Ser de esquerda hoje
é não ter medo da palavra esquerda
e não a deslocar ao sabor do centro
é não ter vergonha
das coisas vividas e dos textos lidos
é não pôr entre parêntesis
os pressupostos do que fazemos.
A emancipação dos trabalhadores
será obra dos próprios trabalhadores
ou então não será.
É não perder a memória
e não permitir que a direita
se cubra dos louros das nossas vitórias
e seja opressor em nome da liberdade
é não entregar a política aos políticos
a arte aos artistas
o saber aos sábios
é não fazer do mal-estar
uma desculpa para não estar
é uma maneira de viver
onde o autoritarismo não cabe
e onde a aventura tem lugar
é sentir-se estranho
onde não há espaço para propor, decidir, imaginar
é preferir trabalhar com os outros
do que fechado num quarto
é gostar de estar onde alguma coisa mexe
e ser solidário nas pequenas novidades que despontam
é ter que tomar partido
contra as repressões e explorações diárias
uma luta contínua contra os lugares comuns
desta sociedade de consumos vários
é admitir a subversão
é assumir a diferença
é ter curiosidade pela realidade
e acreditar que a podemos transformar
é saber que nada acontece por acaso
é a crítica permanente dos poderes
é a desconfiança das máscaras todas
tecnocracias, burocracias, pragmatismos
dos apolíticos e dos neutros
é viver com uma utopia dentro da cabeça e da vontade
e duvidar do chamado realismo
é perceber que a alegria é possível
e que não vem nas embalagens de champô
é achar que vale a pena.
É isto tudo ao mesmo tempo
e é tentar não cortar a nossa vida às fatias
para pôr uma razão diferente em cada uma
e é gostar dos riscos que corremos.
Retirado do filme "25 anos de paciência impaciente", PSR, 1998, disponível na Internet, entre os minutos 33 e 35.
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