sexta-feira, 26 de abril de 2019
Em toda a parte...
Estás em toda a parte
dentro de mim
tudo és tu.
Fora de mim
para mim
tudo és tu.
Os campos, as paisagens
o som e o silêncio,
o ruído e a música,
a história e o presente,
o feio e o belo,
os calhaus, as árvores,
os pássaros, os bichos,
os jogos, os enigmas...
O respeito, a contenção,
o brio, o equilíbrio...
Tudo aos meus olhos
e nos meus olhos
és tu.
Eu sou tu.
Mas tu és mais do que isso.
E agora sou só eu.
Todas as questões
que contigo partilhava,
investigações conjuntas...
Agora sou só eu
à procura das respostas.
E quando as encontro,
se as encontro,
fico com elas na mão,
no coração,
a querer dizer "olha!"
e a perguntar o que achas.
Fico eu,
as perguntas
e as respostas
a compor
um irremediável vazio.
Um longo e irremediável vazio,
sem eco.
...
I love you mom.
Thanks. So much.
Por tudo o que me deste.
E também pela beleza
e pela beleza com que o fizeste.
Thanks.
domingo, 21 de abril de 2019
Necessidade da vida...
Não, o significado do título deste artigo não é de que temos necessidade de vida. Embora sem vida, claro, não poderia escrever isto agora... A palavra "necessidade" é empregue no seu sentido de algo que tem de ser assim e não pode ser doutro modo.
A minha tese é então a de que a vida existe porque tem de existir, e não poderia ser de outro modo. Será, porventura, o contrário da tese de que a existência de vida é um milagre. Eu afirmo o oposto: seria um milagre se não houvesse vida!
Ao contrário do que pode parecer ao primeiro pensamento, a distinção entre um ser vivo e algo sem vida não é assim tão evidente. Se essa não evidência não for evidente (!), tentemos analisar o que se passa com seres cada vez mais pequenos. Pensemos numa bactéria, por exemplo. Porque é que está viva? Uma resposta ao estilo da escola primária diria que está viva porque nasce, cresce, reproduz-se, faz mais alguma coisa... e morre.
Mas pelo mesmo critério, outras coisas que geralmente consideramos mortas também poderão ser consideradas vivas... Por exemplo os cristais. Também podem nascer, crescer, reproduzir-se, fazer alguma coisa e desaparecer, ou morrer. Os cristais nascem num meio com concentrações adequadas de certos elementos químicos, num local onde houver um objecto que sirva para a nucleação, crescem através da utilização de energia (eléctrica, térmica, química, etc.) e até se podem "reproduzir", uma vez que um pequeno fragmento de cristal pode servir de nucleação para o crescimento doutro cristal... (Ou será para o contínuo crescimento do cristal original?... Questão, aliás, que também se coloca nos seres vivos de reprodução assexuada.)
Vejamos um simples exemplo do crescimento de dendrites (que também podemos ver em tempo real nas janelas dos aviões comerciais):
Posso pensar em dunas... A uma escala geológica até posso pensar nos próprios continentes, ou até nas estrelas... Também podemos considerar que as estrelas estão vivas!... Ou não.
Tomemos o caso dos vírus. Num dicionário online é possível começar a ler que vírus são "microorganismos acelulares...". Que não contêm células ou que não são uma célula, poderá ser um ponto assente. Mas serão microorganismos?... A verdade é que nascem, crescem, reproduzem-se, fazem alguma outra coisa e eventualmente morrem.
Mas vejamos o seguinte vídeo:
Os vírus têm genes e evoluem por selecção natural. Um pouco mais sofisticado que os cristais, sem dúvida! Mas não se organizam em células e não têm fontes de transformação de energia próprias. Os vírus são uma "coisa" que está ali entre um calhau e uma bactéria, algures no limite daquilo que se pode considerar vivo.
Vistos a partir dos seus constituintes, os vírus são apenas ácido nucleico e proteína envolvente. O vírus da necrose do tabaco tem uma molécula de ácido ribonucleico com 3759 nucleótidos e uma proteína nos seus capsómeros. Ou seja, os vírus podem ser arranjos não muito complexos de alguns milhares ou dezenas de milhares de átomos.
