para vestuário seco. E o meu ar certamente idiota perante tais bocas deve ter parecido a esse homem uma verdadeira afronta, porque imediatamente a seguir ele estava a oferecer-me porrada, à boa maneira nortenha. Por entre as coisas que ele foi dizendo, que eu não fixei, lembro-me de ter referido qualquer coisa acerca de crianças e senhoras...
Assim que eu percebi que as bocas eram mesmo a sério, liguei o meu modo "evitar conflitos": desviei o olhar, coisa que qualquer etólogo compreenderá bem, ignorei e continuei a fazer o que estava a fazer que era, de qualquer modo, vestir-me. O homem continuou com as suas bocas, até que eu já estava com ar apresentável e ele finalmente acalmou-se.
Quando, passados uns cinco minutos, arranquei em direcção às ruas de Matosinhos, tentei olhar nos olhos o meu agressor, para lhe dizer simplesmente "está tudo bem... talvez para a próxima não seja necessário dedicar-me tanta violência verbal e ameaçar-me de violência física", mas ele refugiou-se no seio do seu grupo, certamente sem saber bem que atitude assumir agora que eu era, afinal, um ser igual a ele.
2 - O respeito...
O que é o respeito?... Há pouco tempo fiz um exercício para tentar definir para mim mesmo o que é o respeito, se o respeito é uma coisa boa ou má em si mesma ou em que circunstâncias pode ser considerado uma coisa boa ou má... Eu saí do exercício mais confundido do que quando entrei. No fundo, percebi que não percebo bem o que é o respeito. No meu dicionário as definições alternativas para respeito são as seguintes: acto ou efeito de respeitar (o que é quase uma tautologia digna de um bom dicionário, porque afinal os dicionários são tautologias), consideração, deferência, acatamento, veneração, homenagem, culto, apreço, submissão, temor, relação, reverência, importância, aspecto, consideração, ponto de vista. E creio que dá para perceber, logo à partida, que este não é um assunto fácil.
Para mim as palavras não têm valor em si. E se esta palavra é uma confusão, eu prefiro deitá-la fora e utilizar outra. Ou utilizar um conceito, mesmo que não possa ser sintetizado numa só palavra, que melhor exprima o que quero dizer.
O que está em causa no caso da nudez pública (porque creio que ninguém levantará sérias objecções à nudez privada) é fazermos algo que pode causar danos directos ou indirectos, imediatos ou desfasados no tempo, aos outros.
Facilmente entenderemos que este é um assunto polémico, onde as opiniões se dividem. E a conversa tenderá a seguir por aí...
Só que ao fazê-lo, ao centrar a conversa nas consequências da nudez pública, estamos a esquecer outros aspectos relativamente simples desta mesma questão. Por exemplo: se eu quiser andar nu na praia e não puder porque causo dano nos outros, isso causa-me dano a mim também. E qual é o dano maior? Quando alguém coloca a música muito alta num local público, isso pode incomodar os outros, e eu sou da opinião que o direito ao silêncio deve prevalecer. Mas tenho essa opinião porque por um lado é difícil evitar o som alto dos outros, e por outro há imensas oportunidades para ouvir som alto em público (demasiadas, segundo os meus padrões!). Quanto à nudez, basta não olhar, e o assunto ficará resolvido. E não há possibilidades alternativas para a nudez pública. Assim, não será também a reacção das pessoas uma violência sobre quem deseja andar nu?
Numa sociedade onde se apregoa aos quatro ventos o direito e o respeito (lá vamos nós!) à diferença, o que eu noto é que cada vez menos uma pessoa tem o direito de ser diferente. Há uma coisa que se define com uma clareza cada vez maior à medida que as décadas e os séculos avançam: um pensamento dominante. E esse pensamento dominante, que se imiscui no nosso pensamento sem darmos por isso desde bebés, é, como sempre foi, naturalmente avesso à diferença.
Finalmente, há a questão óbvia de resolver o assunto com porrada.
3 - O problema da nudez, finalmente...
As pessoas que se importunam com a nudez alheia sentem sempre uma necessidade de o justificar com o efeito nefasto que isso provoca em terceiros. Quando se lhes pergunta "mas qual é o teu problema?", elas sistematicamente não têm problema algum, os outros é que podem ter!
E quem são esses outros a quem a nudez pode causar dano? São sistematicamente apontados os entes mais coitadinhos da comunidade humana, os mais frágeis, os mais inocentes, os mais permeáveis às podridões do espírito, os mais puros: as crianças, sempre em primeiro lugar, e depois as mulheres. Os homens, esses nunca têm problema algum com a nudez, porque assim como assim já são podres de espírito por natureza, tarados sexuais por definição. Os velhos, esses, nunca são mencionados nestas conversas.
