sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Um capitalista se confessa...

Mas só um bocadinho!... Neste vídeo poderão ver um homem a dizer meia dúzia de coisas que são banalidades. Mas o que torna isto muitíssimo interessante é que as banalidades que são ditas são-no em potencial prejuízo próprio (um capitalista a dizer mal dos benefícios que lhe são concedidos?...) e são contrárias à crença da maioria das pessoas.

Como é possível que a maioria das pessoas acredite em coisas que são mentiras evidentes?... Vejam por exemplo aqui mesmo ou estas obras do Vicente Romano que podem adquirir ou procurar numa biblioteca.



Adiante vou comentar o que foi dito.

O que ele diz:
- A ideia de que aumentar os impostos sobre os ricos faz diminuir a criação de empregos é uma fé.

O que eu digo:
- Sim.

O que ele diz:
- Os ricos não criam empregos. O aumento do consumo é que obriga o capitalista a aumentar a produção e para isso, e apenas em último recurso, ele tem de aumentar o número de empregados.

O que eu digo:
- Sim. Evidentemente. Porque raio é que algum empresário haveria de contratar quem quer que fosse se não fosse a única maneira de ele conseguir fazer dinheiro? Obviamente contratar pessoas é uma chatice!... Quem são os ingénuos que acreditam que há almas boas a criar empregos que até nem seriam necessários, mas que o fazem para distribuir a riqueza?... Assim que as máquinas puderem substituir o trabalho humano de forma rentável, vereis como os capitalistas têm bom coração!...

O que ele diz:
- Os impostos sobre os ricos são diminuídos para que a criação de empregos aumente, mas na realidade o único resultado visível é uma diminuição dos empregos e o aumento da fortuna dos ricos.

O que eu digo:
- Sim.

O que ele diz:
- Os ricos não conseguem mobilizar grandes economias.

O que eu digo:
- Pois... Mas aí é que a porca torce o rabo, e de que maneira!... A lógica dele é a seguinte: os ricos não consomem proporcionalmente ao seu rendimento. Portanto, se queremos aumentar o consumo, os ricos sozinhos não vão originar um grande impacto, em vez disso é necessário aumentar o consumo de toda a classe média.
- Tudo bem. No entanto, digo eu, isso é na perspectiva de que o aumento do consumo é bom e necessário. Essa é a lógica de toda a economia do crescimento. Relacionem com a "seta dourada" deste vídeo e com a ideia de que o capitalismo não pode "aceitar limites" ("abide any limits") deste vídeo.
- Mais tarde ou mais cedo é necessário que comecemos a compreender que o aumento do consumo nem é bom nem é necessário.

O que ele diz:
- Os salários nominais estagnaram. Mas se tivessem acompanhado o crescimento económico, desde os anos 80, deveriam hoje ser o dobro.

O que eu digo:
- Todas as pessoas que como eu começaram a trabalhar nos finais dos anos 90 a ganhar 1000 euros e hoje estão a ganhar os mesmos 1000 euros já deviam ter percebido isso! A cada ano que passa os preços sobem, tudo sobe, o produto sobe, e os salários ficam na mesma.
- A teoria económica mais em voga (com a qual eu discordo radicalmente em muitos aspectos) afirma que os salários podem crescer ao mesmo ritmo que a produtividade. Isso parece pomposo, mas é mais uma banalidade: significa o mesmo que dizer que se um trabalhador passa a produzir o dobro, então pode receber o dobro. Mas a teoria parece estranhamente esquecer o mundo real. No mundo real foi-nos vendida mais uma fé, a de que a criação de emprego precisa de flexibilização de emprego. Ou seja, que é necessário poder despedir facilmente para que os empregos sejam criados. Mas num ambiente onde há desemprego e é possível fazer gato-sapato com os trabalhadores, os salários não crescem. Podem crescer, mas não crescem. Como é evidente!

O que ele diz:
- Os ricos são adorados enquanto criadores de emprego. E de criadores de emprego a criadores, semi-deuses, é um pequeno passo.

O que eu digo:
- Sim. Toda a gente se lembra do badameco que mandou fazer isto e aquilo e do Dom Afonso Henriques e sei lá que mais, mas ninguém se lembra dos que verdadeiramente fizeram as coisas. Acerca disto, este poema do Brecht dito por Mário Viegas.

O que ele diz:
- Os rendimentos do capital são tributados a 15% e os rendimentos do trabalho a 30%. É difícil de justificar isto.

O que eu digo:
- Pois é! O roubo dos rendimentos do capital é o roubo mais evidente do capitalismo. O capitalista rouba o rendimento do capital (rendas, juros ou lucros) que na verdade deveria ser do trabalhador, simplesmente porque o trabalhador trabalha e o capitalista não. Mas depois vem o Estado, defensor dos interesses de... quem será?..., e cobra mais imposto nos rendimentos do trabalho que nos outros. E as pessoas aceitam isto de bom grado. Genial! :)

O que ele diz:
- Taxar os ricos é o melhor que se pode fazer para os pobres, para a classe média e para os próprios ricos.

O que eu digo:
- Sim, se acreditarmos na economia liberal, deve ser. Isso será sempre muito mau para o planeta, e isso mais tarde ou mais cedo será muito mau para os pobres, a classe média e os ricos. Mas a questão é que entretanto, daqui para lá, irá sempre basear-se na lógica do maior poder a quem tem mais dinheiro. E mais dinheiro a quem já tem mais dinheiro. E "queres? paga". E uma data de outras barbaridades deste sistema...

O que ele não disse mas digo eu:

O IVA é um imposto injusto precisamente pelo que ele diz no vídeo. Se uma família normal tem 2 carros e uma família de ricos, que ganha como ele diz 100 ou 1000 vezes mais, tem 3 carros, então a proporção do montante pago em imposto é muito mais pequena nos ricos que na família normal.

No entanto, o que se tem observado na nossa economia e nas outras todas que seguem a par, é um aumento do IVA, em simultâneo com uma diminuição da taxação das empresas, dos bancos, dos capitais...

Finalmente uma última coisa que ele não disse mas que eu digo: ele quer lá saber das outras pessoas!

Ele disse o que disse porque, estranhamente, e ao contrário do que acontece com a maioria dos capitalistas, a consciência lá lhe deve ter pesado... Ou então percebeu que os seus negócios estão mesmo a ficar em risco com a quebra do consumo da classe média... Mas dê por onde der uma coisa é certa: ele está-se marimbando para a situação dos outros.

Não é possível ser simultaneamente rico e estar muito preocupado com os outros. Por um lado, o processo de acumulação de riqueza implica sempre um roubo, porque se baseia sempre em rendimentos de capitais ou em salários completamente inalcançáveis por qualquer comum mortal. Por outro lado, para alguém que se preocupa com os outros, há sempre mil e uma maneiras de aplicar o dinheiro.

Enfim, que nos sirva para abrir os olhos...

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