Agora a questão mais interessante: porque é que os vírus infectam as bactérias, as células, e com isso todos os organismos? Será que os vírus têm vontade disso? Será que são "maus"?...
No vídeo em cima vemos como os vírus se montam a si próprios a partir das suas partes constituintes. Mas isso não acontece com consciência do vírus, porque o vírus não tem consciência (creio!). Isso acontece porque os átomos, unidos daquele modo, fazem moléculas que têm determinadas propriedades electroquímicas. E essas propriedades fazem com que as moléculas se comportem de um determinado modo.
Imaginemos que deito uns grãos de sal num copo de água. Bastará adicionar tempo, mesmo que seja um dia inteiro, para que o sal se dissolva na água. Isso acontece porque os dois átomos de hidrogénio se unem ao átomo de oxigénio em cada molécula de água de uma forma assimétrica, deixando um lado da molécula da água com uma carga ligeiramente positiva e o outro lado com uma carga ligeiramente negativa. E como o sal de cozinha é composto de uma estrutura cristalina de átomos de cloro e de sódio, em que os átomos de sódio têm uma carga ligeiramente positiva e os átomos de cloro uma carga ligeiramente negativa, as moléculas da água irão atrair estes átomos para fora do seu cristal.
As moléculas da água dissolvem o sal não porque queiram ou porque o sal tenha vontade de ser dissolvido; a dissolução acontece simplesmente porque as moléculas e os átomos em causa têm determinadas propriedades.
Assim acontece também com os vírus. As moléculas que compõem os vírus têm determinadas propriedades. Não têm vontade própria. Simplesmente sujeitam-se às mesmas leis da física que afectam tudo o que existe neste mundo. E portanto fazem o que fazem porque, para estas leias da física, tem mesmo de ser assim, não podia ser de qualquer outro modo.
(Um aparte, já agora, para acalmar crentes em um ou mais deuses que sintam que o meu discurso pode ser um ataque à noção de intervenção divina na origem da vida: não há necessidade de agitação!... A existência ou não de algum deus é sempre impossível de provar. Se eu disser que a vida é inevitável por causa da existência de determinadas leis, estou simplesmente a deslocar o limite da minha ignorância um pouco mais para lá. E qualquer crente poderá argumentar, com confiança, que a existência destas leis da física é um argumento a favor da existência de um deus. Como, aliás, também fazia Einstein.)
Os vírus, se os considerarmos como os mais simples seres vivos que existem, fazem o que fazem simplesmente porque as suas moléculas obedecem às leis da física. E se isso é assim, porque não dizer o mesmo de seres vivos mais complexos, como as bactérias?
E a mesma argumentação pode servir para afirmar que a vida na Terra existe e é como é porque não poderia ser de outro modo.
A consciência, no entanto, é toda uma outra coisa!...
Podemos entrar num interminável debate acerca da existência ou não de livre vontade... Se aplicarmos o mesmo raciocínio que desenvolvi em cima para seres vivos cada vez mais complexos, poderemos chegar à conclusão de que nós mesmos fazemos o que fazemos porque obedecemos a leis físicas, e não poderíamos nunca agir de outro modo, dados os nossos contextos. Este é um tema filosófico recorrente que, para quem nunca pensou nisso, pode parecer estranho. No entanto, aquilo que nos pode parecer evidente, nomeadamente a existência da nossa vontade, pode não ser assim tão fácil de demonstrar se nos propusermos verdadeiramente a fazer isso.
Mas independentemente de termos ou não termos livre arbítrio, creio que ninguém negará que temos consciência. Nem que, como alguns afirmam, vivamos num sonho, ainda assim teremos consciência do conteúdo desse sonho. E temos consciência de nós próprios, da nossa existência.
Os humanos têm insistido ao longo da sua história nesse exercício de vaidade que é encontrar características que o distingam dos outros seres vivos (para melhor, claro!). Durante muito tempo estávamos convencidos que éramos os únicos seres vivos que possuíam consciência de si próprios. Hoje as coisas já não são assim tão claras e várias experiências parecem demonstrar que muitos outros seres vivos aparentam ter consciência de si próprios. Até os peixes!
