sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Criancinhas...


Criancinhas são os adultos que se tratam a si próprios como coitadinhos e logo não conseguem imaginar os outros como outra coisa senão coitadinhos.

Neste momento temos em Portugal uma obrigatoriedade de uso de máscara em espaços abertos se tal e tal, blá blá blá... excepto para portadores de doenças tal e tal, etc e coiso, e excepto para crianças com menos de 10 anos de idade.

Independentemente de estarmos contra ou a favor do uso de máscaras, a questão aqui é: porque é que as crianças não são obrigadas a usar máscara quando os adultos são?

O fundamento, certo ou errado, para o uso de máscaras é que a doença Covid-19 se transmite de humano para humano através das gotículas que expelimos pela boca e pelo nariz. Assim, a máscara é usada não para prevenir que inalemos uma dessas gotículas, mas impedir que espalhemos as nossas gotículas no ambiente onde nos encontramos.

Algumas pessoas estarão infectadas embora não apresentem sintomas, ou porque nunca irão apresentar sintomas, ou simplesmente porque a doença ainda não teve tempo de se desenvolver. Estas pessoas julgar-se-ão saudáveis e levarão a sua vida normalmente. Se não usarem máscara, estarão a espalhar vírus por todos os sítios onde passam.

Ora, se este é o fundamento, podemos acrescentar-lhe que as crianças são, e aqui demonstradamente, as pessoas que menos sintomas apresentam e que em muitos casos não chegam sequer a desenvolver a doença, mesmo estando infectados. Portanto, existe nessa faixa etária um risco ainda maior de as pessoas se considerarem saudáveis, não tomarem as precauções, e espalharem a doença pelos outros.

Tentei esclarecer esta minha dúvida, mas das pesquisas que fiz não encontrei nada de muito substancial.

O que a Organização Mundial de Saúde diz, no seu portal, é o seguinte:


"Children aged 5 years and under should not be required to wear masks. This is based on the safety and overall interest of the child and the capacity to appropriately use a mask with minimal assistance.

WHO and UNICEF advise that the decision to use masks for children aged 6-11 should be based on the following factors:

  1. Whether there is widespread transmission in the area where the child resides
  2. The ability of the child to safely and appropriately use a mask
  3. Access to masks, as well as laundering and replacement of masks in certain settings (such as schools and childcare services)
  4. Adequate adult supervision and instructions to the child on how to put on, take off and safely wear masks
  5. Potential impact of wearing a mask on learning and psychosocial development, in consultation with teachers, parents/caregivers and/or medical providers
  6. Specific settings and interactions the child has with other people who are at high risk of developing serious illness, such as the elderly and those with other underlying health conditions"

Ou seja, crianças muito novas não devem ser obrigadas a usar máscara por razões de segurança. Parece-me razoável... Consigo imaginar um bebé a mastigar uma máscara e a engasgar-se com ela, ou a tentar enforcar-se... eles são capazes de tudo ao que parece. Mas o limite de idade de 5 anos é certamente um pouco arbitrário. Mas aceitemos isso e passemos ao seguinte.

Para as crianças com idades entre os 6 e os 11 anos, os pontos 1, 3 e 6 apresentados em cima não são relevantes para a sua discriminação dos adultos, uma vez que esses pontos aplicam-se de igual modo aos adultos. Isto é, o uso só deve ser obrigatório se houver acesso a máscaras, se a situação o exigir, etc.

Os pontos 2, 4 e 5 podem resumir-se ao seguinte: capacidade da criança usar autonomamente uma máscara e o impacto da máscara na aprendizagem e desenvolvimento psicossocial.

Portanto é oficial: os adultos não confiam que as crianças com 6 e mais anos de idade sejam capazes de usar máscaras sem se colocarem em perigo, e acreditam que o uso das máscaras nas crianças pode causar-lhes problemas psicológicos e sociais.

Isto devia requerer de todos nós uma tremenda pausa para uma tremenda reflexão.

