(capítulo 1)
Capítulo 4
Fulaninho nunca mais se esqueceu do dia em que viu pela última vez o mensageiro. Veio anunciar a mais recente subida no 'índice de bem-estar' e as medidas para o novo ano: uma nova descida nos impostos e um novo aumento nas rendas. Foi nesse mesmo dia que Fulaninho fez as malas e zarpou.
Ao longo dos últimos mais de dez anos Fulaninho tinha sabido, através do mensageiro, das subidas do IB 'que tão importantes são para o povo da terra de sabe-se lá onde'. No entanto, em casa dele eram todos os anos os mesmos quatro ou cinco frangos. Os pais, agora com dores nos ossos, continuavam a levantar-se com o nascer do sol para trabalhar nas terras que não eram deles. E alguns amigos seus, os mesmos de sempre, continuavam sem frango assado mesmo no Natal.
Fulaninho estava farto daquilo. Arrancou à procura de outra sorte.
Ele não via nem mais nem menos do que viam os seus: que o IB subia, que não se falava noutra coisa senão nas subidas do IB e nas políticas do rei, mas que na realidade tudo continuava na mesma. Na sua aldeia, o velho Falus Baratus :) lá comunicava todos os anos ao rei o consumo de frangos assados. Todos os anos o consumo era maior. Mas Fulaninho sabia quem tinha aumentado o consumo de frangos... Valis Longus e companhia. Para os outros tudo permanecia mais ou menos na mesma.
No entanto Fulaninho era o único inconformado. Quando nesse jantar insistiu com os pais que eles tinham de se manifestar contra o aumento das rendas, e estes lhe disseram que tinha razão, mas que se o fizessem o senhor Longus trataria de arranjar outros inquilinos, Fulaninho percebeu que não podia suportar mais aquela situação.
Fulaninho transformou-se num vagabundo. Era inteligente, e não perdia a oportunidade de encantar alguém com as suas qualidades. Às vezes conseguia comida e abrigo. Outras vezes dormia na rua, ao frio, com o estômago vazio. Durante anos foi essa a sua sorte.
Para ele tinha valido a pena. O mundo revelara-se-lhe. Era essa a sua recompensa. E não a trocava nem por cem frangos assados! Ao longo das suas deambulações tinha descoberto coisas que nunca poderia ter conhecido lá na sua aldeia. Fulaninho cruzou fronteiras, conheceu a 'terra de cima' e a 'terra de baixo', dormiu com filhas de nobres (inclusive uma vez fez-se passar por um!), aprendeu a fazer sapatos, teve de roubar para comer... Via as diversas facetas da verdade. Viu como era importante para os senhores das terras ter mais poder sobre os seus inquilinos e como ficavam doentes quando estes lhes estragavam os campos ou lhes secavam os poços. Percebeu como esses senhores, as escolas, os mensageiros e o IB nada significavam para quem não tinha onde dormir ou o que comer.
Tinha conhecido pessoas que comiam tanto frango assado como o rei, que tinham o poder de distribuir o frango assado excedentário pelos que lhes prestavam vassalagem. Mas tinha igualmente conhecido quem nunca tivesse provado frango assado. Perto da fronteira com a 'terra de baixo' tinha conhecido uma comunidade de pessoas a quem o frango assado fazia azia. Noutra ocasião conheceu uma família que dizia que frango assado era para os que não conheciam a 'verdadeira cozinha'. Esses comiam pato assado. E na 'terra de cima' percebeu que a religião do povo não permitia a ingestão de aves de qualquer espécie.
Fulaninho confirmou de todas as formas as suas já antigas suspeições. o IB era uma falácia. Era um indicador do bem-estar, sem dúvida, mas só para algumas pessoas.
(capítulo 5)
terça-feira, 27 de janeiro de 2015
Dependências involuntárias...
Ou "como as coisas boas estão sempre ligadas a coisas más"... e como é necessário ter força para suportar as más, se queremos também as boas... Temas que já aflorei no passado, por exemplo aqui.
Esta é a gata que me tem feito companhia nos últimos meses em casa do meu pai, durante as obras:
Enquanto trabalhava no exterior da casa, ela apanhava sol aninhada sobre o capô de algum carro. E, tal como na história da raposa do principezinho, foi-se chegando. E agora gosta de dormir no meu colo... logo o meu! que sou alérgico a gatos!...
Um dia eu partirei. Para ela será de repente, e sem explicação. Sentirá a minha falta? Ficará ressentida? Que posso eu fazer?...
Em Valongo, em 2007, escrevi assim:
Esta é a gata que me tem feito companhia nos últimos meses em casa do meu pai, durante as obras:
Enquanto trabalhava no exterior da casa, ela apanhava sol aninhada sobre o capô de algum carro. E, tal como na história da raposa do principezinho, foi-se chegando. E agora gosta de dormir no meu colo... logo o meu! que sou alérgico a gatos!...
Um dia eu partirei. Para ela será de repente, e sem explicação. Sentirá a minha falta? Ficará ressentida? Que posso eu fazer?...
Em Valongo, em 2007, escrevi assim:
É
difícil o amor
Dei-te
tudo o que pude
enquanto
pude.
E
agora, que estou esgotado,
espero
em troca a tristeza
pela
fonte que secou.
quarta-feira, 21 de janeiro de 2015
A alegoria do frango assado (3/6)...
(capítulo 1)
Capítulo 3
Após os primeiros anos de construção e publicação sistemática do IB os conselheiros do rei começaram a perceber que não existia uma relação directa entre as medidas e as expectativas do rei e a evolução do indicador. Chegou mesmo a acontecer que em anos em que o rei mais apostou na subida do IB, ele desceu, e em anos em que o rei se desleixou, o IB cresceu mais do que o habitual.
