Sofro de síndrome de domingo
desde que foi decretado
o recolher obrigatório.
As ruas sempre são o único espaço
onde posso ser sem pedir desculpa,
sem pagar renda e sem ser por favor.
As ruas são veias de liberdade
que me transportam pelo corpo todo
à minha velocidade.
Mas o sangue do espaço
foi substituído pela combustão interna
e a velocidade dos outros
impôs-se à minha.
Sou agredido nos sete sentidos
pelos cheiros, pelos perigos,
pelos latidos
dos alarmes caninos,
pelos ruídos.
Excepto nestes dias
de recolhimento obrigatório,
onde obrigatoriamente me recolho
na minha casa:
nas ruas.
E temo a segunda-feira que virá.
awf
Angra do Heroísmo
30/04/2020
awf
Angra do Heroísmo
30/04/2020
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