Sou como um rio
Que corre ao contrário
Do todo ao nada
Na procura de mim,
do meu eu solitário
Subo contra a corrente
e a cada afluência
me aparto
de um bocado que sou.
Aperta-se o caminho
e aperta-me a angústia
de não saber se é certeiro
este frio ribeiro
que percorro sozinho.
Meu deus,
por onde vou?
E salto e mergulho
e pulo falésias
ascendente
e me aparto e liberto
e me vejo mais claro
cada vez mais claro
a cada afluente
e mais limpo e mais puro
e mais transparente
e porém...
A cada acalmia
a razão indaga
e o coração sente,
a questão recorrente
de uma alma
olhando-se ao espelho
perguntando
se é esta água fria
o sumo de onde veio.
E assim...
Permanentemente
batalho o tempo
e percorro o espaço
à procura de mim.
E salto e mergulho
e pulo falésias
cada vez mais claro
e contorno penedos
e perco afluentes
cada vez mais puro
e mais transparente
e procuro...
e batalho...
onde estou?
quem sou eu?...
E quando fatigado
finalmente paro,
deito-me em mim,
em mim me lavo.
Descanso-me.
Refaço-me.
Daquilo que sou
bebo força e alento.
E já saciado
levanto-me,
enfrento-me,
e descubro de novo
o que me faz correr
como um rio ao contrário:
que a sensação de ser quem sou
é só um acaso temporário.
AWF, Lisboa e Aveiro, 28 Setembro 2010
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
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