E isso remete-me para a imagem que nunca me saiu da cabeça quando li pela primeira vez, em 1988, o livro "um pouco mais de azul", de Hubert Reeves. Esse foi o livro que me despertou para a cosmologia e simultaneamente para questões sobre o mundo físico e sobre a nossa própria existência. Nessa imagem podiam ver-se os olhos de uma criança e os olhos de um lémure. A legenda dizia algo como: o universo contempla-se a si próprio.
E isso é que é, aos meus olhos, verdadeiramente milagroso!... A vida, nas suas formas mais simples, e mesmo que aparentemente rara no nosso universo, parece-me até relativamente banal. Certamente nada miraculosa. Acredito que, dadas as condições certas, a vida tem de surgir, quer se queira quer não. E acredito que se a achamos rara no universo em que vivemos, é só porque o universo é muito vasto e nós não conseguimos ver bem.
Mas que a vida evolua até formas conscientes, que um conjunto de átomos, conforme se diz na legenda da imagem em cima, se consiga ordenar de forma a poder "ver" o universo, sentir-se a si próprio e pensar isso tudo, o universo e o seu lugar nele... que os átomos consigam pensar acerca de si próprios... isso sim, é para mim completamente arrebatador!
A minha tese é então a de que a vida existe porque tem de existir, e não poderia ser de outro modo. Será, porventura, o contrário da tese de que a existência de vida é um milagre. Eu afirmo o oposto: seria um milagre se não houvesse vida!
Ao contrário do que pode parecer ao primeiro pensamento, a distinção entre um ser vivo e algo sem vida não é assim tão evidente. Se essa não evidência não for evidente (!), tentemos analisar o que se passa com seres cada vez mais pequenos. Pensemos numa bactéria, por exemplo. Porque é que está viva? Uma resposta ao estilo da escola primária diria que está viva porque nasce, cresce, reproduz-se, faz mais alguma coisa... e morre.
Mas pelo mesmo critério, outras coisas que geralmente consideramos mortas também poderão ser consideradas vivas... Por exemplo os cristais. Também podem nascer, crescer, reproduzir-se, fazer alguma coisa e desaparecer, ou morrer. Os cristais nascem num meio com concentrações adequadas de certos elementos químicos, num local onde houver um objecto que sirva para a nucleação, crescem através da utilização de energia (eléctrica, térmica, química, etc.) e até se podem "reproduzir", uma vez que um pequeno fragmento de cristal pode servir de nucleação para o crescimento doutro cristal... (Ou será para o contínuo crescimento do cristal original?... Questão, aliás, que também se coloca nos seres vivos de reprodução assexuada.)
Vejamos um simples exemplo do crescimento de dendrites (que também podemos ver em tempo real nas janelas dos aviões comerciais):
Posso pensar em dunas... A uma escala geológica até posso pensar nos próprios continentes, ou até nas estrelas... Também podemos considerar que as estrelas estão vivas!... Ou não.
Tomemos o caso dos vírus. Num dicionário online é possível começar a ler que vírus são "microorganismos acelulares...". Que não contêm células ou que não são uma célula, poderá ser um ponto assente. Mas serão microorganismos?... A verdade é que nascem, crescem, reproduzem-se, fazem alguma outra coisa e eventualmente morrem.
Mas vejamos o seguinte vídeo:
Os vírus têm genes e evoluem por selecção natural. Um pouco mais sofisticado que os cristais, sem dúvida! Mas não se organizam em células e não têm fontes de transformação de energia próprias. Os vírus são uma "coisa" que está ali entre um calhau e uma bactéria, algures no limite daquilo que se pode considerar vivo.
Vistos a partir dos seus constituintes, os vírus são apenas ácido nucleico e proteína envolvente. O vírus da necrose do tabaco tem uma molécula de ácido ribonucleico com 3759 nucleótidos e uma proteína nos seus capsómeros. Ou seja, os vírus podem ser arranjos não muito complexos de alguns milhares ou dezenas de milhares de átomos.
Agora a questão mais interessante: porque é que os vírus infectam as bactérias, as células, e com isso todos os organismos? Será que os vírus têm vontade disso? Será que são "maus"?...
No vídeo em cima vemos como os vírus se montam a si próprios a partir das suas partes constituintes. Mas isso não acontece com consciência do vírus, porque o vírus não tem consciência (creio!). Isso acontece porque os átomos, unidos daquele modo, fazem moléculas que têm determinadas propriedades electroquímicas. E essas propriedades fazem com que as moléculas se comportem de um determinado modo.