Numa pequena albufeira ao norte de Madrid, em 2006.
Todas as pessoas nesta foto, homens e mulheres
nos seus 20 anos, estão nus.
E que danos são esses que a nudez pode causar nessas pessoas castas? São os danos todos que associamos ao sexo e à carne: a inveja, o ciúme, o convite à facada, a pedofilia, o adultério, o incesto, a homossexualidade, e sabe Deus que outras coisas pérfidas e odiosas!... Tudo isso pode ser senão causado, pelo menos provocado pela simples visão da nudez alheia!
Isso é o que nos dizem uma vez após outra as pessoas que se insurgem quando vêm os pêlos púbicos doutro. Mas terá isso tudo alguma adesão à realidade?...
Dito de uma forma simples, para não me estender muito sobre isto, a resposta é: não. Não, a ideia de que a visão da nudez alheia pode provocar esse tipo de danos não tem qualquer fundamento. Pelo contrário, há imensas provas precisamente do contrário, isto é, que a visão ocasional ou sistemática da nudez alheia não causa nenhum desses danos (aliás, nem sequer muitos desses "danos" são efectivamente danos, e os que o são, são-no discutivelmente). E já apresentarei alguns exemplos.
Se, para já, admitirmos como verdadeiro o que acabei de afirmar, então seremos forçados a concluir que o problema que a nudez causa nas pessoas está precisamente na cabeça das pessoas. As pessoas objectam à nudez alheia porque não estão habituadas, porque têm medo, porque elas próprias têm algum desvio relativamente a uma atitude saudável perante o corpo humano e a sexualidade ou por outra razão qualquer, mas sempre por alguma coisa que está apenas e só dentro da sua cabeça.
E para quem, como eu, sabe que não tem um corpo fantástico, mas simplesmente gosta de uma vez por outra andar nu, e até prefere evitar confusões fazendo-o sozinho, ter de sentir o modo como os outros lhe colocam limitações à sua liberdade, baseados em problemas mentais sem adesão à realidade... bom... é um pouco frustrante...
Mas enfim... transige-se!
Que remédio!... Senão ainda acordamos mortos!
Vejamos então alguns fundamentos para a tese de que a visão da nudez alheia não causa danos nos outros, para lá do desconforto que pode causar olhar para algo de que não se gosta, como roupa feia, a menos que os outros tenham já à partida problemas com a sexualidade ou algo do género.
Em primeiro lugar, há que considerar que o homem é um bicho e nem sempre andou vestido. Aliás, a julgar pelo que é dito no programa da BBC que apresento em baixo, durante a maior parte da história da humanidade, a nossa espécie viveu e conviveu completamente pelada. E não consta que tenha ocorrido nada de muito grave, porque enquanto espécie, ela singrou.
Podem seguir os links para ver este programa da BBC desde o início. No programa também se avançam as teses de que a nudez pode pôr em causa a estabilidade dos casais e assim de toda a sociedade, de que é possível habituarmo-nos à nudez, de que ninguém nasce com modéstia sexual e de que podemos criar novas regras sociais, entre outras.
Em segundo lugar é necessário considerar que, conforme o programa anterior refere de passagem, as pessoas não nascem com qualquer conceito sobre a nudez dentro de si. Nem sobre roupas!... E enquanto os instintos sexuais surgem naturalmente, a seu tempo, as ideias sobre vestuário ou sobre nudez são integralmente adquiridas pelo meio social onde se vive.
Daí resulta que as pessoas que menos problemas têm com a nudez são precisamente as crianças. Era o que faltava uma criança ficar chocada por ter vindo ao mundo através da vagina da mãe, ou ficar relutante em chupar o mamilo de uma mama que se lhe apresente.
Em terceiro lugar, e em consequência do que foi dito, as nossas reacções à nudez são obrigatoriamente culturais. E a comprová-lo estão todas as culturas que ainda no momento presente consideram a nudez o estado normal das coisas. E não consta que sejam sociedades de tarados.
Em quarto lugar posso referir experiências como a da escola de Summerhill, uma escola muito diferente onde os alunos têm mais poder do que nas escolas comuns. Conheci este projecto há já muitos anos através do livro "Liberdade sem medo" que recomendo vivamente (aqui uma versão em inglês), do qual retiro o seguinte excerto:
"Nudity
Many couples, especially among the working class, never see each other’s bodies until one of them dresses the other’s corpse. A peasant woman I knew was a witness in a court case of exhibitionism. She was genuinely shocked. “Come, come, Jean:’ I chided her. “Why, you’ve had seven children.”
