sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

David Attenborough sobre o planeta e a população...

Uma apresentação recente de David Attenborough na Royal Society for the encouragement of Arts, Manufactures and Commerce (RSA) sobre o problema do crescimento populacional da nossa espécie.

Uma apresentação que me parece fundamental. Na escola, talvez na disciplina de geografia do oitavo ano, nos finais da década de 80, ouvi falar do problema da sobre-população. Depois, estranhamente, nunca mais ouvi falar do assunto. Os anos passaram-se, a população do planeta cresceu mais uns dois mil milhões, e finalmente o problema da população voltou à baila: era preciso aumentar a taxa de natalidade em Portugal!...

Durante anos, mais de dez, batalho para passar às pessoas a mensagem de que nós precisamos tanto de um aumento de natalidade como de um tiro no pé. O envelhecimento da população, as migrações, o abandono do interior do país, e outros, são todos problemas que não se resolvem com aumentos de taxas de natalidade. Pelo contrário, aumentos da taxa de natalidade contribuirão inexoravelmente para piorar as coisas, conforme é dito (demonstrado, a meu ver) nesta apresentação.

Novamente, tal como na apresentação do Neil Postman que publiquei há poucos dias, muita atenção aos "why?" que ele deixa sem resposta. É na procura de uma resposta para essas questões em aberto que encontramos as maroscas que alguns interesses sociais, sobretudo económicos, nos querem tramar.




O discurso em português (tradução minha):

Há 50 anos, a 29 de Abril, um grupo de visionários deste país juntaram-se para avisar o mundo de um desastre iminente. Entre eles estavam um distinto cientista, Sir Julian Huxley; um pintor amante de pássaros, Peter Scott; um executivo de publicidade, Guy Mountford; um poderoso e surpreendentemente eficaz funcionário público, Max Nicholson – e muitos outros. Eram todos, para lá da profissão de cada um, naturalistas dedicados, fascinados pelo mundo natural, não apenas neste pais, mas internacionalmente. E eles notaram o que muitos não viam – que por todo o mundo animais carismáticos que em tempos foram numerosos estavam a começar a desaparecer. O órix arábico, que em tempos esteve disseminado por toda a península, tinha sido reduzido para uma poucas centenas. Em Espanha só restavam cerca de noventa águias imperiais. O condor da Califórnia estava reduzido a uns sessenta indivíduos. No Hawaii, os gansos que em tempos viveram em bandos nos campos de lava em torno dos grandes vulcões estavam reduzidos a cinquenta. E os estranhos rinocerontes que viviam nas minguantes florestas de Java a cerca de quarenta. Estes eram os exemplos mais extremos. Para onde quer que os naturalistas olhassem, encontravam espécies de animais cujas populações estavam a diminuir rapidamente. Este planeta estava em perigo de perder um número significativo dos seus habitantes – tanto animais como plantas.

Algo tinha de ser feito. E esse grupo determinou-se a fazê-lo. Iriam precisar de apoio científico para descobrir as causas destes desastres iminentes e para descortinar modos de os abrandar e, se tudo corresse bem, de os parar. Teriam de aumentar a consciência e a compreensão das pessoas em todos os lugares; e, como em todas as façanhas deste tipo, iriam precisar de dinheiro para poderem agir. E dedicaram-se a todas essas tarefas. Como o problema era internacional, eles não se basearam aqui, mas no coração da Europa, na Suíça. E chamaram à organização que criaram o World Wildlife Fund.

Tal como o comité internacional, grupos de acção separados seriam necessários em cada país. Alguns meses após o encontro inaugural na Suíça, este país criou um grupo – e foi o primeiro país a fazê-lo. E você, Sir, tornou-se no seu primeiro presidente. Vinte anos depois, você tornou-se no presidente internacional de toda a organização que hoje é conhecida como a Worldwide Fund for Nature.