Imaginemos que deito uns grãos de sal num copo de água. Bastará adicionar tempo, mesmo que seja um dia inteiro, para que o sal se dissolva na água. Isso acontece porque os dois átomos de hidrogénio se unem ao átomo de oxigénio em cada molécula de água de uma forma assimétrica, deixando um lado da molécula da água com uma carga ligeiramente positiva e o outro lado com uma carga ligeiramente negativa. E como o sal de cozinha é composto de uma estrutura cristalina de átomos de cloro e de sódio, em que os átomos de sódio têm uma carga ligeiramente positiva e os átomos de cloro uma carga ligeiramente negativa, as moléculas da água irão atrair estes átomos para fora do seu cristal.
As moléculas da água dissolvem o sal não porque queiram ou porque o sal tenha vontade de ser dissolvido; a dissolução acontece simplesmente porque as moléculas e os átomos em causa têm determinadas propriedades.
Assim acontece também com os vírus. As moléculas que compõem os vírus têm determinadas propriedades. Não têm vontade própria. Simplesmente sujeitam-se às mesmas leis da física que afectam tudo o que existe neste mundo. E portanto fazem o que fazem porque, para estas leias da física, tem mesmo de ser assim, não podia ser de qualquer outro modo.
(Um aparte, já agora, para acalmar crentes em um ou mais deuses que sintam que o meu discurso pode ser um ataque à noção de intervenção divina na origem da vida: não há necessidade de agitação!... A existência ou não de algum deus é sempre impossível de provar. Se eu disser que a vida é inevitável por causa da existência de determinadas leis, estou simplesmente a deslocar o limite da minha ignorância um pouco mais para lá. E qualquer crente poderá argumentar, com confiança, que a existência destas leis da física é um argumento a favor da existência de um deus. Como, aliás, também fazia Einstein.)
Os vírus, se os considerarmos como os mais simples seres vivos que existem, fazem o que fazem simplesmente porque as suas moléculas obedecem às leis da física. E se isso é assim, porque não dizer o mesmo de seres vivos mais complexos, como as bactérias?
E a mesma argumentação pode servir para afirmar que a vida na Terra existe e é como é porque não poderia ser de outro modo.
A consciência, no entanto, é toda uma outra coisa!...
Podemos entrar num interminável debate acerca da existência ou não de livre vontade... Se aplicarmos o mesmo raciocínio que desenvolvi em cima para seres vivos cada vez mais complexos, poderemos chegar à conclusão de que nós mesmos fazemos o que fazemos porque obedecemos a leis físicas, e não poderíamos nunca agir de outro modo, dados os nossos contextos. Este é um tema filosófico recorrente que, para quem nunca pensou nisso, pode parecer estranho. No entanto, aquilo que nos pode parecer evidente, nomeadamente a existência da nossa vontade, pode não ser assim tão fácil de demonstrar se nos propusermos verdadeiramente a fazer isso.
Mas independentemente de termos ou não termos livre arbítrio, creio que ninguém negará que temos consciência. Nem que, como alguns afirmam, vivamos num sonho, ainda assim teremos consciência do conteúdo desse sonho. E temos consciência de nós próprios, da nossa existência.
Os humanos têm insistido ao longo da sua história nesse exercício de vaidade que é encontrar características que o distingam dos outros seres vivos (para melhor, claro!). Durante muito tempo estávamos convencidos que éramos os únicos seres vivos que possuíam consciência de si próprios. Hoje as coisas já não são assim tão claras e várias experiências parecem demonstrar que muitos outros seres vivos aparentam ter consciência de si próprios. Até os peixes!
E isso remete-me para a imagem que nunca me saiu da cabeça quando li pela primeira vez, em 1988, o livro "um pouco mais de azul", de Hubert Reeves. Esse foi o livro que me despertou para a cosmologia e simultaneamente para questões sobre o mundo físico e sobre a nossa própria existência. Nessa imagem podiam ver-se os olhos de uma criança e os olhos de um lémure. A legenda dizia algo como: o universo contempla-se a si próprio.