“Mr. Neill,” she said solemnly, “I never saw John’s...I never saw my man naked all my married life.”
Nakedness should never be discouraged. The baby should see its parents naked from the beginning. However, the child should be told when he is ready to understand that some people don’t like to see children naked and that, in the presence of such people, he should wear clothes.
There was the woman who complained because our daughter bathed in the sea au naturel. At the time, Zoe was one year old. This matter of bathing tersely sums up the whole anti-life attitude of society. We all know the irritation arising from trying to undress on the beach without exposing our so-called private parts. Parents of self-regulated, free children know the difficulty of explaining to a child of three or f
our why he must wear a bathing suit in a public place.
The very fact that the law does not permit exposure of the sex organs is bound to give children a warped attitude toward the human body. I have gone nude myself, or encouraged one of the women on the staff to do so, in order to satisfy the curiosity of a small child who had a sense of sin about nakedness. On the other hand, any attempt to force nudism on children is wrong. They live in a clothed civilization, and nudism remains something that the law does not permit.
Many years ago, when we came to Leiston, we had a duck pond. In the morning, I would take a dip. Some of the faculty and the older girls and boys used to join me. Then we got a batch of boys from private schools. When the girls took to wearing bathing suits, I asked one, a pretty Swede, why.
“It’s these new boys:’ she explained. “The old boys treated nudity as a natural thing. But these new ones leer and gape and --well, I don’t like it” Since then, the only communal nude bathing has been done during the evening trips to the sea.
One would think that being brought up free, the children in Summerhill would run about naked in summer. They don’t. Girls up to the age of nine will remain nude on a hot day, but small boys seldom do. This is puzzling when one takes into consideration the Freudian statement that boys are proud of having a penis while girls are ashamed of not having one.
Our small boys at Summerhill show no desire to exhibit themselves and the senior boys and girls hardly ever strip. During the summer, the boys and men wear only shorts without shirts. The girls wear bathing suits. There is no sense of privacy about taking baths, and only new pupils lock bathroom doors. Although some of the girls take sunbaths in the field, no boys ever think of spying on them.
I once saw our English teacher digging a ditch in the hockey field, assisted by a group of helpers of both sexes ranging in age from nine to fifteen. It was a hot day and he had stripped. Another time, one of the men on the staff played tennis in the nude. At the School Meeting he was told to put on his pants in case tradesmen and visitors should happen by. This illustrates Summerhill’s down-to-earth attitude toward nudity.
Pornography
All children are pornographic, sometimes openly, other times secretly. The least pornographic are those who have had no moral taboos about sex in their infancy and early childhood I am sure that later on our pupils from Summerhill will be less inclined toward pornography than children brought up under hush-hush method. As one boy said to me when he came back for a visit during his vacation from the university, “Summerhill spoils you in one way. You find chaps of your own age too dull. They talk about things I grew out of years ago”
“Sex stories?” I asked. “Yes, more or less. I like good sex stories myself, but the one they tell are crude and pointless. But it isn’t only sex. It’s other things, too - psychology, politics. Funny, I find myself tending to chum with fellows who are ten years older than I am.”
One new boy at Summerhill, who had not outlived the smutty phase of his prep school, tried to be pornographic. The others shut him up not because he was being pornographic but merely because he was sidetracking an interesting conversation.
Some years ago we had three girl pupils who had passed through the usual stage of talking out forbidden topics. Later, a new girl came to Summerhill and was assigned to a room with these three girls. One day, this new girl complained to me that the three other girls were dreadfully dull companions. “When I talk about sex things in the bedroom at night, they tell me to shut up. They say they are not interested.”
It was true. Naturally, they had an interest in sex but not in its hidden aspect. These girls had had their conscience about sex as a dirty subject destroyed. To a new girl, fresh from the sex talk of a girls’ school, they appeared to be highly moral. And they really were highly moral, for their morality was founded on knowledge--not on a false standard of good and bad.
Children who are freely brought up about sex matters have an open mind about so-called vulgarity. Some time back, I heard a vaudevillian in the London Palladium who sailed very near the wind in a breezy Elizabethan manner. It struck me then that he got laughs from his audience that he couldn’t have got from the Summerhill crowd. Women shrieked when he mentioned ladies’ undergarments, but Summerhill children would not consider such remarks at all funny.