Na natureza, um filhote de chimpanzé já é suposto arranjar o seu próprio sustento pelos 5 anos de idade. Em contraste, imaginemos os progenitores de um humano de 5 anos de idade a deixá-lo sozinho durante cinco minutos numa mata... Provavelmente a criança iria divertir-se, mas os pais teriam de ser internados por histeria.

Se se admite que uma criança de 6 anos não é capaz de lidar com uma máscara por sua conta, que fará com um garfo, ou uma faca, ou um lençol, ou um saco plástico, ou uma bisnaga de creme para a barba, ou detergente da louça, ou uma tomada eléctrica, ou...?

Os pais que tratam os filhos como incapazes deviam eles próprios tratar-se da sua incapacidade. Porque abandonados a si próprios, eles autorrealizam a sua profecia: quando os filhos atingem os 10 anos de idade e ainda não sabem lidar com uma faca afiada ou uma tomada eléctrica os pais afirmam triunfantes "vês como é um coitadinho?".

Entretanto, noutros países deste planeta, a idade a partir da qual era obrigatório usar máscara era de 2 anos, mas passou recentemente para 6 por causa precisamente destas recomendações da OMS. Coitadinhas das criancinhas!... As que conseguirem sobreviver vão certamente ficar com traumas para toda a vida!

https://www.channelnewsasia.com/news/singapore/covid-19-children-masks-two-years-old-six-face-shields-13138088

https://babyandchild.ae/age-1-4/healthy-toddler/article/1679/children-and-face-masks-why-kids-might-need-to-wear-them-most-of-all

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Amarelos!...

 


"Amarelos e limpos
eles são o fruto
eles são raiz.
Sua vida é uma história
que mastiga
e não se diz."

(Brincadeira sobre o poema "atados e simples" de Maria Rosa Colaço, musicado pelos Trovante no álbum "baile no bosque")


Quase quarenta anos a mastigar tudo e mais alguma coisa. Só conheceram o tabaco dos outros, raras vezes tocaram em café. Têm os nervos um pouco à flor do esmalte, mas nunca se debateram com uma cárie.

São 32 dentes perfeitamente saudáveis, amarelos e tortos, como todos os dentes naturais.

A cor natural dos dentes é amarelo.

Portanto, de cada vez que esfregam "micro-cristais" ou carvão nos dentes, ou vão ao dentista deixar rios de dinheiro para sair de lá mais brancos, estão a contribuir para que todos nós, em conjunto, deixemos de achar os dentes saudáveis e naturais como bonitos, e passemos a achar bonito algo que é artificial.

Pensem nisso.

De resto, e tal como nos cavalos, quando as pessoas se dão, não devíamos olhar aos dentes.

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Vaidade...

 


Chica frente a un espejo.

A minha mãe nasceu e cresceu num país distante, noutra cultura. Muitos anos mais tarde pedi-lhe "mãe, gostava de poder fazer um filme contigo... gostava que me pudesses contar das tuas origens, da tua vida, das histórias que cada um destes objectos contaria, mas não conta, dos quadros do teu tio, da manta da tua avó, das fotografias...". Não quis. Não se julgava suficientemente bonita. Morreu pouco tempo depois. As histórias que eu não sei ficarão para sempre por contar.

terça-feira, 20 de outubro de 2020

Estados de Direito Democráticos...

 


What is wrong with you???

O que é que há de errado convosco?...


Ou serei eu que não estou a ver bem?...


O poder não está igualmente distribuído pelo mundo. Há quem tenha o poder de decidir, lá em casa, qual o canal que será transmitido no televisor, e há quem tenha o poder de lançar mísseis com bombas atómicas sobre quaisquer alvos.

Não seria de esperar outra coisa que não os que detêm maior poder o utilizarem para garantirem a manutenção ou aumento desse poder.

Não há outro modo de agir perante isso do que os que não detêm o poder estarem atentos e unirem-se contra as acções prepotentes dos outros.

Quando um homem, desses como tu e eu, que não detêm qualquer poder especial, se empenha na divulgação ao público de documentos que expõem as operações prepotentes que os mais poderosos levam a cabo sem o nosso conhecimento e que contribuem para agravar o fosso entre quem tem o poder e quem não o tem, é natural que os poderosos fiquem zangados.