E isso é que é, aos meus olhos, verdadeiramente milagroso!... A vida, nas suas formas mais simples, e mesmo que aparentemente rara no nosso universo, parece-me até relativamente banal. Certamente nada miraculosa. Acredito que, dadas as condições certas, a vida tem de surgir, quer se queira quer não. E acredito que se a achamos rara no universo em que vivemos, é só porque o universo é muito vasto e nós não conseguimos ver bem.
Mas que a vida evolua até formas conscientes, que um conjunto de átomos, conforme se diz na legenda da imagem em cima, se consiga ordenar de forma a poder "ver" o universo, sentir-se a si próprio e pensar isso tudo, o universo e o seu lugar nele... que os átomos consigam pensar acerca de si próprios... isso sim, é para mim completamente arrebatador!
sexta-feira, 19 de abril de 2019
Alarga os horizontes!...
Antídoto contra o medo e a tacanhez, ode à vida. Está aí tudo. De Antero de Quental, em 1865.
Alarga os Teus Horizontes
Por que é que combateis? Dir-se-á, ao ver-vos,
Que o Universo acaba aonde chegam
Os muros da cidade, e nem há vida
Além da órbita onde as vossas giram,
E além do Fórum já não há mais mundo!
Tal é o vosso ardor! tão cegos tendes
Os olhos de mirar a própria sombra,
Que dir-se-á, vendo a força, as energias
Da vossa vida toda, acumuladas
Sobre um só ponto, e a ânsia, o ardente vórtice,
Com que girais em torno de vós mesmos,
Que limitais a terra à vossa sombra...
Ou que a sombra vos torna a terra toda!
Dir-se-á que o oceano imenso e fundo e eterno,
Que Deus há dado aos homens, por que banhem
O corpo todo, e nadem à vontade,
E vaguem a sabor, com todo o rumo,
Com todo o norte e vento, vão e percam-se
De vista, no horizonte sem limites...
Dir-se-á que o mar da vida é gota d'água
Escassa, que nas mãos vos há caído,
De avara nuvem que fugiu, largando-a...
Tamanho é o ódio com que a uns e a outros
A disputais, temendo que não chegue!
Homens! para quem passa, arrebatado
Na corrente da vida, nessas águas
Sem limites, sem fundo - há mais perigo
De se afogar, que de morrer à sede!
De que vale disputar o espaço estreito,
Que cobre a sombra da árvore da pátria,
Quando são vossos cinco continentes?
De que vale apinhar-se junto à fonte
Que - fininha - brotou por entre as urzes,
Quando há sete mil ondas por cada homem?
De que vale digladiar por uma fita,
Que mal cobre um botão, quando estendida
Deus pôs sobre a cabeça de seus filhos
A tenda, de ouro e azul, do firmamento?
De que vale concentrar-se a vida toda
Numa paixão apenas, quando o peito
É tão rico, que basta dar-lhe um toque
Por que brotem, aos mil, os sentimentos?!
Oh! a vida é um abismo! mas fecundo!
Mas imenso! tem luz - e luz que cegue.
Inda a águia de Patmos - e tem sombras
E tem negrumes, como o antigo Caos:
Tem harmonias, que parecem sonhos
De algum anjo dormido; e tem horrores
Que os nem sonha o delírio!
É imensa a vida,
Homens! não disputeis um raio escasso
Que vem daquele sol; a ténue nota,
Que vos chega daquelas harmonias;
a penumbra, que escapa àquelas sombras;
O tremor, que vos vem desses horrores.
Sol e sombras, horror e harmonias
De quem é isto, se não é do homem?!
Não disputeis, curvado o corpo todo,
As migalhas da mesa do banquete:
Erguei-vos! e tomai lugar á mesa...
Que há lugar no banquete para todos:
Que a vida não é átomo tenuíssimo,
Que um feliz apanhou, no ar, voando,
E guardou para si, e os outros, pobres,
Deserdados, invejam - é o ar todo,
Que respiramos; e esse, inda mais livre,
Que nos respira a alma - a terra firma.
