terça-feira, 26 de abril de 2011
Nós somos diferentes dos outros bichos...
Filme, de 2 horas, que pode ser visto aqui ou aqui.
Como já tive oportunidade de comentar com a pessoa que me mostrou isto, é um filme com imagens muito belas, que a meu ver ficaria bem como introdução a uma reflexão mais profunda sobre o tema. Esta seria a primeira parte: onde estamos. A que se deveriam seguir outras (como chegámos aqui, para onde queremos ir, como chegaremos lá, como não chegaremos lá...). No final do filme tenta-se abordar um pouco estas questões, mas de forma muito superficial... Um final um pouco nhó-nhó, mas um filme que vale a pena ser visto.
quinta-feira, 21 de abril de 2011
A revolução é uma questão de bom senso...
"...quando se fala de crise, a maior parte dessas pessoas que falam disso esquecem-se que há uma grande parte da população portuguesa e mundial que está sempre em crise, e para quem não faz sentido nenhum estar-se agora a falar da crise, porque crise é a vida toda deles."
"...que é uma coisa que às vezes as pessoas não pensam, é que nisto tudo há uma questão de bom senso. O sistema em que a gente vive é um sistema irracional e desumano, e quando o povo cai em si e percebe que vindo para a rua pode impor o bom senso... a revolução para mim é uma questão de bom senso, é uma questão de... quase de evidência, pôr as coisas no sítio. E nós já sabemos o suficiente para pôr as coisas no sítio."
Entrevista do José Mário Branco, de 14 minutos, difundida hoje na Antena1, num prelúdio do evento de logo à noite, em Braga.
Obrigado Zé Mário.
terça-feira, 19 de abril de 2011
A caminho do trabalho...
Pelo Campo Grande e Avenida Brasil até ao LNEC, num dia normal... A música, escolhida sem nenhum motivo muito especial, chama-se Zelzah, do álbum "Nascer", de Peter Epstein, João Paulo e Ricardo Dias.
As abelhas fazem mel...
segunda-feira, 18 de abril de 2011
A ubiquidade do Senhor...
(Deus é surrealista!)
Era uma vez um Deus a quem tinham dito que devia estar em todo o lado ao mesmo tempo. O Deus, preocupado em cumprir o seu desígnio, corria desalmadamente por toda a parte, sempre à espera de se encontrar a si próprio. Corria, corria, corria, mas sem sucesso. E correr muito dá uma fome demoníaca!
Os dias passaram, o Deus sempre à procura de si e sempre a comer como um pobre Diabo.
Até que um dia Deus se cansou. Foi no sábado à noite que decidiu que não estava mais para aquilo. E deixou de correr.
Deixou de correr, mas o hábito de comer já estava entranhado, e passou a engordar. Comeu, comeu, comeu e engordou, engordou, engordou... Engordou tanto, tanto... que um dia, ao abrir o frigorífico para ir buscar uma cervejinha e uns tremoços, encontrou-se! Estava, finalmente, em toda a parte!
É precisamente porque Deus está em toda a parte, que ele não precisa de se mexer para chegar a lado algum. Quanto mais gordo for, menos precisa de se mexer, e mais engorda, diminuindo ainda mais a necessidade (possibilidade?) de se mexer. Inversamente, quanto mais magro for, mais precisa de se mexer, e mais emagrece, aumentando ainda mais a necessidade de se mexer...
Pelo menos foi isso que concluímos quando no último passeio na Serra de Aire, neste sábado, não o encontrámos lá por cima a passear também!
L Princepico...
Assisti na passada sexta a uma (pelos vistos houve mais) cerimónia de lançamento do famigerado livro de Antoine de Saint-Exupéry, mas desta vez em mirandês!
Cerimónias de lançamento ou inauguração do que quer que seja costumam ser eventos a evitar a todo o custo: não se passa lá mais nada do que um espectáculo de vaidades alantejouladas ao brilho dos disparos das máquinas fotográficas. Mas a história do principezinho e os seus significados (que não são tão ambíguos ou escondidos quanto isso) são coisas de que eu tento não me esquecer nos dias em que estou vivo. O mirandês, por outro lado, é uma língua que não conheço (tanto quanto é possível a um português não o conhecer...), mas que tenho ao longo dos anos aprendido a valorizar. E, portanto, juntando uma coisa à outra, decidi que ia arriscar...
