segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Mandela, uma lição de luta!...



Agora que Nelson Mandela morreu, os adoradores de ídolos e criadores de mitos tratam de dourar as memórias desse homem. De repente já nem homem é, é uma espécie de santo. O que até não fica mal à humanidade, porque já se sabe que os santos conseguem fazer coisas que os homens comuns não conseguem, e assim podemos todos simplesmente ficar sentados no sofá a ver televisão, com a consciência levezinha como um passarinho.

Mandela foi um grande lutador. Lutou por aquilo que acreditava. E quando se acredita, quando se sentem as coisas cá dentro, e se é íntegro, a luta passa a ser uma necessidade, algo que não poderia ser de outro modo.

Quem luta tem sempre inimigos. Mandela teve muitos inimigos e foi considerado um terrorista por muitas pessoas e instituições, por exemplo dos EUA e do Reino Unido. Havia muitas razões para considerar Mandela um terrorista, entre as quais a razão simples de ele ser líder do braço armado do ANC.

Hoje, fruto da tecnologia e da sociedade que temos, sedenta de mitos, Mandela, vencedor de um prémio Nobel da paz (que toda a gente sabe que é uma coisa importantíssima atribuída por quase-deuses) e idolatrado por meio mundo, tem de ser encarado, mesmo que morto, com um sorriso amarelo por todos os seus inimigos que querem continuar a parecer bonitinhos nas fotografias e nas sondagens.

E é assim que se espalha a mensagem de que Mandela foi uma pessoa fora do comum porque, acima de tudo, soube perdoar o seu inimigo. Acima de tudo... perdoou!...

É evidente que esta tinha de ser a mensagem a transmitir, por todos os seus inimigos poderosos em todo o mundo, a toda a população que tem fé em homens maiores que os outros homens e que podem fazer as coisas por eles. O sujeito é fenomenal porque perdoou. A lição é clara: queres ser uma boa pessoa? então perdoa. Perdoa, e lembra-te que afinal não há inimigos, afinal somos todos amigos, muito amiguinhos e estamos todos a trabalhar para ficarmos todos melhor, certo?...

E é assim que num ápice se esquece que Mandela afinal era apenas um homem, que lutou com muita força por causas justas em que acreditava muito. É assim que de repente se esquece que Mandela foi um lutador. É assim que de repente já ninguém sabe por que é que Mandela andou a lutar.

É assim que se esquece que este homem, depois de ter liderado o braço armado do ANC, de ter sido acusado de muitos crimes, de ter estado preso pelo sistema racista da África do Sul durante 21 anos, renunciou à sua libertação condicional que o obrigaria a renunciar à violência como um meio para conseguir a mudança em África do Sul.

Mandela não renunciou ao uso de todos os meios que tinha ao seu dispor para lutar contra algo que era essencialmente mau, do mesmo modo que ninguém no seu juízo renunciará a utilizar tudo o que estiver ao seu dispor para impedir que outra pessoa a mate.

Seria bom pensar que o seu legado, em vez de se cingir ao perdão, e muito antes disso, passaria primeiro pela aprendizagem e pela interiorização do conceito de justiça e do conceito irmão de solidariedade, os quais em conjunto nos fazem sentir a necessidade de combater a injustiça, toda a injustiça que há no mundo, e depois pela concretização desse sentimento, isto é, pela luta efectiva. Só quando a injustiça está sanada é que chega o tempo de perdoar.


Deixo-vos com uma citação tirada deste trabalho da ONU "Nelson Mandela - in his words" cuja leitura recomendo. Para os discursos completos, seguir os links desta página.



Mandela e os hipócritas do costume...

Queria pedir-vos o favor de lerem atentamente o pequeno texto que se segue. É importante para o que se segue. O texto diz respeito a uma resolução votada na assembleia da Organização das Nações Unidas, no dia 20 de Novembro de 1987. Antes disso, no entanto, será talvez bom relembrar o que foi o "Apartheid" em África do Sul.

Apartheid é uma palavra africânder ('afrikaans'), isto é, dos holandeses que colonizaram a África do Sul, que significa literalmente a qualidade daquilo que separa ou que está separado, à parte. Deu-se esse nome ao sistema de segregação racial que vigorou em África do Sul entre 1948 e 1994 (embora algumas reformas tenham sido introduzidas desde 1990). Dito de uma forma simples, o apartheid funcionou para os colonizadores como uma limpeza da terra da população que já lá estava. Essa limpeza baseou-se na diferença de raça, a qual era aferida sobretudo através da cor da pele. Toda a população não branca foi forçada a viver em regiões definidas pelos colonos (os "bantustans", correspondentes a pouco mais de 10% do território). A essa população foi também proibido ou condicionado o direito ao voto, o acesso a serviços públicos da mais alta qualidade, etc. A manutenção deste sistema de segregação, tal como todos os sistemas de opressão ao longo da história, implicou o recurso a forças de segurança brutais, à tortura e ao assassinato.

Resta dizer que infelizmente, estes tipos de políticas e sistemas foram praticados um pouco por todo o mundo. O caso de África do Sul choca-me, pessoalmente, simplesmente porque foi mantido por pessoas cuja cultura original é tão parecida com a minha própria cultura, e porque se manteve vigente até há tão pouco tempo.

Agora o texto da resolução da ONU de 20 de Novembro de 1987 (abaixo uma tradução minha):

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"A/RES/42/23
77th plenary meeting
20 November 1987

Policies of apartheid of the Government of South Africa

A
International solidarity with the liberation struggle
in South Africa

The General Assembly,

Recalling its resolution 41/35 A of 10 November 1986,

Having considered the report of the Special Committee against Apartheid, in particular paragraphs 137 to 139 and 148,

Gravely concerned at the escalating repression of and State terror against opponents of apartheid and the increasing intransigence of the racist regime of South Africa, demonstrated by the extension of the state of emergency, the vast number of arbitrary detentions, trials, torture and killing, including of women and children, the increased use of vigilante groups and the muzzling of the press,

Outraged by the racist regime's escalation of acts of aggression and destabilization against neighbouring independent African States, including assassinations and abductions of South Africans in those States, and the continuing illegal occupation of Namibia,

1.   Reaffirms its full support to the people of South Africa in their struggle, under the leadership of their national liberation movements, to eradicate apartheid totally, so that they can exercise their right to self-determination in a free, democratic, unfragmented and non-racial South Africa;

2.   Reaffirms further the legitimacy of the struggle of the people of South Africa and their right to choose the necessary means, including armed resistance, to attain the eradication of apartheid;

3.   Condemns the policy and practice of apartheid and, in particular, the execution of patriots and captured freedom fighters in South Africa and demands that the racist regime:

(a)  Stay the execution of those now on death row;
(b)  Abide by the Geneva Conventions of 12 August 1949 and Additional Protocol I of 1977 thereto;

4.   Demands again that the racist regime end repression against the oppressed people of South Africa; lift the state of emergency; release unconditionally Nelson Mandela, Zephania Mothopeng, all other political prisoners, trade union leaders, detainees and restrictees and, in particular, detained children; lift the ban on the African National Congress of South Africa, the Pan Africanist Congress of Azania and other political parties and organizations; allow free political association and activity of the South African people and the return of all political exiles; put an end to the policy of bantustanization and forced population removals; eliminate apartheid laws and end military and paramilitary activities aimed at the neighbouring States;

5.   Considers that the implementation of the above demands would create the appropriate conditions for free consultations among all the people of South Africa with a view to negotiating a just and lasting solution to the conflict in that country;