Onde pomos os pés, e o céu profundo
Aonde o olhar erguemos - é o imenso,
Que se infiltra do átomo ao colosso;
Que se ocultou aqui, e além se mostra;
Que traz a luz dourada, e leva a treva;
Que dá raiva às paixões, e unge os seios
Com o bálsamo do amor; que ao vício, ao crime,
Agita, impele, anima, e que à virtude
Lá dá consolações - que beija as frontes
De povo e rei, de nobre e de mendigo;
E embala a flor, e eleva as grandes vagas;
Que tem lugar no seio, para todos;
Que está no rir, e está também nas lágrimas,
E está na bacanal como na prece!...
Antero de Quental, in 'Odes Modernas - Vida'
Alarga os Teus Horizontes
Por que é que combateis? Dir-se-á, ao ver-vos,
Que o Universo acaba aonde chegam
Os muros da cidade, e nem há vida
Além da órbita onde as vossas giram,
E além do Fórum já não há mais mundo!
Tal é o vosso ardor! tão cegos tendes
Os olhos de mirar a própria sombra,
Que dir-se-á, vendo a força, as energias
Da vossa vida toda, acumuladas
Sobre um só ponto, e a ânsia, o ardente vórtice,
Com que girais em torno de vós mesmos,
Que limitais a terra à vossa sombra...
Ou que a sombra vos torna a terra toda!
Dir-se-á que o oceano imenso e fundo e eterno,
Que Deus há dado aos homens, por que banhem
O corpo todo, e nadem à vontade,
E vaguem a sabor, com todo o rumo,
Com todo o norte e vento, vão e percam-se
De vista, no horizonte sem limites...
Dir-se-á que o mar da vida é gota d'água
Escassa, que nas mãos vos há caído,
De avara nuvem que fugiu, largando-a...
Tamanho é o ódio com que a uns e a outros
A disputais, temendo que não chegue!
Homens! para quem passa, arrebatado
Na corrente da vida, nessas águas
Sem limites, sem fundo - há mais perigo
De se afogar, que de morrer à sede!
De que vale disputar o espaço estreito,
Que cobre a sombra da árvore da pátria,
Quando são vossos cinco continentes?
De que vale apinhar-se junto à fonte
Que - fininha - brotou por entre as urzes,
Quando há sete mil ondas por cada homem?
De que vale digladiar por uma fita,
Que mal cobre um botão, quando estendida
Deus pôs sobre a cabeça de seus filhos
A tenda, de ouro e azul, do firmamento?
De que vale concentrar-se a vida toda
Numa paixão apenas, quando o peito
É tão rico, que basta dar-lhe um toque
Por que brotem, aos mil, os sentimentos?!
Oh! a vida é um abismo! mas fecundo!
Mas imenso! tem luz - e luz que cegue.
Inda a águia de Patmos - e tem sombras
E tem negrumes, como o antigo Caos:
Tem harmonias, que parecem sonhos
De algum anjo dormido; e tem horrores
Que os nem sonha o delírio!
É imensa a vida,
Homens! não disputeis um raio escasso
Que vem daquele sol; a ténue nota,
Que vos chega daquelas harmonias;
a penumbra, que escapa àquelas sombras;
O tremor, que vos vem desses horrores.
Sol e sombras, horror e harmonias
De quem é isto, se não é do homem?!
Não disputeis, curvado o corpo todo,
As migalhas da mesa do banquete:
Erguei-vos! e tomai lugar á mesa...
Que há lugar no banquete para todos:
Que a vida não é átomo tenuíssimo,
Que um feliz apanhou, no ar, voando,
E guardou para si, e os outros, pobres,
Deserdados, invejam - é o ar todo,
Que respiramos; e esse, inda mais livre,
Que nos respira a alma - a terra firma.
Onde pomos os pés, e o céu profundo
Aonde o olhar erguemos - é o imenso,
Que se infiltra do átomo ao colosso;
Que se ocultou aqui, e além se mostra;
Que traz a luz dourada, e leva a treva;
Que dá raiva às paixões, e unge os seios
Com o bálsamo do amor; que ao vício, ao crime,
Agita, impele, anima, e que à virtude
Lá dá consolações - que beija as frontes
De povo e rei, de nobre e de mendigo;
E embala a flor, e eleva as grandes vagas;
Que tem lugar no seio, para todos;
Que está no rir, e está também nas lágrimas,
E está na bacanal como na prece!...