Eram quatro os oradores na mesa. A primeira intervenção, se não estou em erro de uma representante da editora, trouxe os salamaleques da praxe. E eu a pensar "ai, ai... no que me vim meter...". Isto depois de ter estado mais de meia hora à espera, desde a hora marcado, sentado numa das cadeiras da sala, quase às moscas, e de ter assistido à chegada do cortejo - oradores, convidados, jornalistas, tudo numa azáfama de gente importante que faz coisas importantes - que rapidamente encheu a sala. Encheu mesmo a sala... Pensei "que bom, tanta gente interessada nisto!...".
A segunda intervenção foi do Pedro Granger, o palhaço de serviço. Palhaço no bom sentido, porque claramente era a cara conhecida do evento, e além disso forneceu (emprestou, como fez questão de salientar) a sua colecção de traduções do livro e outros penduricalhos com ele relacionados. Uma das traduções era esta, para a linguagem T9, que pelos vistos é utilizada nos telemóveis... Uma brincadeira!...
É uma colecção interessante, mas perfeitamente dispensável. "O essencial é invisível aos olhos", como diria o próprio Exupéry...
Palhaço também no mau sentido. Com o ego cheio e a voz colocada como quem domina a situação, o menino fisionomicamente assemelhado ao principezinho, tratou de explicar como os pais e os amigos o ajudaram a juntar tantos penduricalhos, e como já faz reuniões com a mãe para decidir onde colocar tanta coisa. Sobre o conteúdo do livro, nada. Sobre o mirandês, disse que é um dialecto muito giro...
Não se pode exigir a todas as pessoas (ou talvez se possa, não sei) que saibam que o mirandês não é um dialecto, mas sim a segunda língua oficial de Portugal. Mas quando se é o palhaço de serviço numa cerimónia de lançamento de um livro em mirandês, talvez fosse de bom tom fazer o trabalho de casa antes de abrir a boca para dizer disparates!... Mas o pior estava para vir...
Falou então a Ana Afonso, tradutora da obra para mirandês. Finalmente a coisa começou a ganhar interesse, porque o seu discurso foi em mirandês e sobre mirandês. E por fim interveio o Domingos Raposo, que teve na tradução o papel de consultor, justiça feita ao conhecimento superior que tem em matérias da língua mirandesa (e não apenas). E então comecei verdadeiramente a gostar.
Um discurso apoiado num texto preparado, mas que serviu de base apenas para o que a alma e o momento exigiam. Pausadamente, sempre em mirandês, falou-nos da origem das palavras, das diferenças entre o mirandês e o português, do acordo ortográfico para a língua mirandesa e das variantes que ele permite, das opções que foram feitas na tradução desta obra, incluindo algumas que a seu ver são erradas (pelos vistos o editor não lhe deu oportunidade de efectuar uma revisão final da tradução).
Falou então da obra e do seu conteúdo. E ao mesmo tempo que eu me ia entusiasmando, o público começava a dar sinais de cansaço. Bem visíveis, no entanto, eram as tentativas que o Pedro Granger, palhaço de serviço, começou a fazer para interromper o discurso do Domingos Raposo: assim que este fazia uma pausa para pensar o palhaço acrescentava "mas já tivemos aqui uma grande lição, não é preciso..."; assim que alguma frase proferida tivesse um conteúdo mais sonante, logo ele batia palmas sonantes, a que todo o público aderia, num claro "ok, pá, já chega dessas coisas, vamos mas é embora que temos mais que fazer"...
O Pedro acabou por revelar que tinha pressa para ir fazer "gravações" noutro sítio. Simpático, não é?... E para a maioria das pessoas será até compreensível... afinal as vidas agitadas do século XXI assim o exigem, não é?... E o palhaço de pé a bater palmas, com um sorriso de plástico, e o Domingos de dedo no ar a tentar completar o seu discurso... E quando referiu que a raposa representava os oprimidos é que foram elas... O público num sururu, cada um a falar com o parceiro do lado, mensagens em telemóveis, coisas do género, mas tudo com muito glamour!...
