Os dados apresentados aqui são os que resultam dos Censos de 2011 realizados pelo INE.
A ilha Terceira tinha nesse ano 56437 pessoas. A esse nível, equipara-se a uma cidade como Faro, Guimarães, Évora, Leiria, Viseu ou Aveiro. A ilha está dividida em 30 freguesias conforme a próxima imagem ilustra. As 11 freguesias a Nordeste pertencem ao concelho da Praia da Vitória e as 19 freguesias a Sudoeste pertencem ao concelho de Angra do Heroísmo. Como curiosidade, diga-se que "vitória" e "heroísmo" foram epítetos atribuídos por carta régia de 1837, em reconhecimento do papel que estes locais tiveram na luta entre liberais (de D.Pedro IV) e absolutistas (de D.Miguel) uns anos antes.
A densidade populacional média da ilha é de 138 habitantes por km2. Quando analisamos a densidade populacional por freguesia destacam-se facilmente dois conjuntos de freguesias com maior densidade: um conjunto englobando a cidade de Praia da Vitória e a planície do Ramo Grande e outro conjunto englobando a cidade de Angra do Heroísmo e "arredores".
Esta imagem em cima apresenta um mapa da pluviosidade da ilha Terceira. A imagem anterior apresentava um mapa da altitude. Podemos constatar que existe uma forte correlação entre a altitude e a precipitação. Esta forte correlação estende-se à humidade e à temperatura média anual, conforme as imagens seguintes atestam.
A densidade populacional máxima na Terceira regista-se na freguesia de Santa Luzia (Angra do Heroísmo), com 2296 habitantes por km2. Este valor pode ser comparado com as densidades populacionais mais elevadas do Continente: Amadora - 7363 hab/km2, Lisboa 6446 hab/km2 e Porto 5736 hab/km2.
A densidade populacional mínima regista-se na freguesia da Serreta, com 23 habitantes por km2. Por comparação, as densidades populacionais mínimas no Continente registam-se em grande parte do Alentejo e nas zonas raianas das beiras e Trás-os-Montes, com valores abaixo dos 10 hab/km2.
Conclui-se, portanto, que apesar das concentrações da população em torno dos dois núcleos urbanos da ilha, a população encontra-se distribuída de modo muito mais homogéneo que no Continente.
A idade média da população da Terceira é de 39,3 anos, relativamente mais jovem do que no Continente (42,3 anos). As freguesias com idade média mais elevada são Sé (47,2), Santa Luzia (44,7) e Nossa Senhora da Conceição (43,3), todas de Angra do Heroísmo.
As freguesias com idade média mais baixa são São Mateus da Calheta (35,1), Terra Chã (35,1) e São Bartolomeu de Regatos (35,9). Uma inspecção visual das pirâmides etárias destas três freguesias revela que todas apresentam o mesmo padrão marcado: uma menor quantidade de habitantes com mais de 70 anos, uma "barriga" nas classes etárias entre os 30 e os 39 e muitos jovens com menos de 10 anos de idade. Estes dados permitem especular que as freguesias sofreram um acréscimo populacional significativo nas últimas décadas e que a grande quantidade de crianças resulta da descendência dos adultos em "idade fértil".
Em termos da razão entre homens e mulheres, em toda a ilha existem em média 96 homens para cada 100 mulheres. A maior proporção de mulheres explica-se quase exclusivamente pela sua maior longevidade. Aliás, aproveito para salientar aquilo que é um mito que encontro com bastante frequência: o de que no mundo, ou em Portugal, ou em algum país ou região do planeta, existem muitos mais homens ou muitas mais mulheres... Isso não é verdadeiro, mas em geral é ainda muito menos verdadeiro aquilo que se apresenta como justificação para esse facto. Existem efectivamente alguns locais no planeta onde há algum desequilíbrio. As razões para estes desequilíbrios significativos são todas artificiais: guerras que têm homens como as principais vítimas, infanticídio de mulheres para selecção de filhos homens, etc. No entanto, estes fenómenos são muito localizados. Na esmagadora maioria do planeta Terra, o equilíbrio natural de 1 homem para 1 mulher existe, aproximadamente, e o desequilíbrio que se verifica nos países com esperança média de vida mais elevada resulta simplesmente da maior longevidade das mulheres.
