sábado, 21 de setembro de 2024

A razão vai à guerra...

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Há poucos dias assisti à projecção de três curtas metragens sobre a Faixa de Gaza, mais concretamente sobre a dificuldade de acesso a esse território em missões de solidariedade em momentos anteriores a 2023.

No final da sessão houve um debate, que foi mais uma discussão, suscitada pela intervenção de uma pessoa que alertava para a necessidade de termos em consideração a perspectiva dos israelitas e a eventual legitimidade de acções consideradas "de defesa" por parte de um povo que "nunca começou uma guerra".

Disse então, com o coração na boca, que me chocava que a humanidade passasse o tempo a encontrar justificações para as barbáries, em vez de passar o tempo a construir a paz.

Reitero agora que me choca profundamente que a humanidade perca sequer tempo em discussões daquele tipo. Há pessoas a morrer e outras a ficarem com as suas vidas destruídas. Discutimos para quê? Para saber quem tem razão?... Para irmos para casa de ego cheio? Para justificarmos mais uma barbárie?

Todas as guerras de que temos conhecimento e que ocorrem à distância parecem suscitar este tipo de debates. Razão, razão, razão, razão... Parece ser sempre uma questão da razão, que razão é essa, quem tem a razão, quem é que começou, e quando é que começam as nossa justificações, se há dez anos, ou vinte, ou cem, ou mil...

É profundamente triste que assim seja. Como se o resultado da discussão fosse um carimbo de conformidade na destruição deste ou daquele lado, na morte desta ou daquela pessoa, uma determinação da barbárie que é legítima e portanto deixa de o ser, e da que é ilegítima e portanto passa a ser terrorismo.

Devíamos ter vergonha. Muita vergonha.

O facto de um território do planeta ser hoje ocupado por A quando antes era por B não devia nunca conferir o direito a B para matar A. Nem o facto de um membro do grupo X ter morto um membro do grupo Y devia alguma vez conferir o direito a membros do grupo Y matarem membros do grupo X.

Enquanto as discussões continuarem a ter este teor, o futuro da humanidade parece-me condenado.

Quando existem guerras, as discussões deviam ser sempre centradas na necessidade urgente de as terminar. E as guerras não se terminam nunca com mais guerras.

Uma das propostas que avancei durante esse debate no sentido de evitar esta e outras guerras foi o da não produção de armas e o da não transformação das guerras em montras e postos de vendas de armas onde algumas pessoas e instituições lucram enormes quantias. Alguns presentes no debate consideraram a proposta irrealista.

Enquanto a humanidade continuar a considerar irrealista a limitação ou extinção da produção e venda de armas sofisticadas (como são as armas das guerras de que falamos), estará ao mesmo tempo a aceitar que as guerras são inevitáveis e a legitimar a barbárie.

Entretanto, para se entreterem, vão discutindo quem tem mais razão. Razão e mortes ao quilo e à tonelada.

É triste.

Anda Sérgio:

"Ai ó linda, será que ainda
vou ter de voltar a assistir
a discussões fundamentais
onde as pauladas são verbais
e as conclusões são sempre iguais
..."

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