Pensei que aquela gente também estava com pressa. E estava: logo que a cerimónia acabou (que alívio devem ter sentido por não terem de ouvir mais falar de raposas e oprimidos... ainda para mais em mirandês) todos se levantaram e... ficaram a falar uns com os outros, ou foram atacar o vinho do porto e as bolachas!
Não deixando que gente tão básica desviasse a minha atenção do fundamental, dirigi-me ao Domingos para lhe dizer quanto tinha gostado da sua intervenção, da pena que tive de não o poder ouvir em melhores condições, de como gostaria de poder ficar com uma cópia do texto que tinha preparado. A conversa arrancou bem e prometia. Os frutos, esses não puderam ser colhidos, porque entre mim e a árvore logo se encafuou uma horda de gente simpática de livros em riste:
- para o Manuel...
- para a Isabel...
- para o Afonso...
Nas cerimónias... faz-se cerimónia!
L Princepico continuará, apesar de tudo, a relembrar as pessoas das coisas essenciais.
sexta-feira, 15 de abril de 2011
A primavera...
terça-feira, 12 de abril de 2011
O evangelho, segundo as nossas elites...
"What shall we do now", do trabalho "The Wall", dos Pink Floyd, de 1979. Não chegou a ser incluído no disco de vinil por limitações de tempo (pelo menos assim diz na Wikipedia), mas era tocada nos concertos respectivos e foi incluída no filme homónimo.
Crises de fome e sobreprodução... Nada de novo no Oeste. Mas à medida que as décadas e os séculos correm, a nossa responsabilidade aumenta. E dizem-nos que se sai disto correndo ainda mais depressa!...
What shall we use to fill the empty spaces
Where waves of hunger roar
Shall we set out across this sea of faces
In search of more and more applause
Shall we buy a new guitar
Shall we drive a more powerful car
Shall we work straight through the night
Shall we get into fights
Leave the lights on
Drop bombs
Do tours of the East
Contract diseases
Bury bones
Break up homes
Send flowers by phone
Take to drink
Go to shrinks
Give up meat
Rarely sleep
Keep people as pets
Train dogs
Race rats
Fill the attic with cash
Bury treasure
Store up leisure
But never relax at all
With our backs to the wall
(Roger Waters)
E os islandeses vo(l)taram a dizer quem manda...
Com uma ajuda do seu presidente, Ólafur Ragnar Grímsson, e ao contrário do que muitos julgam, contra a vontade do seu próprio governo, os islandeses voltaram a dizer não às condições de pagamento exigidas pelos governos da Inglaterra e da Holanda.
A questão do referendo era a seguinte:
"Law number 13/2011 allows for the Minister of Finance to to confirm the contract which was inscribed in London on the 8th December 2010, on responsibility for the Depositor and Investors’ Protection Fund to re-pay the British and Dutch states for the cost of the minimum insurance amount to depositors in branches of Landsbanki Islands hf. in the United Kingdom and the Netherlands and the payment of the balance and interest on those obligations.
The law was passed by Althingi on the 16th February 2011 but the President of Iceland declined to pass it.
Should law number 13/2011 remain in force?
Possible answers are:
Yes, it should remain in force.
No, it should be repealed."
Os governos da Inglaterra e da Holanda dizem que vão agora lançar o caso aos tribunais. Resta saber que tribunais serão. E resta saber se terão razão. Porque o que está em causa, afinal de contas, é o seguinte: um inglês compra um activo financeiro de um banco islandês. O banco islandês vai à falência. O inglês fica a arder, e protesta. O governo inglês devolve ao inglês o dinheiro do activo. O governo inglês exige do governo islandês esse dinheiro. E o governo islandês, e a meu ver muito bem, pergunta: mas porque raio é que eu tenho de pagar o que quer que seja? Então o banco não era privado? Então não é normal as empresas falirem? Então as pessoas quando compram activos financeiros não sabem que existe um risco associado? Então os processos de falência não existem em todos os sectores de actividade para tratar destas questões? Porque é que os governos têm de intervir?...