6.   Appeals to all States, intergovernmental and non-governmental organizations, mass media, and city and other local authorities as well as individuals to increase urgently political, economic, educational, legal, humanitarian and all other forms of necessary assistance to the people of South Africa and their national liberation movements;

7.   Also appeals to all States and intergovernmental and non-governmental organizations to step up material, financial and other forms of support to the front-line and other member States of the Southern African Development Co-ordination Conference and thus assist them in resisting the aggression, terrorism, destabilization, political subversion and economic blackmail perpetrated by the racist regime;

8.   Urges all States to contribute generously to the Action for Resisting Invasion, Colonialism and Apartheid Fund set up by the Eighth Conference of Heads of State or Government of Non-Aligned Countries with the aim of increasing support to the liberation movements fighting the apartheid regime and to the front-line States;

9.   Decides to continue the authorization of adequate financial provision in the regular budget of the United Nations to enable the South African liberation movements recognized by the Organization of African Unity - namely, the African National Congress of South Africa and the Pan Africanist Congress of Azania - to maintain offices in New York in order to participate effectively in the deliberations of the Special Committee against Apartheid and other appropriate bodies;

10.   Requests Governments and intergovernmental and non-governmental organizations to exert their influence towards the implementation of this resolution."

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 Políticas de apartheid do governo de África do Sul

A
Solidariedade internacional com a luta de libertação em África do Sul

A Assembleia Geral,

Na sequência da sua resolução 41/35 A de 10 de Novembro de 1986,

Considerando o relatório do Comité Especial contra o Apartheid, particularmente os parágrafos 137 a 139 e 148,

Profundamente preocupada com a crescente repressão e o estado de terror contra oponentes do Apartheid e com a crescente intransigência do regime racista da África do Sul, demonstrada pela extensão do estado de emergência, pelo elevado número de detenções arbitrárias, julgamentos, torturas e assassinatos, incluindo de mulheres e crianças, pelo aumento do uso de grupos de vigilância e pela censura na imprensa,

Ofendida pelo aumento dos actos de agressão e desestabilização do regime racista contra vizinhos estados africanos independentes, incluindo assassinatos e abduções de sul africanos nesses estados e a continuação da ocupação ilegal da Namíbia,

1. Reafirma o seu completo apoio ao povo de África do Sul na sua luta, sob a liderança dos seus movimentos de libertação nacional, para erradicar totalmente o Apartheid, de tal modo que possam exercer o seu direito à auto-determinação numa África do Sul livre, democrática, não fragmentada e não racista;

2. Reafirma ainda a legitimidade da luta do povo de África do Sul e do seu direito de escolher os meios necessários, incluindo resistência armada, para conseguir a erradicação do Apartheid;

3. Condena a política e a prática do Apartheid e, em particular, a execução de patriotas e lutadores pela liberdade capturados em África do Sul, e exige que o regime racista:
(a) suspenda a execução dos que estão actualmente no "corredor da morte";
(b) cumpra as Convenções de Genebra de 12 de Agosto de 1949 e o Protocolo Adicional de 1977;

4. Exige novamente que o regime racista termine a repressão contra o povo oprimido de África do Sul; levante o estado de emergência; liberte incondicionalmente Nelson Mandela, Zephania Mothopeng, todos os outros prisioneiros políticos, líderes sindicais, detidos sem acusação formada e em particular crianças; levante a interdição do Congresso Nacional Africano de África do Sul (ANC), o Congresso Pan-Africano de Azania e outros partidos políticos e organizações; permita a liberdade de associação política e actividade do povo de África do Sul e o regresso de todos os exilados políticos; ponha um fim à política de "bantustanization" e remoção forçada da população; elimine as leis de apartheid e termine as actividades militares e paramilitares orientadas aos estados vizinhos;

5. Considera que a implementação das exigências supra criaria as condições apropriadas para consultas livres entre toda a população de África do Sul com o objectivo de negociar uma solução justa e duradoura para o conflito nesse país;

6. Apela a todos os estados, organizações intergovernamentais e não governamentais, comunicação social e autoridades locais, bem como a todos os indivíduos, para aumentarem todas as formas de assistência necessária e urgente, seja política, económica, educativa, legal, humanitária ou outra, ao povo de África do Sul e aos seus movimentos de libertação nacional;

7. Apela também a todos os estados, organizações intergovernamentais e não governamentais, para reforçar todas as formas de apoio, material, financeiro ou outro, à linha da frente e a outros estados-membros da SADCC e assim ajudá-los a resistir à agressão, ao terrorismo, à desestabilização, à subversão política e à chantagem económica perpetrada pelo regime racista;

8. Insta todos os estados a contribuir generosamente para o fundo "Acção para Resistência à Invasão, Colonialismo e Apartheid", instaurado pela Oitava Conferência de Chefes de Estado ou Governo de Países Não-Alinhados, com o intuito de aumentar o apoio aos movimentos de libertação que lutam contra o regime do Apartheid e aos estados da linha da frente;

9. Decide continuar a autorização de provisões financeiras adequadas no orçamento regular das Nações Unidas para permitir aos movimentos de libertação de África do Sul reconhecidos pela Organização de Unidade Africana - nomeadamente o ANC e o Congresso Pan-Africano de Azania - manter escritórios em Nova Iorque, para poderem participar efectivamente nas deliberações do Comité Especial contra o Apartheid e outros corpos apropriados;

10. Pede aos governos e às organizações intergovernamentais e não governamentais para exercerem a sua influência com vista à implementação desta resolução.

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Esta resolução foi aprovada com os votos de 129 países, com a abstenção de 22 países e com os votos contra de 3 países. Os países que se abstiveram foram: Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Costa do Marfim, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha (RFA), Guatemala, Islândia, Irlanda, Israel, Itália, Japão, Luxemburgo, Malta, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Espanha, Suécia. É caso para dizer que o espírito colonialista é uma coisa difícil de lavar!...

Os 3 países que votaram contra foram os Estados Unidos, cujo presidente era Ronald Reagan, o Reino Unido, cuja primeira ministra era Margaret Thatcher, e Portugal, cujo primeiro ministro era Cavaco Silva.

Não é nada surpreendente ver Portugal e Cavaco Silva a alinharem com os interesses que tenho até dificuldade em começar a adjectivar de semelhantes personangens como Reagan e Thatcher. Aliás, Reagan e Thatcher foram dois dos principais actores que durante a década de 80 começaram, a custo, a implementar as medidas económicas liberais que conduziram à construção das regras económicas por que hoje nos regemos, como se fossem ditadas por Deus, e que nos empurraram para a crise que agora temos, para não falar na corrosão indelével e inexorável do carácter de populações inteiras.

Mas o que é importante realçar aqui é que Aníbal Cavaco Silva e o seu governo (constituído por pessoas que continuam a dar cartas, como todas as pessoas que passam por governos, e que continuam a ser considerados com toda a reverência pela população portuguesa, como Leonor Beleza, António Capucho, Fernando Nogueira, Dias Loureiro, Miguel Cadilhe, Miguel Beleza, Laborinho Lúcio, João de Deus Pinheiro, Álvaro Barreto, Arlindo Cunha, Luís Mira Amaral, Roberto Carneiro, Joaquim Ferreira do Amaral, Arlindo de Carvalho, José Silva Peneda, Fernando Faria de Oliveira, António Couto dos Santos, Carlos Borrego) votaram contra uma resolução que condenava um regime racista, que apoiava os movimentos que combatiam esse regime, e que pedia a libertação incondicional de Nelson Mandela.