Antero de Quental, in 'Odes Modernas - Vida'
terça-feira, 16 de abril de 2019
Aquecimento...
Depois de ter passado uma semana no continente português com temperaturas claramente abaixo do normal para a época, e depois de ter regressado aos Açores ainda com temperaturas abaixo do normal para a época, e sabendo que essas temperaturas baixas resultam de massas de ar que se deslocam para sudeste e depois num movimento anti-horário em direcção à Grã-Bretanha, a partir da Gronelândia e do Mar de Labrador, ocorreu-me...
O Árctico deve estar a descongelar!!...
Pensamento simples: se há ar frio do Árctico a viajar para latitudes menores, então tem de haver ar de latitudes menores a deslocar-se para o Árctico para o substituir.
Procurei... e para grande tristeza minha, aqui está, o desenho meio feito do mês de Abril com menos gelo no Árctico desde que há registo de semelhante grandeza:
Claro que sim!!!!... Claro que sim!!... Quem é o lunático que acreditava que ia ser de outra forma?...
É matemático que para inverter a tendência de... faltam-me as palavras... de extorsão?... de esquartejamento?... de chupismo?... para inverter essa tendência no planeta seria necessário promover políticas de:
E quantas pessoas vocês conhecem que defendem semelhante conjunto de políticas?... Provavelmente nenhuma.
Enfim... o resto será história.
O Árctico deve estar a descongelar!!...
Pensamento simples: se há ar frio do Árctico a viajar para latitudes menores, então tem de haver ar de latitudes menores a deslocar-se para o Árctico para o substituir.
Procurei... e para grande tristeza minha, aqui está, o desenho meio feito do mês de Abril com menos gelo no Árctico desde que há registo de semelhante grandeza:
(Retirado daqui. Podem e devem ir consultando e vendo o gráfico a desenhar-se com o passar dos dias)
Só alguém que está longe da realidade do mundo em que vive é que acreditaria que as turbinas eólicas iriam inverter a tendência do aquecimento do planeta.
Aquecimento, e não só! Aparte para realçar que os problemas que afectam os equilíbrios ecológicos são infelizmente muitos mais para além do aquecimento global, e alguns deles simultaneamente mais simples de entender e com mais impacto. Sim, com mais impacto... Porque parece que a grande cena é a subida dos oceanos, mas para um número indeterminado de espécies em florestas tropicais por este planeta fora, por exemplo, a destruição dos seus habitats tem repercussões muitíssimo mais graves e imediatas do que o aquecimento global. Mas enfim... fiquemo-nos pelo aquecimento global como indicador do resto, dos incêndios, dos plásticos nos oceanos, das intoxicações com substâncias perigosas, da estratégias agrícolas que minam a biodiversidade, etc, etc, etc.
- A população mundial continua a aumentar a um ritmo de quase 200 mil pessoas por dia.
- O frenesim económico mundial continua a aumentar a ritmos de 3% ao ano (per capita e à paridade de poderes de compra).
- O número de automóveis continua a aumentar a ritmos semelhantes de 3% ao ano.
- Os passageiros aéreos têm aumentado a taxas próximas de 7% ao ano.
- O consumo energético por pessoa no mundo inteiro tem crescido a taxas médias de 1% ao ano.
Claro que sim!!!!... Claro que sim!!... Quem é o lunático que acreditava que ia ser de outra forma?...
É matemático que para inverter a tendência de... faltam-me as palavras... de extorsão?... de esquartejamento?... de chupismo?... para inverter essa tendência no planeta seria necessário promover políticas de:
- Controlo de natalidade.
- Decrescimento económico.
- Diminuição do uso do automóvel e eventual substituição por meios de transporte alternativos que consumam menos energia (não interessa tanto se são eléctricos ou não, o importante é que consumam menos energia).
- Diminuição das viagens de avião.
- Diminuição do consumo de energia nas actividades quotidianas (não interessa tanto implementar algumas políticas de aumento de eficiência que só fazem cócegas como desligar as lâmpadas quando não são necessárias, interessa mais políticas do tipo de deixar de tomar banhos quentes todos os dias).
E quantas pessoas vocês conhecem que defendem semelhante conjunto de políticas?... Provavelmente nenhuma.
Enfim... o resto será história.
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