sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Os touros e os macacos...


Os touros e os macacos sempre se deram muito bem, diz o senhor Moita Flores. Desde tempos imemoriais, aliás! E que continua a ser assim temos aí essa bela foto, onde não falta o telemóvel, a ferramenta indispensável do macaco pelado do século XXI. Uga buga, já tombou mais um!

E é a isto que se chama amor pela natureza e respeito pelos direitos dos animais! É, é!

(será que o telemóvel dá para grelhar bifes de touro mal morto?...)

Pois na realidade o macaco pelado é um animal omnívoro. E que assim não fosse, teria de comer alguma coisa, e esse alguma coisa teria de ser um ser vivo. Nós não podemos existir sem matar. E isso é ponto assente. E significa que para existirmos temos sempre de colocar a nossa própria existência acima da existência dos outros seres.

Como consequência, nós, macacos pelados, não só matamos para comer, mas também matamos quando isso é necessário à nossa sobrevivência, como é o caso quando um leão está prestes a comer-nos. Mas se repararmos bem, esse não será o único caso em que a nossa sobrevivência está em risco. O macaco pelado é um bicho muito medroso, para além de merdoso, e tem medo que a sua sobrevivência esteja em causa quando é mordido por um mosquito – e zás, lá se foi o mosquito – quando há cobras a menos de cem metros de distância – e zás, lá se foi a cobra – quando há aranhas no tecto – e zás, lá se foi a aranha – quando há osgas nas paredes do escritório – e zás lá se foi a osga – quando falta um móvel requintado lá na sala – e zás, lá se foi a árvore que levou centenas de anos a crescer no solo de uma floresta tropical qualquer em extinção.

O macaco pelado é um bicho de infinitas necessidades, lá ensina a teoria económica. E finitos recursos. Finitos agressores e infinitos medos. Finita inteligência, infinita estupidez, e um número indeterminado de telemóveis com máquina fotográfica.

E passando para um tom mais sério, eu não estou muito preocupado com o touro que foi morto no passado dia 11 de Setembro em Monsaraz. Por diversos motivos. Em primeiro lugar porque é passado, e preocupar-me com o passado é algo que tento não fazer, porque também a minha atenção é finita e é bem precisa para os assuntos do presente. Em segundo lugar porque, em termos relativos, foi apenas um touro, num universo de sei lá quantos milhões de animais e plantas que morrem às mãos dos homens a cada segundo neste nosso planeta. Em terceiro lugar porque presumo, mesmo sem fundamento, que o seu cadáver tenha tido um fim útil.

O que é deveras preocupante, isso sim, é constatar o quanto o macaco pelado é semelhante aos outros macacos. Em geral, insinuar sequer essa semelhança é algo que o choca profundamente. Defende-se ele da comparação com uma lista de argumentos pré-ordenada e trabalhada desde há séculos: que o homem isto, que aquilo e ainda aquilo. E no entanto...

O macaco pelado mata por prazer. A tourada de morte é apenas um dos eventos onde isso acontece. Há muitos outros. Em tempos faziam-se touradas de morte com seres humanos. Eram hominadas de morte. Coisa tão gira! E qual será então a diferença fundamental entre ver um ser humano a morrer às mãos de outros ou ver um touro? E vem de lá a resposta: é que um ser humano é um ser humano e um touro é um touro. E já está. Coisas que vivem em universos completamente distintos! O macaco pelado escuda-se de novo. A verdade é que não tem muito por onde fugir, porque o macaco pelado continua a matar elementos da própria espécie por razões difíceis de explicar em muitos países do mundo todos os dias.



Enfim, resumindo a questão. Existe uma lei, que proíbe determinados actos excepto em locais onde esses actos sejam tradição. Esta lei, e só para rimar, é uma aberração! Por essa ordem de ideias seria difícil mudar o que quer que fosse num país. É tradição é tradição... já dizia o dux-sei-lá-quantos da praxe académica, uma espécie de macaco pelado que é preto, mas usualmente tem a cara e as mãos brancas. Por essa ordem de ideias também é proibido o homem bater na mulher, excepto em locais onde se comprove que isso já é feito há mais de 50 anos! Chiça!... As coisas que o macaco pelado inventa!

Mas bom, essa lei existe. E calha que a excepção nela prevista não se aplica à vila de Monsaraz. Calha também que o macaco pelado não quer saber disso para nada. Calha, finalmente, que os macacos pelados que têm por função fazer cumprir a lei também não querem saber disso para nada. É caso para perguntar: então porquê a lei?

