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Alexandre
vivia numa casinha de adobe à beira da estrada perdida no meio do
deserto. Ao lado, havia um poço e uma hélice movida a vento. Alexandre e
o seu único companheiro, um burrico, dispunham assim de toda a água de
que precisavam. Naquele lugar afastado do mundo, Alexandre acolhia de
boa vontade quem ali parasse para se refrescar. Mas os visitantes eram
raros e iam-se logo embora.
Alexandre
sentia-se muito só. Para ocupar os momentos de solidão, decidiu fazer
um jardim. Semeou cenouras, feijões e grandes cebolas roxas, tomates e
milho, melões, abóboras e pimentos vermelhos. Logo de manhã cedo e
durante horas, Alexandre trabalhava no seu jardim. Gostava sobretudo de
o ver crescer, antes do calor do deserto apertar e o obrigar a
refugiar-se em casa.
Os
dias passavam lentamente, sem qualquer novidade, até que uma bela
manhã foi surpreendido pela chegada de um visitante. Um esquilo surgiu
do silêncio e avançou, lentamente, pé ante pé. Ao vê-lo aproximar-se do
jardim, Alex ficou imóvel. O esquilo escapou-se para um rego onde
matou a sede e depois desapareceu. Nesse instante, Alexandre deu-se
conta de que tinha esquecido a sua solidão, e passou a ficar à espera
que o esquilo regressasse.
O
esquilo voltou muitas mais vezes e sempre com novos companheiros:
ratos de pescoço branco, os geomis da montanha, grandes lebres, ratos
cangurus do Texas e ratinhos de bolsa de Bailey. Também vieram muitos
pássaros visitar o jardim de Alex: os cucos corredores da Califórnia,
os picanços de Gila e os tordos dos remedos de bico curvo. Os
trogloditas de cabeça castanha, os pardais de artemísia, de olhos
orlados de branco, as pombas da Carolina e ainda muitos mais, que
pousavam nos ramos da alfarrobeira, ou descansavam nos catos sanguaro,
antes de saciaram rapidamente a sua sede, ao cair da noite. Por vezes,
até uma velha tartaruga atravessava lentamente o jardim.
Alex
sentia que, assim, o tempo passava mais depressa, porque a cada
instante se distraía com um novo visitante. Já não estava só, mas
interrogava-se se isso seria de facto o mais importante.
Depressa
percebeu que os visitantes não vinham procurar um amigo, mas vinham
simplesmente à procura de água. E Alex pensou em todos os outros
animais do deserto… o coiote e a raposa cinzenta, os linces ruivos, as
mofetas, os texugos, os pecaris (os porcos monteses da América do Sul),
os veados, a corça e os cabritos monteses. Encontrar água para todos
não era problema. Com o dínamo e o poço, Alex podia fornecer muita
água. Mas tinha de descobrir um meio de todos poderem usufruir dela.
Alex
resolveu fazer um reservatório. Sem perder tempo, começou a escavar.
Foi uma tarefa cansativa, que durou vários dias, sob um sol escaldante.
Mas encheu-se de coragem ao pensar que podia ajudar tantos hóspedes
sequiosos. Restava agora esperar pela chegada dos animais corpulentos.
Alex andava de um lado para o outro, como era costume, dava de comer ao
burrico, tratava do jardim… Os dias passavam e nada de novo acontecia.
Alex tinha esperança, mas passavam semanas e semanas e tudo continuava
calmo. Porque é que os animais não vinham? Alguma coisa devia estar
errada!
Depressa
se desvendou o mistério. Uma manhã, uma mofeta aventurou-se a chegar
perto da poça de água. Mas, mal viu Alex, fugiu para o silvado. Como é
que ele não tinha pensado nisso? Era preciso mudar a poça de água de
lugar o mais depressa possível. Alex começou a cavar num lugar mais
afastado, escondido atrás de um silvado. Acabada a obra, escondeu-se
ali perto e esperou. Será que viriam? E desta vez não ficou desiludido!
Uns
atrás dos outros, tímida e furtivamente, os animais saíram do deserto.
Como a nova poça ficava um pouco afastada da casa e da estrada, os
animais não tinham medo. Alex tinha muitas provas disso: a chilreada
dos pássaros ao cair da tarde, o sussurro da alfarrobeira na calada da
noite, traindo a presença de um coiote, de um texugo ou talvez de uma
raposa cinzenta, o passo leve de um veado, os grunhidos dos pecaris.
E,
durante as horas passadas a ouvir calmamente todos os ruídos dos seus
novos companheiros, Alex pensou que era essa a sua melhor recompensa… O
presente que lhes oferecera, a poça de água, nada era, comparado com o
que ele recebera em troca: a presença cúmplice e amiga dos animais.
Richard E. Albert
Alexandro et ses amis du désert
Paris, Éditions Autrement, 1997
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