Once, I wrote a play for the kindergarten children. It was quite a vulgar play about a woodcutter’s son who found a hundred-pound note and ecstatically showed it around to his family, including the cow. The dumb beast swallowed it, and all the family’s efforts to get the cow to drop the note proved futile. Then the boy conceived a brilliant idea. They would open a booth at a fair, and charge a shilling for two minutes of attendance. If the cow dropped the money during someone’s attendance, that person would win the
money.
The play would have brought down the house in a West End music hall. Our children, however, took it in their stride. Indeed, the actors (six to nine years old) saw nothing funny in it at all. One of them, a girl of eight, told me that I was silly not to use the proper word in the play; of course, she meant what other people would call an improper word.
The free child is not likely to suffer from voyeurism at Summerhill. Our pupils do not snigger or feel guilty when a film shows a toilet or mentions birth. Every now and then we have an epidemic of writing on toilet walls. To a child, the toilet is the most interesting room in any house. The toilet seems to inspire many writers and artists, which is natural when one considers that the bathroom is a place for creation.
It is a fallacy that women are more pure-minded than men. A man’s club or bar, however, is much more likely to be pornographic than a woman’s club. The vogue of the risque story is entirely due to its unmentionableness. In a society without sex repressions, the unmentionable would disappear. At Summerhill, nothing is unmentionable and no one is shockable. Being shocked implies having an obscene interest in what shocks you.
Those people who cry in horror, “What a crime to rob little children of their innocence!” are ostriches hiding their heads in the sand. Children are never innocent, though they are often ignorant. And the ostriches fly into hysterics over depriving the child of ignorance.
The most suppressed child is really not ignorant about much. His contact with other children gives him that dreadful “knowledge” that miserable little kids give to each other in dark corners. For those who have been at Summerhill since an early age, there are no dark corners. These children do have an interest in sex matters, but it is not an unhealthy interest. Such children have a really clean attitude toward life."
Many couples, especially among the working class, never see each other’s bodies until one of them dresses the other’s corpse. A peasant woman I knew was a witness in a court case of exhibitionism. She was genuinely shocked. “Come, come, Jean:’ I chided her. “Why, you’ve had seven children.”
“Mr. Neill,” she said solemnly, “I never saw John’s...I never saw my man naked all my married life.”
Nakedness should never be discouraged. The baby should see its parents naked from the beginning. However, the child should be told when he is ready to understand that some people don’t like to see children naked and that, in the presence of such people, he should wear clothes.
There was the woman who complained because our daughter bathed in the sea au naturel. At the time, Zoe was one year old. This matter of bathing tersely sums up the whole anti-life attitude of society. We all know the irritation arising from trying to undress on the beach without exposing our so-called private parts. Parents of self-regulated, free children know the difficulty of explaining to a child of three or f
our why he must wear a bathing suit in a public place.
The very fact that the law does not permit exposure of the sex organs is bound to give children a warped attitude toward the human body. I have gone nude myself, or encouraged one of the women on the staff to do so, in order to satisfy the curiosity of a small child who had a sense of sin about nakedness. On the other hand, any attempt to force nudism on children is wrong. They live in a clothed civilization, and nudism remains something that the law does not permit.
Many years ago, when we came to Leiston, we had a duck pond. In the morning, I would take a dip. Some of the faculty and the older girls and boys used to join me. Then we got a batch of boys from private schools. When the girls took to wearing bathing suits, I asked one, a pretty Swede, why.
“It’s these new boys:’ she explained. “The old boys treated nudity as a natural thing. But these new ones leer and gape and --well, I don’t like it” Since then, the only communal nude bathing has been done during the evening trips to the sea.
One would think that being brought up free, the children in Summerhill would run about naked in summer. They don’t. Girls up to the age of nine will remain nude on a hot day, but small boys seldom do. This is puzzling when one takes into consideration the Freudian statement that boys are proud of having a penis while girls are ashamed of not having one.
Our small boys at Summerhill show no desire to exhibit themselves and the senior boys and girls hardly ever strip. During the summer, the boys and men wear only shorts without shirts. The girls wear bathing suits. There is no sense of privacy about taking baths, and only new pupils lock bathroom doors. Although some of the girls take sunbaths in the field, no boys ever think of spying on them.
I once saw our English teacher digging a ditch in the hockey field, assisted by a group of helpers of both sexes ranging in age from nine to fifteen. It was a hot day and he had stripped. Another time, one of the men on the staff played tennis in the nude. At the School Meeting he was told to put on his pants in case tradesmen and visitors should happen by. This illustrates Summerhill’s down-to-earth attitude toward nudity.