Amanhã, terça-feira, lá estará Cavaco Silva em África do Sul para prestar a mais sentida homenagem a este grande homem... Ele e muitos outros como ele, num verdadeiro festival de hipocrisia!

Mas para que se perceba que isto não são coisas do passado, fica aqui a intervenção, em 18 de Julho de 2008, do deputado do PCP António Filipe na Assembleia da República, aquando da apresentação de um voto de congratulação pelos 90 anos de Nelson Mandela:

"Sr. Presidente,
Srs. Deputados:

Nelson Mandela faz, precisamente, hoje 90 anos e o PCP decidiu propor à Assembleia da República que aprovasse um voto de congratulação por este acontecimento, associando-se, aliás, a vozes que, por todo o mundo, manifestaram o seu júbilo pelos 90 anos de Nelson Mandela.

Não sabemos ainda como é que os partidos à direita vão votar o nosso voto, mas, seja como for, ele já cumpriu a sua função, porque, se o PCP não o tivesse proposto, decerto que a Assembleia da República não aprovaria nenhum voto de congratulação pelos 90 anos de Nelson Mandela.

Assim, vai aprovar.

Mas nós votaremos todos os votos. Estejam descansados!

O que é interessante é a necessidade que os partidos à direita sentiram de apresentar votos próprios, demarcando-se do voto apresentado pelo PCP sobre esta matéria. Fazem-no para se desembaraçarem de embaraços que a vossa própria história vos cria.

Isto porque aquilo que os senhores não querem que se diga, lendo os vossos votos, é que Mandela esteve até hoje na lista de terroristas dos Estados Unidos da América. Mas isto é verdade! É público e notório - toda a gente o sabe!

Os senhores não querem que se diga que Nelson Mandela conduziu uma luta armada contra o apartheid, mas isto é um facto histórico. Embora os senhores não o digam, é a verdade, e os senhores não podem omitir a realidade.

Os senhores não querem que se diga que, quando, em 1987, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou, com 129 votos, um apelo para a libertação incondicional de Nelson Mandela, os três países que votaram contra foram os Estados Unidos da América, de Reagan, a Grã-Bretanha, de Thatcher, e o governo português, da altura.

Isto é a realidade! Está documentado!

Não querem que se diga que, em 1986, o governo português tentou sabotar, na União Europeia, as sanções contra o regime do apartheid.

Não querem que se diga que a imprensa de direita portuguesa titulava, em 1985, que: «Eanes recebeu em Belém um terrorista sul-africano». Este «terrorista» era Oliver Tambo!

São, portanto, estes embaraços que os senhores não querem que fiquem escritos num voto.

Não querem que se diga que a derrota do apartheid não se deveu a um gesto de boa vontade dos racistas sul-africanos mas à heróica luta do povo sul-africano, de Mandela e à solidariedade das forças progressistas mundiais contra aqueles que defenderam até ao fim o regime do apartheid.

Congratulamo-nos vivamente com os 90 anos de Nelson Mandela e queremos saudar, na sua pessoa, a luta heróica do povo sul-africano pela sua dignidade, pela igualdade entre todos os seres humanos e contra o hediondo regime do apartheid."

O texto do voto de congratulação pode ser lido aqui. O PSD e o CDS abstiveram-se nesta votação.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

O IKEA, o consumo, a produtividade, o crescimento, a competitividade e o diabo-a-sete que faz sempre bem à economia...




"Espero que todos compreendam a importância que este investimento tem. Importância para a economia portuguesa, claro está. E importância para o 'cluster' imobiliário em Portugal. Importância para a indústria portuguesa."



Vamos desculpar ao Sócrates a confusão entre imobiliário e mobiliário. De resto, tudo o que ele disse aquando da inauguração da fábrica da IKEA em Paços de Ferreira é verdade. O que talvez escape às pessoas é que o que é bom para a economia não é necessariamente bom para elas, porque neste contexto, economia não é o mesmo que pessoas. Aliás, este é um tema que já aflorei um pouco no passado, por exemplo aqui, aqui ou aqui. Troquem-se ligeiramente as palavras e já o discurso de Sócrates (ou de qualquer outro político do PS, do PSD ou do CDS ou qualquer empresário ou representante dos seus interesses) faz todo o sentido:

"Espero que todos compreendam a importância que este investimento tem. Importância para os empresários portugueses, claro está. E importância para os empresários do 'cluster' do mobiliário em Portugal. Importância para os industriais portugueses." - era assim que o discurso deveria ter sido, para ser mais claro.

A história é sempre a mesma. De cada vez que um senhor feudal ou empresário ou empreendedor ou investidor, interno ou externo, decide que vai gastar dinheiro (e quanto desse dinheiro são apoios ao investimento financiados pelos contribuintes que somos nós?), logo a ideia é vendida às pessoas como se isso fosse o paraíso na terra, aquilo de que todos precisamos para sermos felizes. Se há coisa que uma população de gente esfaimada compreende muito bem é a palavra "emprego". Emprego é a possibilidade de, a troco de mais uns meses ou anos de escravidão, continuar a ter pão para a boca. Para quem tem dificuldade em arranjar o pão para a boca, isso soa a paraíso, claro está.

É assim que qualquer investimento que crie empregos é considerado por todos como algo de verdadeiramente maravilhoso! Criar empregos é uma coisa maravilhosa! Sempre deu, ao longo da história, direito a bustos dos senhores feudais, financiados, claro está, pelos empregados.

E quanto mais empregos o investimento criar, melhor o investimento é. Mais importante o investimento é... para a economia portuguesa... claro está.

Na república dos bananas (que somos nós... a república... e os bananas também... claro está) há regras. Há por exemplo uma regra que diz que as empresas têm de pagar imposto sobre os seus lucros, ao qual se chama IRC. Há também regras relativamente ao ordenamento do território que incluem o respeito pela reserva agrícola nacional (RAN) e pela reserva ecológica nacional (REN). E há outras regras, como por exemplo a que diz que se eu precisar de um pedaço de terreno para construir uma casa para poder viver nela, tenho de pagar forte e feio e o Estado está-se a marimbar para isso.

Mas quando se anuncia um investimento com criação de muuuuitos postos de trabalho, tudo se modifica. É que os PIN (projectos de potencial interesse nacional) também são uma regra que funciona como um 'joker' das cartas e se sobrepõe a todas as outras regras. De repente passa a poder construir-se em plena reserva ecológica ou agrícola (ou até em plena paisagem protegida, como aconteceu em Tróia), o IRC praticamente desaparece, os terrenos do Estado são vendidos ao desbarato, e tudo são benesses.

Sabemos que o Estado celebrou com o IKEA um acordo para essas benesses todas. Infelizmente, depois de pesquisar um pouco na Internet, não consegui aceder ao conteúdo desse acordo. Porque será?...

Só há uma regra que os tipos do IKEA e do governo e restantes empresários e empreendedores e malta fixe continuam a cumprir escrupulosamente: a regra do salário mínimo. Em 2010 a maioria dos 1000 trabalhadores da fábrica da IKEA em Paços de Ferreira auferiam 475 € de salário mensal. E as condições de trabalho eram de modo a que a produtividade estivesse sempre ao rubro... De 2010 para cá, as coisas não podem ter melhorado. Talvez agora também lá tenham estágios não remunerados e espalhem aos quatro ventos que estão a dar formação gratuita às pessoas!...