Também na ilha Terceira o desequilíbrio entre homens e mulheres é mais acentuado precisamente nas freguesias com habitantes mais idosos, atingindo o máximo de 82 homens para cada 100 mulheres na freguesia da Sé. A freguesia das Doze Ribeiras, apesar de ter uma população com idade média elevada (42,8 anos) tem um rácio de um homem para cada mulher. Isso resulta de nas classes etárias entre os 35 e os 65 anos de idade existirem consistentemente mais homens que mulheres, uma situação curiosa, para a qual não possuo explicação. Na freguesia dos Altares verifica-se uma situação fora do comum: a idade média dos homens é 2,8 anos superior à idade média das mulheres, muito ao contrário do que acontece em todas as outras freguesias e do que seria expectável. Quando se analisam as respectivas classes etárias, verifica-se que existem idosos dos dois sexos em igual quantidade e que existem muito mais mulheres do que homens na classe etária com menos de 10 anos de idade. Um capricho da natureza?...
Em termos de escolarização, o número médio de anos de escolaridade da população da Terceira é de 7,1. No Continente este valor é de 7,7 anos. Conforme o gráfico anterior mostra, existem grandes disparidades na escolaridade média nas diferentes freguesias. As freguesias com maior escolaridade são São Pedro e Sé que se destacam das demais com 9,4 e 9,3 anos de escolaridade média. Das 8 freguesias com maior escolaridade média 7 são da cidade de Angra do Heroísmo ou arredores, sendo a única excepção a freguesia de Porto Martins.
O gráfico anterior também mostra que a escolaridade média das mulheres é superior à dos homens em quase todas as freguesias da ilha. Se atentarmos ao que se passa a nível do ensino superior, considerando os dois níveis de ensino mais representativos (licenciaturas e mestrados), a diferença entre sexos é ainda maior, existindo 3260 mulheres para apenas 1872 homens com cursos concluídos ou em frequência.
É também possível constatar no penúltimo gráfico que as freguesias com maior proporção de habitantes a frequentar um qualquer nível de ensino são Vila Nova (27,2%), Terra Chã (26%) e Posto Santo (25,2%). Em toda a ilha, este valor é de 20,4%, que compara com 18,8% do Continente. Estes são sinais claros de uma verdadeira revolução cultural que irá necessariamente aumentar muito a escolaridade média de toda a população no futuro, mas que, como qualquer revolução, pode ter efeitos secundários. Neste caso específico penso nas enormes diferenças entre gerações, com avós que muitas vezes não sabem ler ou escrever e netos que são universitários.
Apesar disso, a ilha Terceira ainda está uns pontos abaixo do que se passa no Continente, que provavelmente nem sequer é um bom padrão de referência. De facto, 43,5% da população da Terceira tem no máximo a 4ªclasse, contra 40,8% no Continente, e apenas 10,1% frequentam ou frequentaram o ensino superior, contra 15,4% no Continente.
Se considerarmos a população com cursos superiores concluídos (bacharelatos, licenciaturas, mestrados e doutoramentos) as diferenças entre freguesias tornam-se muito mais evidentes. De tal modo que é possível afirmar que estas diferenças são responsáveis por quase toda a variabilidade entre freguesias no que respeita à escolaridade média.
A presença do polo universitário em Angra do Heroísmo (São Pedro) é certamente uma das causas desta disparidade. No entanto, o último gráfico foi construído com a população que já concluiu cursos superiores, não considerando, portanto, os estudantes. Especulo, assim, que a grande disparidade entre freguesias deve ser também o resultado da disponibilidade de empregos adequados a habilitações superiores, posicionando-se as empresas geradoras dessas oportunidades em torno da cidade de Angra do Heroísmo e ficando a restante ilha relativamente desfalcada.
Discordo veementemente da ligação directa que por todo o lado se tenta fazer entre formação e emprego. Mas sabendo que os próprios jovens fazem essa ligação, suspeito que a ilha da Terceira pode não ter capacidade de reter os jovens recém-formados de agora e dos próximos anos. A ver que outras revoluções nos esperam a esse nível...
domingo, 1 de março de 2015
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