Os métodos que a WWF usava para salvar estas espécies ameaçadas eram múltiplos. Alguns, como o ganso do Hawaii e o órix, foram levados para cativeiros, reproduzidos até atingirem uma população significativa, e depois devolvidos aos seus ambientes originais. Noutros sítios, em África por exemplo, grandes áreas de paisagens não danificadas foram classificadas como parques nacionais onde os animais poderiam ficar a salvo de caçadores furtivos e das invasões dos humanos. Nas ilhas Galápagos e na terra dos gorilas de montanha no Rwanda, foram encontradas formas para assegurar que os habitantes locais, que também tinha direitos sobre as terras onde esses animais viviam, também beneficiariam financeiramente através da atracção de turistas. Nasceu o eco-turismo. O movimento no seu todo foi-se tornando cada vez mais forte. Vinte e quatro países estabeleceram as suas delegações nacionais do WWF. Organismos de conservação que já existiam por todo o mundo mas que tinham estado a trabalhar, em grande medida, em isolamento, adquiriram novo fôlego e estabeleceram ligações internacionais. Novas organizações foram fundadas focando-se em áreas ou espécies particulares. O mundo acordou para a conservação. Milhões – biliões – de dólares foram angariados. E hoje, cinquenta anos volvidos, conservacionistas que trabalharam tão duramente e com tanta visão podem justificadamente ficar gratos pela forma como responderam magnificamente ao desafio.

No entanto, hoje, apesar de um número elevado de sucessos individuais, o problema parece maior do que alguma vez foi. É verdade que, graças ao vigor e à sabedoria de conservacionistas, nenhuma espécie mais carismática foi para já extinta. Muitas delas ainda correm risco elevado de extinção, mas estão a aguentar-se. Hoje, porém, e em termos gerais, há mais problemas, não menos, e mais espécies em risco de extinção do que em algum momento da história. Porquê?

Há 50 anos, quando a WWF foi fundada, havia cerca de três biliões de pessoas na Terra. Hoje há quase sete biliões. Mais do que o dobro – e cada uma dessas pessoas a precisar de espaço. Espaço para as suas casas, espaço para cultivar a sua comida (ou para garantir que outros o façam por si), espaço para construir escolas, estradas e aeroportos. De onde é que esse espaço surgiu? Um pouco pôde ter sido retirado de outras pessoas, mas a maioria do espaço só pôde ter vindo da terra que, durante milhões de anos, era exclusivamente para os animais e para as plantas – o mundo natural.

Mas o impacto destes milhões de pessoas adicionais propagou-se para lá do espaço que eles fisicamente ocuparam. O efeito da industrialização mudou a constituição química da atmosfera. Os oceanos que cobrem a maior parte da superfície do planeta têm sido poluídos e cada vez mais acidificados. E a Terra está a aquecer. Hoje apercebemo-nos que os desastres que continuam a atingir cada vez mais o mundo natural têm um elemento transversal a todos eles – o aumento sem precedentes do número de seres humanos no planeta.

Já houve profetas que nos avisaram deste desastre iminente, claro. Um dos primeiros foi Thomas Malthus. O seu nome de família – Malthus – leva alguns a supor que ele foi algum filósofo da Europa continental, alemão talvez. Mas não foi. Ele era inglês, nascido em Guildford in Surrey nos meados do século XVIII. O seu livro mais importante, “An Essay of the Principle of Population”, foi publicado há cerca de duzentos anos, em 1798. Nesse livro ele argumentava que a população humana iria aumentar inexoravelmente até que seria parada pelo que ele designou de “vício e miséria”. Hoje, por algum motivo, essa profecia parece ser amplamente ignorada ou, seja de que forma for, desacreditada. É verdade que ele não foi capaz de prever a chamada Revolução Verde que aumentou consideravelmente a quantidade de comida que pode ser produzida numa mesma área de terra arável. E podem haver outros avanços na nossa tecnologia alimentar que nem nós próprios somos capazes de prever. Mas essas avanços apenas atrasam as coisas. A verdade fundamental que Malthus proclamava continua a ser verdadeira. Não pode haver mais gente neste planeta do que os que podem ser alimentados.

Muitas pessoas gostariam de negar que isto é assim. Quereriam acreditar nesse oximoro “crescimento sustentável”. Kenneth Boulding, o conselheiro ambiental do presidente Kennedy, disse há quarenta e cinco anos algo como isto. “Qualquer pessoa que acredite em crescimento indefinido de alguma coisa física num planeta finito”, disse ele, “ou é louco ou é um economista.”

A população mundial está actualmente a aumentar em 80 milhões por ano. Um milhão e meio por semana. Um quarto de milhão por dia. Dez mil por hora. Neste país está previsto que cresça 10 milhões nos próximos 22 anos. Isso é o equivalente a dez Birminghams.