Pornography
All children are pornographic, sometimes openly, other times secretly. The least pornographic are those who have had no moral taboos about sex in their infancy and early childhood I am sure that later on our pupils from Summerhill will be less inclined toward pornography than children brought up under hush-hush method. As one boy said to me when he came back for a visit during his vacation from the university, “Summerhill spoils you in one way. You find chaps of your own age too dull. They talk about things I grew out of years ago”
“Sex stories?” I asked. “Yes, more or less. I like good sex stories myself, but the one they tell are crude and pointless. But it isn’t only sex. It’s other things, too - psychology, politics. Funny, I find myself tending to chum with fellows who are ten years older than I am.”
One new boy at Summerhill, who had not outlived the smutty phase of his prep school, tried to be pornographic. The others shut him up not because he was being pornographic but merely because he was sidetracking an interesting conversation.
Some years ago we had three girl pupils who had passed through the usual stage of talking out forbidden topics. Later, a new girl came to Summerhill and was assigned to a room with these three girls. One day, this new girl complained to me that the three other girls were dreadfully dull companions. “When I talk about sex things in the bedroom at night, they tell me to shut up. They say they are not interested.”
It was true. Naturally, they had an interest in sex but not in its hidden aspect. These girls had had their conscience about sex as a dirty subject destroyed. To a new girl, fresh from the sex talk of a girls’ school, they appeared to be highly moral. And they really were highly moral, for their morality was founded on knowledge--not on a false standard of good and bad.
Children who are freely brought up about sex matters have an open mind about so-called vulgarity. Some time back, I heard a vaudevillian in the London Palladium who sailed very near the wind in a breezy Elizabethan manner. It struck me then that he got laughs from his audience that he couldn’t have got from the Summerhill crowd. Women shrieked when he mentioned ladies’ undergarments, but Summerhill children would not consider such remarks at all funny.
Once, I wrote a play for the kindergarten children. It was quite a vulgar play about a woodcutter’s son who found a hundred-pound note and ecstatically showed it around to his family, including the cow. The dumb beast swallowed it, and all the family’s efforts to get the cow to drop the note proved futile. Then the boy conceived a brilliant idea. They would open a booth at a fair, and charge a shilling for two minutes of attendance. If the cow dropped the money during someone’s attendance, that person would win the
money.
The play would have brought down the house in a West End music hall. Our children, however, took it in their stride. Indeed, the actors (six to nine years old) saw nothing funny in it at all. One of them, a girl of eight, told me that I was silly not to use the proper word in the play; of course, she meant what other people would call an improper word.
The free child is not likely to suffer from voyeurism at Summerhill. Our pupils do not snigger or feel guilty when a film shows a toilet or mentions birth. Every now and then we have an epidemic of writing on toilet walls. To a child, the toilet is the most interesting room in any house. The toilet seems to inspire many writers and artists, which is natural when one considers that the bathroom is a place for creation.
It is a fallacy that women are more pure-minded than men. A man’s club or bar, however, is much more likely to be pornographic than a woman’s club. The vogue of the risque story is entirely due to its unmentionableness. In a society without sex repressions, the unmentionable would disappear. At Summerhill, nothing is unmentionable and no one is shockable. Being shocked implies having an obscene interest in what shocks you.
Those people who cry in horror, “What a crime to rob little children of their innocence!” are ostriches hiding their heads in the sand. Children are never innocent, though they are often ignorant. And the ostriches fly into hysterics over depriving the child of ignorance.
The most suppressed child is really not ignorant about much. His contact with other children gives him that dreadful “knowledge” that miserable little kids give to each other in dark corners. For those who have been at Summerhill since an early age, there are no dark corners. These children do have an interest in sex matters, but it is not an unhealthy interest. Such children have a really clean attitude toward life."
(Texto completo aqui)
É muito interessante o aspecto salientado pelo autor acerca do modo como as crianças, e eu acrescento todas as outras pessoas, ligam menos às coisas quando estão habituadas a elas...
Mas para quem achar que isto é apenas um caso isolado, um exemplo sem paralelo, um ensaio sem fundamento, eu apresento então um estudo científico com um pouco mais de rigor. Chama-se "Early childhood exposure to parental nudity and scenes of parental sexuality ("primal scenes"): an 18-year longitudinal study of outcome." e está disponível aqui. O estudo aponta precisamente que não há efeitos significativos da exposição das crianças à nudez dos pais ou à sua sexualidade.
E enfim... para quem se interessar por isto, até o artigo da wikipedia sobre a nudez é um bom ponto de partida!... A mim dá-me vontade de dizer: escuta, Zé ninguém!...
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