As pessoas gostam muito do sistema capitalista, mas apenas enquanto ele lhes dá coisas boas. Enquanto na mó de cima, defendem-no com unhas e dentes. Mas quando a coisa vira, logo aquele corpo teórico todo de sustentação parece perder algum sentido...
Haverá neste capitalismo alguma solidariedade, alguma preocupação com os outros, senhores? Haverá nisto alguma coisa mais do que a brutal expressão do egoísmo mais primário dos primatas?...
Deixo-vos o discurso do presidente, no dia 10 de Abril [os negritos são meus, e eu nem sequer concordo com os princípios "which are the foundation of the constitutional structure of the West"]:
The Icelandic nation has now delivered its verdict and shouldered unequivocally the responsibility it is granted by the Constitution. The turnout was high by Western standards, and this, together with the extensive and thorough debate in the run-up to the referendum, shows clearly how important the issue was to the nation.
The people have now spoken clearly on this matter on two occasions in accordance with the democratic tradition which is Europe's most important contribution to world history. The leaders of other states and international institutions will have to respect this expression of the national will.
Solutions to disputes arising from financial crises and failures of banks must take account of the democratic principles which are the foundation of the constitutional structure of the West.
Iceland has demonstrated its willingness to negotiate agreements; we have shown fairness, but at the same time stuck firmly to our democratic and legal rights.
Although a majority of the electorate has in this referendum said 'no' with respect to the conclusions of the negotiations which took place last year, it is necessary to emphasise that the nature of the Icesave issue is such that the British and Dutch authorities and agencies will still, notwithstanding this result, receive immense sums from the estate of Landsbanki. In all likelihood, the amounts paid to them will come to the equivalent of USD 7-9 billion, the first payment taking place within a few months.
It is therefore not correct to maintain that the United Kingdom and the Netherlands will not receive any payments. The Icesave dispute has centred on interest payments and the interpretation of the European Union's regulations. The Icelandic people have noted with satisfaction that our position has, during 2010 and 2011, met with broad international understanding and support. Decisive and negative judgment has been passed on the demands to which the Governments of Britain and the Netherlands stuck throughout 2009; they lacked both fairness and logical strength.
Influential international media, for example the Financial Times and the Wall Street Journal, have voiced their support for Iceland's position, and for this we are grateful.
The banking collapse resulted not only in severe economic and financial shocks; it also paralysed the nation's will and sapped the courage of our people. The two referendums on the Icesave issue have enabled the nation to regain its democratic self-confidence and to express sovereign authority in its own affairs and thus determine the outcome in difficult issues. This is a valuable experience to build on in the future.
Iceland's strength lies not only in the democratic expression of the national will but also in the vigour of the people and the natural resources of the country itself. Notwithstanding the difficulties which followed the banking collapse, good results have been achieved in many sectors over the past few years: in fishing, tourism, power-intensive industry, information technology, food production, design and many high-tech and IT sectors.
Our natural resources are becoming more and more valuable in the global context. Iceland's position in the High North is now the foundation of growing co-operation with many countries. Our expertise, culture and skills are finding expression in a multitude of new ventures.
Bessastaðir, 10th April 2011
Ólafur Ragnar Grímsson
segunda-feira, 11 de abril de 2011
Uma costela orgulhosamente popular...
Todos têm um lado negro.
O truque, dizem alguns, está em escondê-lo!
O meu truque, belo truque, está em mostrá-lo.
Querem poemas mal feitos?
Todos os que tenho. Não sei quantos são.
Querem desenhos infantis?
Todos os que fiz.
O meu andar, sempre corcovado,
o meu dedo, sempre no nariz,
o meu falar, sempre norteado,
que querer parecer de outro lado
foi coisa que nunca quis.
E a lista das desgraças estende-se sem fim:
o vestuário mal aprumado,
o vocabulário mal adaptado
ao contexto, ao que se espera de mim...