Até faz lembrar outras coisas, sei lá... algumas leis que andam por aí que não são cumpridas e que ninguém quer saber disso para nada... conhecem alguma?... Ou será que agora não podem pensar muito nisso porque estão a falar no instrumento preferido do macaco pelado, com ou sem câmara fotográfica, a 140 quilómetros horários?...

E bom, a festa fez-se, para regozijo do macaco pelado. E tudo voltou à tranquilidade... Para o ano há mais!

As touradas são importantes. Muito importantes. Sem as touradas eram os direitos dos animais que ficavam em causa (dos animais divertirem-se à conta de outros, entenda-se), tal como os direitos dos homens, e a própria vida rural ficaria ameaçada! Uma autêntica catástrofe!

Moita Flores, preocupado com a possibilidade dessa catástrofe, lançou na internet um abaixo-assinado. A sua petição pode, e deve, mesmo, ser lida na íntegra aqui. Não se trata de uma farsa. O fenómeno foi noticiado em diversos jornais nacionais no dia 7 de Setembro. E vale mesmo a pena ler.

Da leitura do texto dessa petição aprende-se que andam aí uns “talibãs”, uma horde de analfabetos, que estão empenhados em destruir “os ritos, os mitos, os valores, os símbolos que durante séculos consolidaram Portugal, lhe deram identidade e o afirmaram como Língua, como Povo, como Pátria, como Território”, apenas porque isso está na moda e é giro! Moita Flores, pai de três filhos e avô de três netos, sabe muito bem o que diz!

Ele gosta de touradas por causa de “uma pulsão emotiva que não sabia explicar”, o que também é natural porque o macaco pelado chamado Moita também sente fome e não sabe bem explicar... Coisas de macaco! Eu, outro macaco pelado, também sinto fome e não sei explicar! E até o João Pinto sentiu uma estranha vontade de esmurrar o árbitro na barriga e veja-se como foi depois para tentar explicar!...

Enfim...

Já agora, se quiserem saber o que defende essa horde de analfabetos, podem ler o texto da respectiva petição, que também aconselho, aqui.

4 comentários:

  1. não aprecio touros de morte, mas confesso q as touradas não me incomodam.
    ainda agora assistimos na catalunha a uma das maiores hipocrisias mundiais, ou seja os independentistas catalães conseguiram proibir as touradas por elas seram parte da "fiesta espanhola" mas não proibiram os CORREBOUS, QUE CONSISTE EM PEGAR FOGO AOS CORNOS DO TOURO E DEPOIS LARGAR O ANIMAL A CORRER ESTRADA FORA.

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  2. Penso que o Macaco não mata por prazer... não insultes o Macaco... tenta arranjar outro nome. inspira-te no cosmos, na ficção científica, ou no filme da guerra das estrelas onde cada alien tem um nome estranho.
    Coitado do Macaco que não tem nada a ver com isto!

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  3. Grande Al!!

    Primeiro deixa-me dizer-te que a petição que defende os touros devia ser feita era com estas tuas palavras, o texto esta sem dúvida cómico e inteligente;)
    Mas deixa-me dizer-te porque não assinei nenhuma das petições, a do Moita Flores porque penso da mesma forma que tu, a segunda porque Não sou a favor da abolição "de TODOS os espectáculos com touros" .
    Para mim forcados, touradas à corda(Ilha Terceira) e largadas mantinha-se, pois são eventos festivos que me parecem mais uma brincadeira com animais(touros e homens) do que eventos sádicos. E tu sabes que o macaco pelado precisa de alguma alegria de vez em quando!

    Grande abraço

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  4. Querido Alex,

    Eu em parte concordo contigo em parte concordo com o Daniel Martins. Sou contra os touros de morte, mas não contra todos os espectáculos com touros. Acho os forcados fantásticos e quando dão na televisão eu sou a primeira a ficar colada. Acho lindo... O meu Avô Luís era forcado quando era novo e tinha a posição mais difícil que é segurar no rabo do touro (para quem não sabe, quem torce o rabo é quem tira a força ao touro e o derruba ao chão). Contava histórias de pegas que nos faziam arrepiar, verdadeiros super heróis das nossas terras. Não gostaria de ver perder isso por causa dos touros de morte. Acho salutar conservar algumas das nossas tradições.
    Beijinhos xx

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