Ou: unir as pontas soltas, os rabos de fora das motivações não reveladas dos maiorais.
O coronavírus não chove das nuvens. Não viaja sentado nos raios do Sol. Ao que parece, nem sequer vai muito longe com o vento: tem de se agarrar a gotículas que caem nas superfícies ao fim de alguns metros.
Como é, então, que apareceram há uns meses uns senhores engravatados a falar-nos na "segunda vaga"? O que é que eles sabiam que nós não sabíamos?... Será que eles tinham lunetas por onde podiam ver ao longe, e lá no horizonte viram vir de lá uma legião de coronavírus montados a cavalo?... Que informação privilegiada tinham eles?
É claro, ou já devia ser, para todos, que o vírus transmite-se de umas pessoas para outras. Naturalmente, se há aumentos do número de contágios a que gostamos de chamar "vagas", isso é consequência directa e inequívoca dos comportamentos das pessoas.
Portanto, quando alguém anuncia com um mês de antecedência que os contágios vão aumentar, é porque necessariamente sabe de antemão que os comportamentos vão ser propensos a isso mesmo.
O importante a perceber aqui é que a informação não é transmitida nestes modos: as pessoas irão todas conviver nos bares de verão, portanto os contágios irão aumentar, e nós vamos permitir isso, porque isso é importante para as pessoas se divertirem e para "manter a economia a funcionar". Em vez disso a informação é-nos transmitida como uma inevitabilidade: "preparem-se, que vem aí a segunda vaga!".
O pormenor é revelador de muito.
Entre outras coisas, sempre esta coisa de "ou a economia sem saúde, ou a saúde sem economia". Uma mentira. ESTA economia só funciona assim, esta! Não outra. E o que se tenta esconder a todo o custo do esclarecimento das pessoas é precisamente a possibilidade de uma outra economia.
Se quiserem saber de que outra economia estou a falar, procurem, leiam. Eu próprio já escrevi muito sobre isso.
Agora, no entanto, vem mais um relatório do Centro Europeu para a Prevenção e Controlo das Doenças falar na possibilidade de aumento do número de contágios num futuro próximo. Imediatamente as rádios e televisões anunciam "vem aí a terceira vaga!". Automaticamente o cidadão comum pensa "ai Jesus, o que é que se há-de fazer?"...
Só que o relatório não diz "o que é que se há-de fazer". Pelo contrário, associa directamente a evolução do número de contágios com as políticas que são seguidas. Por exemplo, diz:
"Para dez países que implementaram novas políticas de restrição no final de Outubro ou no início de Novembro de 2020, estimamos que a eficácia seja tão forte como na primeira vaga e que a taxa à qual esta nova vaga volte a ser controlada seja comparável com o a da vaga anterior." (ver aqui, página 16)
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