Os orifícios do organismo mal fechados,
os rodriguinhos do meu fado todos desafinados,
a barriga muito mal encolhida,
a camisa encharcada a meio da subida...
Vou trocá-la depois do banho, claro que sim!
E vou atirá-la para um canto, para onde estiver virado,
com a certeza de deixar tudo muito bem desarrumado...
Mas é assim que eu sou! Eu sou mesmo assim!
Vou tentando e o que me sai, sai,
sem filtros, máscaras, maquilhagens,
jogos de cintura, duplas personalidades,
trocas de casacas ou selecções de roupagens
que são artes, para alguns,
mas para mim banalidades.
Que a minha arte é outra.
Eu não me quero distinguir.
Distinguir do quê?
Dos outros?
Para quê?...
Ser diferente...
andar para a frente, sempre a fugir
o nariz ao alto e o estilo em riste,
o olho à frente e a mente insiste
em ficar p’ra trás e em inquirir:
“e os meus passos: quem os vai seguir?”
À minha volta vejo gente,
muita gente,
perita no armanço aos cágados,
verborreando versos que não entende,
papagueando tipos que não intui,
filosofando ideias que não constrói,
calcorreando ruas que nem eu sei,
sem saber ao certo aonde vai.
Gente indiferente à outra gente,
gente que só fica contente
quando sente cócegas no umbigo
e os planetas e as estrelas e o sol nascente
demonstram inequivocamente
que tudo no universo tem a ver consigo.
A minha arte é outra bem diferente!
Eu não quero ir atrás ou ir à frente!
Eu quero ser eu!
Nem mais, nem menos.
O eu corcunda que tenho sempre sido,
que deita tudo cá para fora sem grande cuidado,
porque dessa lista de desgraças ao comprido,
se alguma coisa se tem aproveitado
é que eu sou exactamente como todos nós:
tento, tento, tento, em busca de um sentido,
amo, ainda amo, apesar de tanto ter sofrido,
e deixo um rasto de imundice, que já não apago,
porque o que interessa é o esforço investido
em chegar às pessoas, as que tenho unido
contra a mesquinhez que as tem separado.
O que conta é a outra gente que tenho encontrado.
Outra gente, gente como eu,
com o lado negro todo escancarado,
de carne e osso, amor descontrolado,
e ideias fervilhantes num caldo mal alinhavado...
Eu não quero ir atrás ou à frente.
Eu quero ir de braço dado,
ao lado dessa outra gente!
AWF, Lisboa, 9 de Abril de 2011
(Inspirado numa passagem da autobiografia de Mário Dionísio onde ele diz “Uma visão do mundo alheia a toda a esperança, que a versalhada que fazia bem deixaria ver, se, com louvável e oportuna sensatez, a não tivesse rasgado.”. Ideia reforçada mais adiante “Mas, quando não se chega ao que se quer (alguma vez se chega ao que se quer?), agarrar num pano bem embebido em aguarrás e esfregar, esfregar até raspar, que alívio e que libertação!”. Esta arte de pintarmos de nós uma determinada imagem, de deixarmos de nós só aquilo que, no momento em que partirmos, nos parecer a melhor parte. Deixando ao futuro uma imagem falsa de nós. Ajudando à construção de mitos... Mas, se o autor faz uma triagem, identificando por sua conta as obras que considera piores, e afirmando a existência desses insucessos, então é porque não está empenhado em construir um mito!... Então nesse caso, está a fazer o quê? A substituir-se aos outros no seu julgamento? A prestar um serviço de auto-limpeza em prol da comunidade e das gerações vindouras? Será arte? Será simples vaidade? Será isso tudo?... Eu, ao contrário, prefiro ser verdadeiro e mostrar-me como sou e como fui, como fui de uma coisa à outra. E isso nunca me impediu de me julgar a mim próprio e muito menos impediu os outros de me julgarem também, e de agirem em conformidade com o seu julgamento. E isto, esta verdade que afronta a diplomacia e a hipocrisia dos bons costumes, constitui a minha costela popular mas também iconoclasta, e o meu repúdio pelo pendorzinho aristocratizante dos que querem ser melhor sozinhos, isto é, dos que querem ser os melhores, esquecendo os outros como se para eles nunca tivesse existido esperança. E assim, plenamente consciente, logo o mesmo Mário se redime “É para este género de atitudes que se inventou um dia a palavra «estupidez», bem sei. Mas é mal sem remédio. Aliás, nunca se consegue apagar tudo. Da própria obra destruída, do que nela resiste (um dia nos arrepelaremos por não podermos recuperá-la), uma outra está nascendo logo, inesperada, irresistível, chegue ou não ao fim, já tanto faz.”.)