Ainda este ano a IKEA voltou a ser acusada pela Quercus de construir em RAN. Mas, novamente, isso não é nada que uma classificação de PIN não ultrapasse, a bem da economia nacional, claro está.


Esta última imagem, publicada no Jornal de Notícias de 31 de Maio de 2008 tinha a seguinte legenda "Maria José, Zélia e Custódia arranjaram emprego". E que bem que elas ficam de jardineira azul e t-shirt branca... Tal como no vídeo de lá de cima, enquanto o Sócrates diz que é bom para a economia e mostra como se serram troncos, estes 'recursos humanos' ficam sempre muito bonitos... há que tratá-los com o jeitinho necessário... olha se algum ganha uma doença?... e depois é uma chatice!... tem que se mandar abater...

A economia, organizada nestes moldes, mais do que perniciosa, é fétida. A ideia de que a criação de empregos é algo divino e que merece todo o nosso respeito e até subserviência é a demonstração evidente de como a ideologia capitalista está enraizada dentro das pessoas. Não interessa que os empregos sejam mal pagos, não permitam a evolução espiritual ou material das pessoas, não as emancipem, não permitam nunca que elas se apoderem dos seus próprios destinos, e que a fatia de leão do produto do seu trabalho seja apropriada pelo empresário ou investidor ou o raio que o parta!

Entretanto, em simultâneo, o IKEA e as outras multinacionais que todos conhecemos neste início de século vão extinguindo inexoravelmente os pequenos produtores. As leis do jogo, a competitividade, a produtividade, e o diabo-a-sete, ditam isso mesmo.

Há tempos pensei que me daria muito gozo poder fazer trabalhos em madeira. Pensei mesmo em tornar-me aprendiz de carpinteiro. Depois constatei que nas cidades que melhor conhecia já quase ninguém recorria a carpinteiros, que os poucos que ainda sobreviviam faziam-no com dificuldade, que toda a gente se abastecia em IKEA e coisas do género. Pensei que nos sítios mais recônditos fosse diferente. Há uns anos, em Rio do Onor, em conversa com um velhote de lá, constatei que afinal é o mesmo em toda a parte.

E hoje mesmo percebi que a madeira da criptoméria, árvore introduzida há cerca de duzentos anos nos Açores para fins comerciais (e que ajudou a dar cabo da flora original do arquipélago), também está a dar o seu lugar aos aglomerados de pinho de outros tantos IKEA deste planeta. É o que as pessoas preferem...

Mas vamos ter esperança, que já se fala na "criação do cluster silvo-industrial da 'criptoméria dos Açores'". A postura e a linguagem é toda a mesma: recursos naturais, cluster da fileira florestal, desenvolvimento rural sustentável, plano de marketing, fomento do conhecimento e da inovação, exportação para novos destinos intra e extra-comunitários, desafios e oportunidades, melhorar o valor económico do sector florestal, novas oportunidades de mercado, sectores emergentes, gestão sustentável, papel multifuncional das florestas, valorização do papel da floresta na protecção dos recursos naturais e do ambiente.

"Valorização do papel da floresta na protecção dos recursos naturais e do ambiente"???... O que é que isto quer dizer?...

Mas somos alertados que "primeiro será necessário organizar a produção e certificar quer a gestão florestal sustentável dos seus povoamentos, quer toda a cadeia de transformação a jusante". Ou seja, primeiro será necessário criar os nossos próprios IKEA, geradores de muitos postos de trabalho lindos... Claro está!



Agora sabemos porque é que os produtos da IKEA são baratos: porque nos comemos a nós próprios. É claro que quando compramos no IKEA somos nós a montar os móveis, mas também nos estamos a alimentar de florestas e de pessoas...

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

A Amazon, o Natal, o consumo, o crescimento económico, a produtividade, a competitividade e o diabo-a-sete...

E no meio disto tudo, cabe perguntar: o que é que Deus e o menino Jesus têm a ver com o nosso Natal?...

Artigos anteriores sobre o Natal:
Neste Natal é muitíssimo provável que irá comprar um ou mais produtos na Zara, na Worten, na Fnac, no Continente, na Decathlon, ou numa série de outras lojas que quase toda a gente conhece. Entre elas está a loja virtual da Amazon, a vender livros, originalmente, e tudo e mais alguma coisa para além de livros. Entre estas coisas que se compram estão produtos Samsung, Apple, Panasonic, Nestlé, Procter&Gamble, Sony, Unilever, Nokia, LG, Coca-Cola, Mars, L'Oreal, Danone, Nike, etc, etc, etc.


Todas estas lojas, marcas, produtos e empresas são o produto do maravilhoso mundo novo do capitalismo. Todas as coisas pelas quais todos ansiamos, a baixo preço. Só que todas estas coisas não chegam sem os seus senãos. As regras do jogo não foram simplesmente lançadas, mas fabricadas ao longo de décadas, para garantir que todos temos no bolso o motante de dinheiro ideal para manter esta máquina a funcionar. E um dos efeitos que ela tem é o que o trabalho da BBC agora revela acerca da Amazon. Mas quem diz Amazon, diz outra empresa qualquer, como aliás os próprios tipos da Amazon assinalam. A competitividade assim o exige!...

A minha sugestão é simples: neste e em todos os natais, todos os dias, consuma menos, consuma-se menos, e melhor.

Jornalista infiltrado expõe condições de trabalho na Amazon

Amazon workers face 'increased risk of mental illness'

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Divertindo-nos até à morte...



"Amusing ourselves to death" é o título do livro que acabei de ler, do Neil Postman, e que recomendo vivamente.

Deixo um excerto do último capítulo, "the Huxleyan warning", que nos fala da nossa ideologia do "lol", isto é, deste nosso modo de ser tão vazio e tão entranhado que mede tudo em gargalhadas e sorrisinhos idiotas (em baixo faço a minha própria tradução):

"Those who speak about this matter must often raise their voices to a near-hysterical pitch, inviting the charge that they are everything from wimps to public nuisances to Jeremiahs. But they do so because what they want others to see appears benign, when it is not invisible altogether. An Orwellian world is much easier to recognize, and to oppose, than a Huxleyan. Everything in our background has prepared us to know and resist a prison when the gates begin to close around us. We are not likely, for example, to be indifferent to the voices of the Sakharovs and the Timmermans and the Walesas. We take arms against such a sea of troubles, buttressed by the spirit of Milton, Bacon, Voltaire, Goethe and Jefferson. But what if there are no cries of anguish to be heard? Who is prepared to take arms against a sea of amusements? To whom do we complain, and when, and in what tone of voice, when serious discourse dissolves into giggles? What is the antidote to a culture's being drained by laughter?

I fear that our philosophers have given us no guidance in this matter. Their warnings have customarily been directed against those consciously formulated ideologies that appeal to the worst tendencies in human nature. But what is happening in America is not the design of an articulated ideology. No Mein Kampf or Communist Manifesto announced its coming. It comes as the unintended consequence of a dramatic change in our modes of public conversation. But it is an ideology nonetheless, for it imposes a way of life, a set of relations among people and ideas, about which there has been no consensus, no discussion and no opposition. Only compliance. Public consciousness has not yet assimilated the point that technology is ideology. This, in spite of the fact that before our very eyes technology has altered every aspect of life in America during the past eighty years. For example, it would have been excusable in 1905 for us to be unprepared for the cultural changes the automobile would bring. Who could have suspected then that the automobile would tell us how we were to conduct our social and sexual lives? Would reorient our ideas about what to do with our forests and cities? Would create new ways of expressing our personal identity and social standing?