Toda esta gente, neste país e em todo o mundo, ricos e pobres, precisam e merecem comida, água, energia e espaço. Será que o vão conseguir? Eu não sei. Espero que sim. Mas o cientista chefe do governo e o último presidente da Royal Society referiram-se ambos à cada vez mais próxima “tempestade perfeita” do crescimento populacional, das alterações climáticas e do começo da exaustão das reservas de petróleo, que conduzirá inexoravelmente a maior insegurança no fornecimento de alimentos, água e energia.

Pensemos na comida. Poucos de nós aqui, suspeito, alguma vez experimentaram fome verdadeira. Para os animais, claro, isso é um aspecto comum das suas vidas. O desespero estóico das crias do chita cuja mãe falhou nas suas últimas tentativas de matar uma presa para eles, e que consequentemente passam fome, é comovente. Mas isso também acontece com seres humanos. Todos nós que já viajámos em países pobres encontrámos pessoas para quem a fome é uma dor de fundo diária nas suas vidas. Há cerca de um bilião de pessoas nessas condições actualmente – isso é quatro vezes toda a população humana do planeta há uns meros dois mil anos no tempo de Jesus Cristo.

Poderão já ter visto o relatório do governo “Relatório Previsional sobre o Futuro da Produção Alimentar”. Mostra o quão difícil é alimentar os sete biliões de nós que estamos vivos hoje. Lista os muitos obstáculos que ainda estão a tornar este objectivo difícil de atingir – erosão dos solos, salinização, esgotamento de recursos aquíferos, sobre-produção, disseminação de doenças vegetais como resultado da globalização, cultivo absurdo de culturas alimentares para transformação em bio-combustíveis em vez de alimentos para as pessoas – e por aí fora. Desse modo sublinha como será desesperantemente difícil alimentar uma população que espera que estabilize entre os oito e os dez biliões no ano 2050. Recomenda o maior número possível de medidas transversais a todas as disciplinas para atacar este problema. E avança com diversas recomendações sensatas, incluindo uma segunda revolução verde.

Mas surpreendentemente, há algumas coisas que o relatório não diz. Não menciona o facto óbvio de que seria muito mais fácil alimentar oito biliões de pessoas em vez de dez. Nem sugere que as medidas para atingir tal número – como o planeamento familiar e a educação e a emancipação das mulheres – devam ser elementos centrais de qualquer programa que tenha por objectivo assegurar a alimentação da humanidade. Não se refere à presciente declaração, quarenta anos atrás, por Norman Borlaug, o prémio Nobel e pai da primeira revolução verde. Ele produziu novas variedades de trigo de alto rendimento, com caule pequeno e resistentes às doenças, e com isso evitou a fome de milhares de pessoas na Índia, no Paquistão, em África e no México. Mas ele avisou-nos de que tudo o que tinha feito tinha sido dar-nos um espaço de manobra para que pudéssemos estabilizar a nossa população. O relatório do governo prevê que os preços da comida possam subir com os preços do petróleo e evidencia que isto afectará sobretudo as pessoas pobres e discute várias formas de ajudar essas pessoas. Mas não refere o que qualquer mãe que subsista com o equivalente a um dólar por dia já sabe – que os seus filhos serão melhor alimentados se forem quatro à mesa em vez de dez. Estas são omissões estranhas.

E como poderemos nós ignorar as arrepiantes estatísticas sobre a terra arável? Em 1960 havia 0,37 hectares de terra arável por pessoa – o suficiente para sustentar uma boa dieta europeia razoável. Hoje há apenas 0,2 hectares por pessoa. Na China só há 0,1, devido aos seus problemas dramáticos de degradação dos solos.

Outro relatório governamental impressionante, sobre biodiversidade, foi publicado este ano – “Considerando a Natureza num Mundo em Mudança” – e é bastante similar. Discute todas as pressões crescentes sobre a vida selvagem no Reino Unido – mas não refere o aumento da nossa população como sendo uma dessas pressões – o que é particularmente estranho quando se considera que a Inglaterra é já o país mais densamente povoado da Europa.

O mais bizarro de todos foi um relatório recente de uma Comissão Real sobre o impacto ambiental da mudança demográfica neste país que negava que o tamanho populacional fosse um problema de todo – como se vinte milhões de pessoas a mais ou a menos não tivesse algum impacto real. Evidentemente não é o nosso único ou até o nosso mais importante problema ambiental, mas é absurdo negar que, como multiplicador de todos os outros, é um problema.

Eu suspeito que poderiam ler um conjunto de relatórios de organizações relacionadas com problemas globais e constatar que a população é claramente um dos motores que subjaz a todos eles – e apesar disso não encontrar qualquer referência a este facto óbvio em nenhum deles.

