Vejo-me obrigado, apesar de ninguém me obrigar, a voltar a este assunto. Várias pessoas me manifestaram opiniões diversas a respeito do assunto em epígrafe. O que é óptimo! Seria bom se fosse sempre assim. Uma nota mais então, embora sucinta.
Uma opinião comum é a de que as actividades com touros em que não há sangue não pertencem à mesma classe das actividades com touros em que há sangue. Coloca-se a ênfase no sofrimento do touro, se ele sofre muito, se sofre pouco, se lhe faz bem, se lhe faz mal...
A razão da minha crítica não vem do sofrimento do touro. O problema, como o vejo, não está no touro, mas em nós, seres humanos. É uma questão subtil, que apela a uma sensibilidade um pouco mais fina. Sendo mais radical, isto é, indo à raiz do problema, ela está em sermos capazes de retirar gozo da utilização, do usufruto, em proveito próprio, de outros seres mais vulneráveis do que nós. A importância disso, cada um julgará por si.
Que o ser humano o faça, não me supreende. Como me poderia surpreender algo que é feito em nauseabunda abundância todos os dias por quase todos? Rimo-nos do sujeito que escorrega e cai no passeio. Mas também gostamos de ter os pássaros presos na gaiola. E gostamos que os nossos filhos cresçam à nossa imagem. E no trabalho então... Somos bichos que gostamos do poder. Como dizia o outro, mesmo sendo os poderosos, tão fracos e gulosos, que precisam do poder...
Poderosos a divertirem-se à custa de mais frágeis é algo em que eu tenho alguma dificuldade em encontrar beleza. Mas tudo bem. Algum dia perguntaremos ao touro se pretende inverter os papéis. E ele, na sua brutalidade, irá possivelmente dar meia volta e irá pastar para o campo. Este tipo de divertimentos macabros é, tanta ironia, exclusivo dos inteligentes.
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
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