But it is much later in the game now, and ignorance of the score is inexcusable. To be unaware that a technology comes equipped with a program for social change, to maintain that technology is neutral, to make the assumption that technology is always a friend to culture is, at this late hour, stupidity plain and simple. Moreover, we have seen enough by now to know that technological changes in our modes of communication are even more ideology-laden than changes in our modes of transportation. Introduce the alphabet to a culture and you change its cognitive habits, its social relations, its notions of community, history and religion. Introduce the printing press with movable type, and you do the same. Introduce speed-of-light transmission of images and you make a cultural revolution. Without a vote. Without polemics. Without guerrilla resistance. Here is ideology, pure if not serene. Here is ideology without words, and all the more powerful for their absence. All that is required to make it stick is a population that devoutly believes in the inevitability of progress. And in this sense, all Americans are Marxists, for we believe nothing if not that history is moving us toward some preordained paradise and that technology is the force behind that movement.

Thus, there are near insurmountable difficulties for anyone who has written such a book as this, and who wishes to end it with some remedies for the affliction. In the first place, not everyone believes a cure is needed, and in the second, there probably isn't any. But as a true-blue American who has imbibed the unshakable belief that where there is a problem, there must be a solution, I shall conclude with the following suggestions.
(...)"

A minha tradução:
"Os que falam deste assunto precisam muitas vezes de levantar a sua voz até um nível quase histérico, sujeitando-se a ser classificados de cobardes, de incómodos públicos ou de Jeremias. Mas eles fazem-no porque o que eles pretendem que os outros vejam parece benigno, quando não é mesmo completamente invisível. Um mundo orwelliano é muito mais fácil de reconhecer e combater do que um huxleyano. Toda a nossa experiência nos preparou para reconhecer e resistir à prisão quando os portões começam a fechar à nossa volta. Não é provável, por exemplo, que sejamos indiferentes às vozes dos Sakharovs e dos Timmermans e dos Walesas. Pegamos em armas contra um tal oceano de problemas, apoiados pelo espírito de Milton, Bacon, Voltaire, Goethe e Jefferson. Mas e se não houver gritos de angústia para se ouvir? Quem é que está preparado para pegar em armas contra um mar de divertimentos? A quem nos podemos queixar, e quando, e em que tom de voz, quando o discurso sério se dissolve em risinhos? Qual é o antídoto para uma cultura que é arrastada pelo riso?

Receio que os nossos filósofos não nos tenham deixado orientação neste assunto. Os seus avisos foram tradicionalmente dirigidos contra aquelas ideologias conscientemente formuladas que apelam às piores tendências da natureza humana. Mas o que se passa na América não é o resultado de uma ideologia articulada. Nenhum Mein Kampf ou Manifesto Comunista anunciou a sua chegada. Acontece como consequência não intencional de uma mudança dramática nos nossos modos de conversação pública. Mas é uma ideologia, apesar de tudo, pois impõe um modo de vida, um conjunto de relações entre pessoas e ideias, sobre as quais não tem havido consenso, discussão ou oposição. Apenas submissão. A consciência pública ainda não assimilou que tecnologia é ideologia. Isto apesar do facto de perante os nossos olhos a tecnologia ter alterado todos os aspectos da vida na América ao longo dos últimos oitenta anos. Por exemplo, teria sido desculpável em 1905 não estar preparado para as mudanças culturais que o automóvel iria trazer. Quem poderia ter suspeitado nessa altura que o automóvel ditaria como haveríamos de conduzir a nossa vida social e a nossa vida sexual? Que reorientaria as nossas ideias acerca do que fazer com as nossas florestas e cidades? Que criaria novas formas de expressar a nossa identidade pessoal e o nosso estatuto social?

Mas entretanto já passou muito tempo, e a ignorância da partitura é agora indesculpável. Não estar consciente que uma tecnologia vem equipada com um programa de mudança social, manter que a tecnologia é neutra, assumir o pressuposto de que a tecnologia é sempre amiga da cultura é, neste momento mais tardio, estupidez pura e simples. Além disso, já vimos o suficiente por esta altura para saber que mudanças tecnológicas nos nossos modos de comunicação são ainda mais conduzidas ideologicamente que mudanças nos nossos modos de transporte. Introduza-se o alfabeto numa cultura e alterar-se-á os seus hábitos cognitivos, as suas relações sociais, as suas noções de comunidade, história e religião. Introduza-se a imprensa com caracteres móveis e far-se-á o mesmo. Introduza-se transmissão de imagens à velocidade da luz e far-se-á uma revolução cultural. Sem um voto. Sem polémica. Sem resistência de guerrilha. Aqui está a ideologia, pura, senão mesmo serena. Aqui está a ideologia sem palavras, e ainda mais poderosa pela sua ausência. Tudo o que é necessário para que pegue é uma população que devotamente acredite na inevitabilidade do progresso. E neste sentido todos os americanos são marxistas, pois acreditamos sempre que a história nos move em direcção a um paraíso pré-organizado e que a tecnologia é a força por trás desse movimento.

Assim, existem dificuldades quase inultrapassáveis para quem escreva um livro como este e o queira terminar com alguns remédios para a aflição. Em primeiro lugar, nem toda a gente acredita que uma cura é necessária, e em segundo lugar, provavelmente ela nem existe. Mas enquanto fiel Americano que assimilou a inabalável crença de que onde há um problema tem de haver uma solução, concluirei com as seguintes sugestões.
(...)"

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Poema da mulher dos cabelos brancos...

(retirado daqui)


De António Gedeão:

A mulher dos cabelos brancos estava à janela do primeiro andar
com os antebraços poisados na parapeito.
Tinha um xaile de malha sobre os ombros,
cruzado à frente e as mãos metidas nele.

Quentinha, a mulher dos cabelos brancos.

Postada à janela,
muito ocupada em fazer coisa nenhuma,
com os antebraços poisados no parapeito,
a mulher dos cabelos brancos
só seguia com os olhos quem passava na rua.
Ela nunca tinha ouvido falar no Aristóteles,
nem no Descartes, nem no Sigmund Freud,
mas sabia coisas concretas que a vida prática lhe ensinara.
Sabia que Eva tinha sido feita
de uma costela de Adão,
o que se prova
por os homens terem uma costela a menos do que as mulheres.
E também sabia que o Sol anda à volta da Terra
como é evidente,
e que as salamandras vivas,
postas no fogo,
não morrem nem sequer se queimam,
o que não é evidente mas é certo.
E por saber todas estas coisas,
e muito mais,
a mulher dos cabelos brancos sentia-se muito quentinha
com os antebraços poisados no parapeito.

Eis que, porém,
o relógio do tempo despertou-a.
Então,
pausadamente,
a mulher dos cabelos brancos ergueu o busto,
fechou a janela,
e foi sentar-se na cadeira do costume,
aconchegadinha,
a ver televisão.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Moção de censura...

Moção de censura ao Governo, apresentada no dia 18 de Julho, pelos Verdes. Uma moção, segundo as palavras de José Luís Ferreira, a um governo que mentiu aos portugueses, que prometeu não aumentar impostos, que em dois anos passou o desemprego de 11% em 18%, que em dois anos aumentou a dívida de 95% do PIB para 127% do PIB, que só pensa nos interesses dos grandes grupos económicos, que em dois anos aumentou o défice de 4,2% do PIB para 8,8% do PIB, que convive mal com o Estado Social, que abandonou e abandona o património público... Tudo em nome dos "mercados", os mesmos "mercados" que provocaram a situação que o país vive.