As alterações climáticas estão no topo da agenda sobre questões ambientais neste momento. Todos sabemos que cada pessoa adicional terá de usar alguma energia de carbono, nem que seja apenas lenha para cozinhar, e irá desse modo criar mais dióxido de carbono – embora evidentemente uma pessoa rica produzirá muito mais que uma pobre. De modo semelhante, todos sabemos que cada pessoa adicional é – ou será – uma vítima adicional das alterações climáticas – embora os pobres irão sem dúvida sofrer mais que os ricos. Apesar disso, nem uma palavra sobre este assunto apareceu nos volumosos documentos que resultaram dos encontros sobre o clima em Copenhagen e em Cancun.

Porquê este estranho silêncio? Eu não encontro ninguém que em privado discorde que o crescimento populacional é um problema. Ninguém – à excepção dos que não têm os pés na terra – pode negar que o planeta é finito. Todo o podemos ver – naquela bonita imagem da nossa Terra tirada pela missão Apolo. Então porque é que praticamente ninguém o admite em público? Parece existir um tabu bizarro sobre este assunto. “Não é muito bonito, não é politicamente correcto, possivelmente é até mesmo racista mencioná-lo”. E este tabu não inibe apenas os políticos e os funcionários públicos que frequentam grandes conferências. Afecta inclusivamente as organizações não governamentais de desenvolvimento e do ambiente, as pessoas que dizem preocupar-se mais apaixonadamente pelo futuro próspero e sustentável dos nossos filhos. No entanto o seu silêncio implica que os seus objectivos admiráveis possam ser atingidos independentemente de quantas pessoas existem no mundo ou no Reino Unido, ainda que todas saibam que isso não é assim.

Eu simplesmente não compreendo. Isto está a tornar-se demasiado sério para todas essas fastidiosas delicadezas. Permanece como um facto óbvio e brutal que num planeta finito a população humana ira definitivamente parar em algum ponto. E isso só pode acontecer numa de duas formas. Pode acontecer mais cedo, através de um menor número de nascimentos – numa palavra, através de contracepção. Esta é a forma humana, a opção poderosa que permite que todos nós lidemos com o problema, se colectivamente decidirmos fazer isso. A alternativa é uma taxa de mortalidade aumentada – a forma que todas as outras criaturas experimentam, através da fome, da doença ou da predação. Isso traduzido em termos humanos significa fome, doença ou guerra – seja por causa do petróleo, ou da água, ou da comida, ou de minerais, ou de campos agrícolas ou simplesmente de espaço vital. Não há, miseravelmente, nenhuma terceira alternativa de crescimento indefinido.

Quanto mais cedo estabilizarmos os números da população, mais depressa paramos a descida do elevador. Se pararmos o crescimento populacional, parando o elevador, teremos alguma probabilidade de atingir o topo – isto é, uma vida decente para todos.

Para atingir isso são necessárias várias coisas. Em primeiro lugar e mais importante é necessária uma compreensão muito mais vasta do problema, e isso não acontecerá enquanto o absurdo tabu acerca da sua discussão mantenha o seu poder nas mentes de tanta gente capaz e inteligente. Depois é necessária uma mudança na nossa cultura para que, mesmo mantendo o direito de todos terem quantos filhos desejarem, as pessoas percebam que ter famílias numerosas significa agravar os problemas que os seus filhos e os filhos de todos os outros terão no futuro.

É necessária acção por parte dos governos. No meu ponto de vista, todos os países deveriam desenvolver uma política populacional – uns 70 países já a têm de um modo ou de outro – e dar-lhe prioridade. O factor essencial comum é fazer com que o planeamento familiar e outros serviços de saúde relacionados com a reprodução sejam disponibilizados gratuitamente a todas as pessoas e encorajá-las a usá-los – embora, obviamente, sem qualquer tipo de coerção.

De acordo com a Global Footprint Network já existem mais de cem países cuja população e taxa de crescimento já os empurraram para além do limite de sustentabilidade. Isso inclui quase todos os países desenvolvidos. O Reino Unido é um dos piores. Nesses países o objectivo devia ser o da redução paulatina do consumo de recursos naturais por pessoa e do número de pessoas – enquanto, escusado será dizê-lo, se deverão usar as melhores tecnologias para ajudar a manter os níveis de vida. É trágico que as únicas políticas actuais de população nos países desenvolvidos sejam, perversamente, de aumento de taxa de natalidade para se atacar o problema do envelhecimento da população. A ideia de ter cada vez mais pessoas velhas a precisar de cada vez mais pessoas novas, que por sua vez irão envelhecer e precisar de ainda mais pessoas novas, e assim sucessivamente até ao infinito, é um óbvio esquema em pirâmide (esquema Ponzi) ecológico.