Regresso ao passado...
Afinal quem é que manda nisto?...
"Economistas denunciam agências de "rating" por crime de manipulação de mercado"
Mas brincamos, ou quê?... Ou seja, o sistema é perfeito. A grande porra é a danada natureza humana, não é?...
Se eu controlasse uma agência de rating baixaria imediatamente, com a maior legitimidade e o maior fundamento, o rating de todas as instituições (bancos, Estados, etc) que utilizassem as minhas cotações!!
O começo da semana...
E isto seria bastante inócuo, não fosse com isso o Fernando Nobre dar o seu aval e os votos que consiga arrastar consigo ao PSD. Não fosse, muito mais do que isso, Fernando Nobre tentar demonstrar a toda a gente que os partidos não servem para nada, que ser o PSD ou o Partido das Catotas no Nariz tanto faz, que podemos trocar todos de camisola e está sempre tudo bem... Tudo na maior, não é, Fernandinho?... Tudo numa boa!...
"desconfiar sempre, sempre, sempre, de quem disser que 'não há esquerda nem direita'"
Eu deixei de seguir o futebol profissional quando percebi que este ano puxava por estes e no ano seguinte estes mesmos já estavam a jogar com outra camisola e era suposto eu puxar pelos que antes eram os inimigos...
terça-feira, 5 de abril de 2011
A poesia vem de dentro...
A poesia está na luta. Por que lutas tu?
A inteligência é uma ferramenta. Para que te serve?
O conhecimento une as pessoas ao mundo e une-as entre si. A que te unes tu?
Tudo o que possuímos prendemos a nós. O que prendes tu?
A felicidade alheia pode ser um fim, mas a nossa é apenas um começo. Onde vais a partir dela?
A tua vida acabará. Como te lembrarão os que ficarem?
A poesia está na luta. Por que lutas tu?
AWF, 28 Março 2011
inspirado no escrito que está lá no muro, que é o final de um poema de Mário Dionísio intitulado:
ARTE POÉTICA
A poesia não está nas olheiras imorais de Ofélia
nem no jardim dos lilases.
A poesia está na vida,
nas artérias imensas cheias de gente em todos os sentidos,
nos ascensores constantes,
na bicha de automóveis rápidos de todos os feitios e de todas as cores,
nas máquinas da fábrica e nos operários da fábrica
e no fumo da fábrica.
A poesia está no grito do rapaz apregoando jornais,
no vaivém de milhões de pessoas conversando ou praguejando ou rindo.
Está no riso da loira da tabacaria,
vendendo um maço de tabaco e uma caixa de fósforos.
Está nos pulmões de aço cortando o espaço e o mar.
A poesia está na doca,
nos braços negros dos carregadores de carvão,
no beijo que se trocou no minuto entre o trabalho e o jantar
— e só durou esse minuto.
A poesia está em tudo quanto vive, em todo o movimento,
nas rodas do comboio a caminho, a caminho, a caminho
de terras sempre mais longe,
nas mãos sem luvas que se estendem para seios sem véus,
na angústia da vida.
A poesia está na luta dos homens,
está nos olhos abertos para amanhã.
Mário Dionísio
segunda-feira, 4 de abril de 2011
A versão norte-americana das coisas...
Ai e tal, isto é uma teoria da conspiração e coisa... Não compliquemos. Os jogos de poder sempre existiram. Não são teorias. E não chegámos ao sistema que temos hoje, com toda a regulamentação e desregulamentação que isso implicou, por mero acaso ou por uma ordem natural... Acreditar nisso é que é acreditar em teorias fantásticas!