"O compromisso para a destruição nacional está assim entregue aos mesmos que ao longo de quase quatro décadas destruiram o tecido económico do país, arruinaram a nossa indústria, enterraram a nossa agricultura e afogaram as nossas pescas. Os mesmos que delapidaram o nosso património colectivo com a privatização de empresas estratégicas, que deixaram de estar ao serviço da economia nacional para estarem ao serviço dos interesses dos seus accionistas. Os mesmos que inventaram as parcerias publico-privadas, que foram na conversa dos swaps e que permitiram a fuga de capitais para o estrangeiro. Os mesmos que permitiram a distribuição antecipada de dividendos dos grandes grupos económicos com o propósito de não pagar impostos e permitiram a transferência das sedes sociais das grandes empresas para o estrangeiro para não pagar impostos em Portugal. Os mesmos que socializaram os prejuízos do BPN, mas que mantiveram os lucros do grupo nas mãos dos seus accionistas.
(...)
É pois altura de separar águas. Separar as águas entre aqueles que entendem que o interesse nacional é continuar com estas políticas, é continuar a governar para os mercados e para financiar a banca, e aqueles que entendem que o interesse nacional é romper com estas políticas, é romper com a subserviência perante interesses que não são os interesses do país."



A esta moção eu acrescentaria uma moção de censura aos eleitores portugueses que se demitem da sua responsabilidade de participação activa (o que inclui modificação, naquilo que for necessário) em tudo o que se passa na Assembleia da República e no Governo, e outra moção de censura aos que sempre apoiaram os três partidos do costume, nunca admitindo sequer a possibilidade de existência de alternativa, para depois concluir que os partidos são todos iguais, os políticos são todos iguais e não há nada a fazer.

Somos todos responsáveis, quer queiramos quer não, simplesmente porque sofremos as consequências dos nossos actos negligentes. Só os elementos dos sucessivos governos que temos tido é que parecem completamente irresponsáveis, porque nunca respondem pelo sofrimento que causam aos outros.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

A importância de não ser...

(Obrigado Rui Viana)

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Ignorar não é nada bonito...


(esta foto foi tirada na Graça do Divor, aqui, em 2009)

'Carta para Josefa, minha avó', de Saramago:

Tens noventa anos. És velha, dolorida. Dizes-me que foste a mais bela rapariga do teu tempo e eu acredito. Não sabes ler. Tens as mãos grossas e deformadas, os pés encortiçados. Carregaste à cabeça toneladas de restolho e lenha, albufeiras de água. Viste nascer o Sol todos os dias. De todo o pão que amassaste se faria um banquete universal! Criaste pessoas e gado, meteste os bácoros na tua própria cama quando o frio ameaçava gelá-los. Contaste-me histórias de aparições e lobisomens, velhas questões de família, um crime de morte. Trave da tua casa, lume da tua lareira – sete vezes engravidaste, sete vezes deste á luz. Não sabes nada do Mundo. Não entendes de política, nem de economia, nem de literatura, nem de filosofia, nem de religião. Herdaste umas centenas de palavras práticas, um vocabulário elementar. Com isto viveste e vais vivendo. És sensível às catástrofes e também aos casos de rua, aos casamentos de princesas e ao roubo dos coelhos da vizinha. Tens grandes ódios por motivos de que já perdeste lembrança, grandes dedicações que assentam em coisa nenhuma. Vives. Para ti, a palavra Vietname é apenas um som bárbaro que não condiz com o teu círculo de légua e meia de raio. Da fome sabes alguma coisa: já viste uma bandeira negra içada na torre da igreja. (Contaste-me tu, ou terei sonhado que o contavas?...) Transportas contigo o teu pequeno casulo de interesses. E, no entanto, tens os olhos claros e és alegre. O teu riso é como um foguete de cores. Como tu, não vi rir ninguém. Estou diante de ti, e não entendo. Sou da tua carne e do teu sangue, mas não entendo. Vieste a este Mundo e não curaste de saber o que é o Mundo. Chegas ao fim da vida, e o Mundo ainda é, para ti, o que era quando nasceste: uma interrogação, um mistério inacessível, uma coisa que não fazia parte da tua herança: quinhentas palavras, um quintal a que em cinco minutos se dá a volta, uma casa de telha vã e chão de terra batida. Aperto a tua mão calosa, passo a minha mão pela tua face enrugada e pelos teus cabelos brancos, partidos pelo peso dos carregos – e continuo a não entender. Foste bela, dizes, e bem vejo que és inteligente. Por que foi então que te roubaram o mundo? Quem to roubou? Mas disto entendo eu, e dir-te-ia o como, o porquê e o quando se soubesses compreender. Já não vale a pena. O mundo continuará sem ti – e sem mim. Não teremos dito um ao outro o que mais importava. Não teremos realmente? Eu não te terei dado, porque as minhas palavras não são as tuas, o mundo que te era devido. Fico com esta culpa, de que me não acusas – e isso ainda é pior. Mas porquê, avó, porque te sentas tu na soleira da tua porta, aberta para a noite estrelada e imensa, para o céu de que nada sabes e por onde nunca viajarás, para o silêncio dos campos e das árvores assombradas, e dizes, com a tranquila serenidade dos teus noventa anos e o fogo da tua adolescência nunca perdida: “O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer!” É isto que eu não entendo – mas a culpa não é tua.

(José Saramago, in Deste Mundo e do Outro, ed. Caminho)
(obrigado Ilda)




'O povo está divorciado da cultura', de Torga:

O povo está divorciado da cultura, e encolhe-se cada vez mais na sua fome e na sua ignorância. Somos nós, os que saímos dele e o queremos verdadeiramente servir, que temos o dever de o procurar, de o esclarecer, de o interessar activamente na sua própria salvação. Que lhe importam os grandes livros, se ele os não pode nem sequer ler? Que lhe importam as grandes sinfonias, se ele as não sabe ouvir? é urgente chamar o povo à realidade nacional. É preciso interessá-lo de verdade no processo social, onde ele tem o único papel que conta.
— Para isso?...
— Convidá-lo desde já a votar livre e claramente. Chamá-lo a determinar-se, a escolher os seus homens, a responsabilizar-se no seu destino,
— Esse destino é?...
— O destino de todos os corpos vivos: crescer, multiplicar-se, procurar a felicidade, e deixar no seu caminho uma nítida e aberta marca de compreensão e de amor.

Miguel Torga, in "Diário (1945)"

(esta foto foi tirada na Casa da Cultura de Vimioso, aqui, em 2010)


segunda-feira, 3 de junho de 2013

Feliz como uma criança...

de Mário de Sá-Carneiro:

Oh! A idade venturosa da infância! Onde há outra mais feliz e mais tranquila, mais sorridente - isto é, mais egoísta?... Em volta de nós podem suceder as piores catástrofes. Se elas nos não arrancam nem os brinquedos nem os bolos, não nos atingem de forma alguma... não as compreendemos sequer...
Quando muito, correm-nos lágrimas vendo chorar as nossas mães. No entanto, é só ainda vagamente que percebemos a dor humana. Por isso as nossas lágrimas secam depressa diante dos brinquedos. E se o quadro em que nos agitamos é risonho, a infância tansforma-se-nos então num jardim maravilhoso. Para as crianças felizes, só para elas, existe realmente um céu - o ceú dos seus primeiros anos.

