Apesar disso, tudo corria razoavelmente bem, até que, sabe-se lá porquê, uma maioria de elementos decidiu contratar um gestor para gerir o orçamento familiar. Em meia dúzia de anos o gestor remodelou o apartamento, comprou um televisor xpto e uma data de outras coisas, e a família adorou. Só depois descobriram que o gestor tinha endividado a família junto de um banco onde trabalhava um amigo, para comprar coisas nas lojas de outros amigos.
Quando a família descobriu isso, despediu o gestor e contratou outro. O
novo gestor prometeu que iria equilibrar as contas da família. Para
isso, e uma vez que a família estava fortemente endividada, incentivou
os que trabalhavam a trabalhar ainda mais, garantindo-lhes que era
importantíssimo gerarem mais riqueza. O que trabalhava muito pouco
continuou a trabalhar muito pouco. Curiosamente, o gestor continuou a
permitir que ele consumisse artigos de luxo. Mais até do que no passado!
Entretanto, para equilibrar as contas, o gestor passou a "racionalizar"
recursos: os duches de água quente passaram a ser tomados em conjunto,
foram vendidos todos os computadores e televisores excepto um de cada e
criou-se um horário para uma justa utilização por todos (o que
trabalhava muito pouco tinha o seu tablet...), também se venderam os
automóveis e os trajectos passaram a ser desenhados por um programa de
computador que optimiza percursos... Além disso, o gestor sentiu-se na
necessidade de cortar os gastos na alimentação, passando a dieta a ser
principalmente arroz e batata, na manutenção da casa, tapando-se os
remendos com o que houver à mão, na electricidade, aquecendo-se todos no
inverno à custa de calor humano e camisolas.
Finalmente, na mesma lógica de poupança de recursos, racionalização, aumento da eficiência, protecção ambiental e tudo mais, aliada à responsabilidade de quem cumpre os seus compromissos, conseguiu que a família se mudasse para um T0 de esferovite. Foi então que o gestor proclamou, orgulhoso, que tinha conseguido equilibrar o orçamento familiar! E toda a família aplaudiu!
Entretanto, o antigo gestor, o banqueiro e os fornecedores dos penduricalhos continuam a desfrutar dos rendimentos provenientes dos juros dos empréstimos que a família continua a pagar... mas a família está feliz, porque tem o orçamento equilibrado.
Finalmente, na mesma lógica de poupança de recursos, racionalização, aumento da eficiência, protecção ambiental e tudo mais, aliada à responsabilidade de quem cumpre os seus compromissos, conseguiu que a família se mudasse para um T0 de esferovite. Foi então que o gestor proclamou, orgulhoso, que tinha conseguido equilibrar o orçamento familiar! E toda a família aplaudiu!
Entretanto, o antigo gestor, o banqueiro e os fornecedores dos penduricalhos continuam a desfrutar dos rendimentos provenientes dos juros dos empréstimos que a família continua a pagar... mas a família está feliz, porque tem o orçamento equilibrado.
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