Os poderosos ficaram zangados com este homem e prenderam-no.

Mas, gostam os poderosos de apregoar, vivemos em "democracias", em "estados de direito", coisas que deviam significar que nós todos é que mandamos e que a lei é justa, serve para todos, e ninguém está acima, ou abaixo, da lei.

Eles apregoam isso, mas prenderam o homem que divulgou os seus crimes, mesmo que esse homem não tivesse violado qualquer lei. Pelo contrário eles, os criminosos, não só mantiveram todo o seu poder, como se mantiveram em liberdade, como ainda nenhum vislumbre de acusação, formal ou sequer moral, recaiu sobre eles.

Quando um homem é preso antes de ser condenado, é-o para se impedir um mal potencial superior ao mal que é ter alguém preso, mesmo que esse alguém esteja inocente. A prisão preventiva não é uma coisa ligeira, e quem acha que sim devia seriamente parar para pensar melhor. Imaginem que uma comunidade não gosta de uma determinada pessoa. A pessoa é uma pessoa como todas as outras, simplesmente veste-se de maneira estranha e os outros não gostam. Imagine-se que à conta disso o acusam de um determinado crime de que ele não é culpado. Imagine-se que à conta disso o juíz decide prendê-lo preventivamente. Depois, no julgamento, não se consegue provar o crime e ele é libertado. Logo depois, acusam-no de outro crime, e ele volta a ser preso preventivamente. E, se assim fosse, a comunidade poderia prender indefinidamente uma pessoa, mesmo que essa pessoa fosse inocente. Por isso mesmo é que é necessário que haja fortes indícios de crime e que o potencial mal seja muito grande para que alguém seja preso preventivamente.

Esse homem, que se limitou a divulgar publicamente os crimes de outros, foi preso preventivamente. Primeiro, de forma indirecta, uma vez que se exilou numa espécie de enclave, numa embaixada, de onde não podia sair, e aí ficou desde Agosto de 2012 até Abril de 2019, sendo que durante o último ano não teve sequer direito a comunicar com o exterior. Depois foi preso numa prisão de alta segurança.

Desde Abril de 2019 até agora, este homem tem estado preso preventivamente. E apesar de não ter ainda sido condenado de qualquer crime, está em isolamento, sem direito a comunicar com ninguém.

O seu julgamento está a decorrer neste preciso momento. É uma farsa. E ninguém quer saber.

Porquê?...

Os governos estão na mão dos "powers that be" que puxam os cordelinhos que fazem mover esta palhaçada demasiado séria. Isso não é conspiração nenhuma, é algo que é assumido às claras. Afinal, as verdades que esse homem revelou acusam de crimes precisamente esses poderosos, e acusam também automaticamente de cumplicidade todos os outros que se calaram e continuam a calar perante semelhantes atrocidades.

Entretanto os jornalistas estão caladinhos. É vergonhoso, mesmo que seja compreensível. Afinal, um dos documentos revelados por esse homem é o de um vídeo em que tropas norte-americanas abatem jornalistas... Afinal, esse homem é ele mesmo um jornalista. E a mensagem dos poderosos acerca disto não podia ser mais clara: há assuntos em que não podem tocar!

Finalmente, o povinho, do qual eu faço parte, parece que não é capaz de discernir... Deglute sem mastigar o que lhes chega nos "prós e contras" e nos "observador" e nas redes sociais. Fala do que os outros falam. Não se dá conta de quem introduziu o tema, ou porque é que fala sobre isto e não aquilo. Mas fala dos vigaristas, do empate no último domingo, do ciclone... e não fala de tantas outras coisas muitíssimo mais relevantes, como a origem do dinheiro e o poder de quem o controla, ou o caso deste homem inocente que é tratado como um assassino por aqueles que são, eles sim, os assassinos!

É demasiado nojento...

Um povo que permite que o tratem assim, não é um povo sequer, é uma manada!