O dia em que os correios fecharam...



Vejam até ao fim, que vale a pena. Reparem como o encerramento dos postos dos correios não acontece por acaso. E reparem no que aquela senhora diz, acerca da nossa valentia...

(obrigado Rui Viana)

Para onde vai o dinheiro que nos falta...

Entrevista que pelos vistos foi difundida a 1 de Maio de 2013 (obrigado novamente ao Frederico por me ter enviado isto):



Desde há muito tempo que tenho vindo a colocar esta questão às pessoas com quem falo. Se eu tiver dinheiro parado numa conta bancária, eu também quero poder emprestá-lo ao Estado português e receber um juro de 4 ou 5% ao ano. Exploremos um pouco mais este assunto.

Emprestar a um Estado é provavelmente a coisa mais segura que alguma pessoa pode fazer com o seu dinheiro. Certamente é muito mais seguro que emprestar a um banco. Pelo simples facto de que os bancos podem falir, embora isso seja raro, enquanto o Estado não pode. Isso não quer dizer que o Estado pague sempre as suas dívidas. Afinal de contas um Estado é, ou deveria ser, soberano. Mas quer dizer que é mais provável que um Estado pague as suas dívidas do que um banco, mesmo que pague a más horas.

No entanto, os Estados europeus e outros, tal como os bancos e muitas outras instituições, fomentaram o desenvolvimento de um sistema financeiro no qual algumas instituições não democráticas, vulgares empresas, têm o poder de fixar e de avisar toda a gente sobre o nível de risco inerente aos empréstimos aos diversos Estados. É assim que, de repente, se torna tremendamente importante saber o que a empresa de notação Fitch tem a dizer acerca do risco de emprestar ao Estado português ou a outros.

Isto não tinha de ser assim. Isto é assim porque isso é favorável às pessoas que têm mais dinheiro, e porque essas pessoas construíram este sistema ao longo das últimas décadas, numa interacção muito estreita com os diversos governos dos diversos países.

O Estado português, como tantos outros, endividou-se muito no passado. Não o devia ter feito. Nós, os portugueses, não o devíamos ter deixado. Mas foi assim. Os empréstimos avultados foram possíveis por várias razões, entre as quais posso destacar (1) o efeito imediato dos seus benefícios em contraste com o efeito diferido dos seus malefícios, que portanto os torna menos visíveis; (2) a possibilidade de os políticos canalizarem dinheiros que não são seus, e sobre os quais não terão de responder no futuro, para actividades e empresas que os podem beneficiar directa ou indirectamente; (3) o enorme benefício que esses empréstimos concedem a quem empresta o dinheiro, sob a forma de juros.

Cada vez mais pessoas começam a perceber que a ganância não é uma coisa positiva, tal como não é fazer dinheiro a qualquer custo. No entanto, parece que ninguém coloca em causa a legitimidade da existência de um rendimento como o juro, e que remunera nenhum esforço. O juro remunera o dinheiro, não remunera o esforço. O prémio para quem se esforçou pode ser (embora na nossa sociedade nem sempre seja assim) o dinheiro. Mas será legítimo que quem já tem esse prémio, depois tenha mais prémios só porque à partida já tinha um prémio? Será legítimo que alguém receba rios de dinheiro só por emprestar o seu dinheiro?... Porquê?...

A existência de juros, a possibilidade de os capitais circularem livremente pelo planeta, e o funcionamento de todo este sistema financeiro também não tinha de ser assim. É assim porque isso é favorável às pessoas que têm mais dinheiro, e porque essas pessoas construíram esse sistema ao longo das últimas décadas, numa interacção muito estreita com os diversos governos dos diversos países. É... estou a repetir-me... porque tudo isto vai dar ao mesmo: dar mais dinheiro a quem já tem mais dinheiro. É a mesma causa e o mesmo método para todos estes diferentes efeitos que só servem para nos tramar...

Portanto, o Estado português altamente endividado, fica sujeito ao pagamento de elevados montantes de juro.

E neste contexto, a variação da notação dos empréstimos ao Estado português pelas tais agências de notação implicou o início de um efeito de bola-de-neve: a diminuição da notação aumenta o juro, o que aumenta o défice e a dívida, o que diminui ainda mais a notação...

O Estado acaba então por ter de gastar muitos milhares de milhões de euros todos os anos apenas para conseguir pagar os juros da sua dívida global, sem sequer falar da diminuição (amortização) do verdadeiro valor da dívida. Começa-se então a gritar por todos os lados que "não há dinheiro" e começa-se a fazer a lavagem cerebral de uma população inteira, fazendo-a acreditar que "não há dinheiro" por causa dos gastos excessivos, por exemplo, nos correios, nas escolas, nos institutos de investigação, nos hospitais, nos transportes, nos tribunais, nos pensionistas, nos desempregados, nos medicamentos, etc. Mas nunca se põe em causa nem o mecanismo que conduziu até esta situação, nem o mecanismo que permite, a todo o momento que passa, que pessoas com muito dinheiro ganhem ainda mais dinheiro, com base num rendimento que deveria ser considerado ilegítimo, e ainda mais quando a maioria da população está em apuros, que é o juro.

Não há dinheiro, dizem-nos. E, na verdade, há muito dinheiro... só que ele não está no Estado. E é assim que o Estado precisa de se endividar ainda mais, não para manter os hospitais, que esses vão sendo "racionalizados", mas para manter o pagamento dos juros aos credores. E é assim que entra em cena a "troika", a tríade formada pelo Banco Central Europeu, pela Comissão Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional. E o que é que a "troika" faz de tão miraculoso?... A "troika" empresta dinheiro ao Estado português, a taxas de juro bem superiores a 4% ao ano, bem superiores à taxa de juro que o comum português consegue se quiser fazer um depósito num banco ou se ele mesmo quiser emprestar dinheiro ao seu próprio Estado.

E porque é que o cidadão comum não pode então emprestar dinheiro directamente ao Estado?... No vídeo em cima podemos ver como aquele energúmeno fica encabulado com a questão. Mas não é que ele não saiba a resposta. Ele sabe. A resposta é muito simples: porque os rios de dinheiro que se geram com esta coisa dos juros que o Estado tem de pagar têm de ser canalizados para as mãos certas, isto é, as mãos dos bancos e dos seus amigos, das gentes de dinheiro, que são também as mãos dos tipos dos sucessivos governos que temos tido.

A concluir, interessa realçar que se fosse o cidadão comum a emprestar dinheiro directamente ao Estado, isso não resolveria praticamente nada. Isso apenas daria mais uma oportunidade aos portugueses que mais têm de se tornarem ainda mais ricos. Isso não acabaria com a pouca vergonha que é o enriquecimento ilícito à base de juros, isso não diminuiría a dívida do Estado nem o montante que ele teria de pagar anualmente em juros, isso não libertaria mais dinheiro para o funcionamento das coisas públicas, isso não acabaria com o crescimento das desigualdades económicas.

Porque é que eu e outros sentem então tanta necessidade de expor este caso? Porque se trata, simplesmente, de uma enorme evidência da canalização de verbas públicas para as mãos de alguns. Só isso. E é só isso que o Estado tem feito e irá continuar a fazer enquanto os portugueses o permitirem.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

A culpa é dos excessivos gastos públicos!...