Eu não sou um economista, nem um sociólogo, nem um político, e é dessas disciplinas que as respostas terão de vir. Mas eu sou um naturalista. E isso significa que eu sei alguma coisa acerca dos factores que mantêm as populações de diferentes espécies animais dentro de limites e sei o que acontece nos casos contrários. Em tenho consciência de que cada casal de chapins azuis a procriar no meu jardim é capaz de pôr mais de vinte ovos por ano, mas em consequência de predação ou de falta de alimento, apenas um ou dois, na melhor das hipóteses, sobreviverão. Eu já vi leões a dizimar as centenas de crias de gnus que nascem anualmente nas planícies de África. Já vi como aumentos na população de elefantes podem devastar o seu próprio ambiente até que, um ano em que as chuvas não caiam sobre a terra já esgotada, eles morrem às centenas.

Mas nós somos seres humanos. Graças à nossa inteligência e às nossas capacidades cada vez maiores e tecnologia cada vez mais sofisticada, nós podemos evitar essas brutalidades. Nós temos medicamentos que previnem que os nossos filhos morram de doença. Nós desenvolvemos formas de produzir quantidades cada vez maiores de comida. Mas com isso nós removemos as limitações que mantêm as populações animais controladas. Portanto, agora o nosso destino está nas nossas mãos.

Há uma réstia de esperança. Onde quer que as mulheres tenham voto, onde quer que sejam literatas e tenham instalações médicas para controlar o número de filhos que criam, as taxas de natalidade baixam. Todas essas condições civilizadas existem no estado indiano do sul de Kerala. Na Índia como um todo a taxa de fertilidade total é de 2,8 nascimentos por mulher. Em Kerala é de 1,7 nascimentos por mulher. Na Tailândia no ano passado era de 1,8 por mulher, semelhante à taxa de fertilidade de Kerala. Mas comparem isso com as Filipinas católicas, onde a taxa é de 3,3.

Aqui e lá, finalmente, há sinais de um reconhecimento do problema. O Save the Children Fund mencionou-o no seu último relatório. A Royal Society reuniu uma comissão executiva de cientistas de muitas disciplinas que estão a analisar o problema.

Mas o que é que cada um de nós pode fazer, tu e eu? Bom, só há uma coisa que eu pediria. Quebrem o tabu, em privado e em público – da melhor forma que saibam, como considerarem correcto. Até que seja quebrado, não há esperança para as acções de que precisamos. Sempre que falemos do ambiente, e onde quer que seja, acrescentem algumas palavras para garantir que o elemento populacional não é ignorado. Se és um membro de uma organização não governamental relevante, convida-a a reconhecê-lo. Se pertences a uma igreja, e especialmente se for a igreja católica, porque a sua doutrina sobre a contracepção é um factor importante neste problema, sugere que considerem as questões éticas envolvidas. Reparei que os bispos anglicanos na Austrália atreveram-se a fazê-lo. Se tiveres contactos no governo, pergunta porque é que o crescimento da nossa população, que afecta todos os ministérios, continua sem um responsável. A Austrália, país grande e vazio, nomeou um ministro para a população sustentável, portanto porque é que a Inglaterra, pequena e apinhada, não pode fazer o mesmo?

O ganso do Hawaii, o órix e a águia imperial que soaram o alarme ambiental há cinquenta anos foram, pode-se dizer, o equivalente dos canários nas minas de carvão – avisos de catástrofes iminentes e ainda maiores. Faz uma lista de todos os outros problemas ambientais que hoje nos afligem e ao nosso coitado planeta – o aumento dos gases com efeito de estufa e o consequente aquecimento global, a acidificação dos oceanos e o colapso dos stocks de peixe, a perda da floresta tropical, o aumento dos desertos, a escassez de terra arável, o aumento da violência do clima, o aumento de cidades gigantes, fome, padrões migratórios. A lista nunca mais acaba. Mas todos esses problemas partilham uma causa subjacente. Cada um destes problemas globais, sociais e ambientais, se torna mais difícil – e finalmente impossível – de resolver com cada vez mais pessoas.

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