Portanto se não gostas de fazer parte da manada, faz o mínimo que se exige a um ser humano: deixa lá o ciclone e o futebol, procura saber um pouco mais acerca deste caso de que vos falo, e fala com outras pessoas acerca disso.


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O próximo passo será deixarmos de defender e passarmos a atacar. Vamos nós mesmos consultar os documentos da WikiLeaks. E vamos atacar os verdadeiros criminosos e sentá-los a eles no banco dos réus.



Um vídeo recente sobre o assunto:

Para saber mais sobre a WikiLeaks, um vídeo exemplificativo de 2016:


First they came for... Primeiro vieram buscar estes e aqueles, mas eu não me importei, porque não era nada comigo... As consequências de pensar e agir assim são claras. O texto a que Varoufakis faz menção implícita:
https://en.wikipedia.org/wiki/First_they_came_...

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Vazio...

Caminhava preocupado. Trazia um mau pressentimento. Algo dentro de mim me dizia que ela já não estava lá. Não sei porquê... talvez por não a ver há já uns dias... Revolvia a minha memória à procura das últimas vezes que estive com ela. Com ela as coisas nunca eram secas. Ela suavizava todas as agruras de um jeito tão próprio...

Estava decidido a comprovar ou refutar a minha suspeita. Avancei para a porta. Senti-me a ter aquele momento que me é tão típico quando as coisas não são certas: preparar-me para o pior. Dizer a mim mesmo "seja o que Deus quiser", mas estar ao mesmo tempo preparado para o pior. Estava com medo, mas isso não me tolheu os gestos. Puxei com resolução. Do outro lado daquela porta brilhava uma luz que tudo iluminava. Os meus olhos percorreram rapidamente o espaço. Reconheci restos de um passado recente... mas não era isso que procurava. Era ela, só ela, que os meus olhos procuravam.

Nada.

Nem a luz, nem a brisa fresca, nem a riqueza e diversidade à frente dos meus olhos, nem a minha preparação para o pior foram capazes de evitar o meu pesar. Baixei por um segundo o olhar. Resignei-me. Felizmente foi tudo muito rápido. Disse para mim mesmo "é a vida!". Fechei a porta, dei meia volta e decidi que iria fazer o que tinha de ser feito. Amanhã vou comprar manteiga!


AWF, 16 de Outubro de 2020

(e foi-se a ver... e esqueci-me de comprar a manteiga!...)

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Receita para ser feliz...

 


Receita para ser feliz


Teoria:


Primeiro: tratar daquilo que é essencial. Arranjar forma de ter alimento, o mínimo de roupa para resguardar do frio, um sítio para dormir.

Segundo: com o tempo que restar, tratar da saúde física. Arranjar forma de evitar as doenças e tratar o corpo de modo a mantê-lo em forma.

Terceiro: com o tempo que restar, tratar da saúde mental. Encontrar outras pessoas. Aprender a expressar sentimentos e ideias, aprender a entender sentimentos e ideias próprias e alheias, aprender a ouvir. Minorar a solidão.

Quarto: com o tempo que restar, recriar sentimentos e concretizar pensamentos até então apenas imaginados. Criar objectos artísticos, divertimentos e objectos utilitários tangíveis e intangíveis, por nossa conta ou em grupo.


Prática:


Primeiro: arranjar forma de ter alimento, o mínimo de roupa para resguardar do frio, um sítio para dormir, e ir uma vez por ano para longe desta merda.

Segundo: ao mesmo tempo, resignar e saber aceitar a nossa infelicidade.

Terceiro: ao mesmo tempo, garantir um fornecimento regular de seja o que for que nos permita esquecer e pensar noutra coisa qualquer. Fragmentar tudo, as ideias, os sentimentos, o conhecimento e as relações sociais. Acabar sozinho.

Quarto: com o tempo que restar, entediar-se. Voltar ao ponto anterior.


AWF, Angra do Heroísmo, 10 de Outubro de 2020

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

A relatividade...

 


Pedalo e penso... interessante!... os cães já não me ladram!...

Será que ao fim de todo este tempo a minha presença já lhes é familiar?... Ou será que simplesmente envelheceram?