Cada vez mais acredito que o problema não é as pessoas não conseguirem ver, mas sim as pessoas activamente não quererem ver. E enquanto assim for, sofrem elas, sofro eu e sofremos todos nós, na esperança que um dia, por alguma sorte divina, nos transformemos num daqueles que beneficia com todo o sofrimento dos outros. Somos homens ou somos ratos?...




Obrigado Frederico.

terça-feira, 16 de abril de 2013

This land is mine...

Sem comentários...



Obrigado Jossy!

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Preço da electricidade - a troika e as tarifas transitórias...


Finalmente, mais de um mês depois da minha reclamação junto da ERSE, recebi uma resposta que explica porque é que tive um aumento de 5,5% na factura da electricidade quando a ERSE anuncia um aumento máximo das tarifas transitórias de 2,8%:

"
Atendendo ao exposto, vimos informar que no comunicado da ERSE relativo às tarifas de eletricidade para o ano de 2013 é referida uma variação tarifária de 2,8% entre 2012 e 2013 para as Tarifas Transitórias de Venda a Clientes Finais em Baixa Tensão Normal (BTN), em Portugal Continental.

É importante sublinhar que o acréscimo de 2,8% é um valor médio, obtido tendo em conta a totalidade dos clientes em BTN, sendo que as variações tarifárias por opção tarifária e por consumidor podem ser superiores ou inferiores em relação a este valor médio.

Adicionalmente salienta-se que a ERSE divulga na sua página de internet informação mais detalhada sobre as variações tarifárias, dando a conhecer nomeadamente o valor da variação tarifária por opção tarifária e por termo tarifário. Esta divulgação é feita através do documento “Estrutura Tarifária do Setor Elétrico em 2013”, a qual está acessível através da ligação  http://www.erse.pt/pt/electricidade/tarifaseprecos/2013/Documents/Estrutura%20Tarif%C3%A1ria%20SE%202013%20(FINAL).pdf
"

É... de facto é importante sublinhar!... Os senhores da ERSE e os outros que mandam neles talvez se tenham esquecido de sublinhar... que o aumento de 2,8% era um aumento qualquer, para um cliente qualquer fictício, mas não para mim e para outros muitos milhões. Senão, veja-se o que é dito num documento oficial da ERSE:


Nesse outro documento que eles indicam, intitulado "estrutura tarifária do setor elétrico em 2013", o quadro com as variações tarifárias para clientes de BTN (baixa tensão normal), que somos quase todos nós, é o seguinte (clique para ampliar):


Quando a EDP apresenta lucros, e recorde-se que lucros são excedentes, são o dinheiro que sobra depois de se ter pago tudo o que havia para pagar, de 1182 milhões de euros no ano passado, o que é que justifica o aumento de preço anunciado de 2,8%?... E o que é que justifica o aumento de preço efectivo seja muitas vezes bem acima dos 5%?...

De acordo com a informação divulgada na página de internet da ERSE, a sua missão implica, logo à cabeça,

"A proteção dos direitos e os interesses dos consumidores, em particular dos clientes finais economicamente vulneráveis, em relação a preços, à forma e qualidade da prestação de serviços, promovendo a sua informação, esclarecimento e formação"

Escusado será dizer que a missão de qualquer governo de qualquer país é olhar pelos interesses da sua população.

É caso então para perguntar o que é que a ERSE e o governo andam a fazer, e o que é que nós andamos a fazer que permitimos que eles brinquem deste modo connosco e em alternativa defendam os interesses dos que mais têm!

Os senhores da ERSE estão a mando do governo. Os senhores do governo estão a mando da "troika". E os senhores da "troika" estão a mando de quem?... Vejam lá o texto introdutório do decreto-lei que origina estas mudanças no fornecimento de electricidade:


Se o objectivo da "troika" é apenas o equilíbrio das contas públicas, e se a EDP dá lucros chorudos, então a sua privatização e a liberalização deste mercado beneficia quem?...


sexta-feira, 5 de abril de 2013

Medos e muros...



Obrigado Margarida!

The sugar takers, pink dream makers, they try to escape from it all, but instead they build walls, that's all:



E de levantar muros e de os deitar abaixo, incessantemente, e de bater contra os muros dos outros, de quem gostamos, a última música do trabalho "the wall":



All alone, or in twos
The ones who really love you
Walk up and down outside the wall
Some hand in hand
Some gathered together in bands
The bleeding hearts and the artists
Make their stand
And when they've given you their all
Some stagger and fall after all it's not easy
Banging your heart against some mad bugger's wall

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Mais sobre os preços da electricidade e afins...

...desta vez pela voz do José Gomes Ferreira (não confundir com o escritor e poeta):


sexta-feira, 22 de março de 2013

Pague menos luz...


A liberalização do mercado dos fornecedores de energia eléctrica tem-se revelado uma oportunidade para avaliarmos os benefícios da concorrência: neste caso isso tem-se traduzido em maiores preços para os mesmos serviços.

As grandes empresas de fornecimento de serviços de primeira necessidade têm um poder negocial enorme sobre os consumidores e em geral impõem-lhes as condições que bem entendem.

Para contrariar isto, a DECO está a promover uma acção concertada de consumidores de energia eléctrica com o objectivo de conseguir fornecimentos a preços menores. Quanto mais pessoas participarem, mais poder negocial a DECO terá e maior é a probabilidade de se conseguir um preço mais baixo para a electricidade.

Penso que isto interessa a quase toda a gente. É só ir ao site deles e fazer a inscrição, que não custa nada e não obriga a nada.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Prunus...


As amendoeiras em flor são o mote para viagens turísticas que se realizam todos os anos à região do Alto Douro desde o fim de Fevereiro até meados de Março. Naturalmente há amendoeiras em muitas outras partes do país e, de resto, nem a amendoeira é uma árvore autóctone.

Para além da amendoeira, existem muitas outras árvores que florescem mais ou menos nesta altura do ano e que possuem aspectos semelhantes ao da amendoeira. São as árvores do género prunus, que possuem flores com cores entre o branco, o rosa e o vermelho, com cinco pétalas e muitos estames, e dão frutos com um grande e rijo caroço central.

A seguir apresentam-se exemplos de árvores do género prunus bem conhecidas. Todos os seus frutos são comestíveis. No entanto, outras partes da planta, incluindo o caroço, as folhas e as flores, contêm substâncias cianogénicas, isto é, que dão origem a cianetos altamente tóxicos. Como sempre, a toxicidade depende da dose, pelo que a ingestão de pequenas quantidades não é perigosa. O amargo das sementes destes frutos, por exemplo o da amêndoa amarga, resulta precisamente dos compostos cianogénicos.


Prunus Dulcis - Amendoeira

Origem: Médio Oriente



Prunus Salicina - Ameixoeira

Origem: China


Prunus Domestica - Ameixoeira (inclui muitas subespécies)

Origem: Próximo Oriente


Prunus Persica - Pessegueiro

Origem: China


Prunus Spinosa - Abrunheiro

Origem: Mediterrâneo e Próximo Oriente


Prunus Armeniaca - Damasqueiro (também conhecido como Alperceiro ou Alpercheiro)

Origem: China ou Índia (?), cultivado na Arménia desde há mais de 7000 anos



Prunus Avium - Cerejeira ou Cerdeira

Origem: Mediterrâneo, Próximo e Médio Oriente



Prunus Cerasus - Ginjeira

Origem: Mediterrâneo e Próximo Oriente


Prunus Cerasifera - Ameixoeira de Jardim

Origem: Este da Europa, Próximo e Médio Oriente