tenho um sortido
de parafusos contorcidos
apanhados por aí
nos caminhos que percorro
à velocidade que consigo
com um par de rodas
e um par de pernas
a caminho do antigo.
parafusos,
filetes revolvidos,
voltas sulcadas nos fusos
de vidas que dão voltas...
mas são rectilíneas!
encontro-os por aí
caídos no chão duro
que nos ampara a todos.
base firme
sobre a qual ora construímos
as mais frutíferas paixões
ora as desmioladas opiniões
que ornamentam os tolos.
à velocidade que consigo
sigo à margem dos que vão
fugidos daqui
futuros de si
de chaves na mão.
só eu sei que
quando lá chegam
não chegam apenas mais leves
mas também menos conexos.
afinal é para permitir
raciocínios complexos
e dar miolo aos sexos
que se sulcam e aparafusam
pernos de revolvidos filetes.
páro no meu caminho por isso.
pego no pedaço perdido
parafuso sempre contorcido
e levo-o até casa comigo
para o adicionar ao sortido.
tenho-os de todos os tipos
guardados em frascos de vidro
consoante o comprimento.
aparentemente fúteis,
guardo-os com carinho
pois certo chegará o momento
em que se tornarão úteis
a unir peças no caminho.
awf, angra do heroísmo, março 2021
(na parede do hospital Júlio de Matos, Lisboa, 2013)
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