Das reflexões que se seguiram acabou por ser constituído um grupo de estudo incumbido de averiguar precisamente qual a relação entre as medidas que o rei tomava e a respectiva evolução do IB. Ao fim de trinta e duas semanas de trabalho árduo o grupo chegou à sua primeira conclusão: não havia aparentemente qualquer relação entre as medidas adoptadas e a evolução do IB! No entanto, o grupo tinha descoberto algo verdadeiramente espantoso: nos anos em que chovia menos, o IB não crescia tanto, chegando mesmo a descer se desse alguma praga nos animais.
Entusiasmados com as suas novas descobertas, o grupo de estudo e os conselheiros do rei logo lhe propuseram a manutenção dos fundos de apoio às suas actividades. E assim surgiu o CEES - Centro de Estudos Económico-Sociais da 'terra do sabe-se lá onde'.
Pouco tempo depois o CEES já tinha constatado a existência de relações entre dezenas de variáveis - a pluviosidade, a taxa de imposto, o número de feriados, as rendas pagas pelas terras, a taxa de natalidade, a saúde dos animais, a emigração, os bens que chegavam das colónias, o número de escravos, o número de moedas de ouro cunhadas, o número de sapatos produzidos, etc. - e a forma como todas estas relações influenciavam as descidas e as subidas do IB.
Apoiado pelo produto dos seus mais brilhantes pensadores, o rei sentia-se cada vez mais confiante nas medidas que tomava. E tinha razões para isso: o IB crescia de uma forma cada vez mais consistente (alguns conselheiros diziam que o IB crescia 'sustentadamente'). O rei estava orgulhoso de si. Nesse ano decidiu baixar os impostos e aumentar as rendas - os estudos do CEES demonstravam sem margem para dúvidas que tais medidas fariam subir o IB.
(capítulo 4)
domingo, 18 de janeiro de 2015
Janeiro lento - Celina: take five...
No penúltimo disco da Celina da Piedade, "Em Casa", está incluído o tema "Janeiro lento em Lisboa". Uma vez que o vídeo que se segue foi gravado em 2011, o tema terá sido provavelmente composto em Janeiro desse ano. Janeiro lento, em qualquer parte do mundo:
Celina da Piedade - "Janeiro lento em Lisboa" (quarto) from MPAGDP on Vimeo.
Um tema que já abordei no passado (por exemplo aqui) é o de que o conhecimento só acrescenta à nossa experiência: quanto mais se sabe, mais se gosta. Em relação à música, não tenho dúvida alguma que o ser capaz de ouvir as muitas coisas que nelas há para ouvir só torna a experiência melhor, de diversos pontos de vista. Dissecar os gostos é algo que desgosta muita gente. Mas só assim poderemos compreender porque é que gostamos e desgostamos. Explicar o que se sente, juntando pensamento e sentimento, além de nos tornar mais íntegros, torna-nos mais conhecedores de nós próprios e do mundo.
E agora... vou dissecar!...
O tempo desta música é 5/4. As primeiras notas da melodia soam mais ou menos assim. Ou seja, temos conjuntos de 4 notas, mas a quarta nota de cada conjunto demora o dobro das restantes. Portanto é como se em cada conjunto existissem 5 notas. Se, pelo contrário, a quarta nota demorasse o mesmo que as restantes, a música soaria mais ou menos assim, tendo um tempo de 4/4.
A música que normalmente ouvimos em Portugal (a que se ouve nas rádios e nas televisões, a que se compra nas lojas, a que se ouve nos elevadores e nos supermercados, a que acompanha a publicidade...) é quase toda em compassos binários, ternários ou quaternários. O mesmo se passa com as músicas deste mundo a que resolvemos chamar de "ocidental". Um compasso quíntuplo é, portanto, e para nós, um compasso esquisito, fora do comum, e que como tal classificamos de complexo.
Note-se, porém, que noutros sítios deste planeta, e noutras culturas, uma vez que as culturas não têm propriamente sítio, tempos de 5/4, 5/8, 7/8, 9/8, 11/8 e por aí fora são muito comuns. Por exemplo, se ouvirem as músicas tradicionais búlgaras deste pacote, poderão reparar que muitas músicas são em 7/8. Ou poderão ter dificuldade em reparar nisso, mas certamente constatarão que não se enquadram nos nossos conhecidos compassos binário, ternário ou quaternário.
(Já agora, a Celina também lá põe no mesmo cd duas valsa a 8 tempos e outra música cuja batida também é no conjunto 3+3+2, mais uma coisa esquisita. Ide lá investigar)
Se atentarmos agora às notas mais graves (tocadas pela mão esquerda) notaremos que os acentos são colocados mais ou menos assim ou, se quisermos, assim. Isto significa que cada conjunto de 5 notas pode ser agrupado em 3+2. Outra forma de reparar nisso é atentar à linguagem corporal da Celina: toda ela é movimento 3+2! É uma maneira de o fazer, mas naturalmente poderia ser de muitas outras maneiras. No final haverá um exemplo alternativo.
O modo como este tempo 3+2 é bem marcado ao longo de toda a música faz dela uma óptima música para dança... digo eu!
Ainda numa análise objectiva, a escala adoptada começa em Lá e é uma escala menor natural (a que pelos vistos também se dá o nome de modo eólio). Soa assim. Se fosse uma escala maior em Lá soaria antes assim. O efeito que tem sobre nós uma escala menor já é algo mais subjectivo e até certo ponto culturalmente determinado.
Finalmente, a Celina enfia-nos uma pequena surpresa a meio da melodia, que é a introdução da nota Si bemol no primeiro vaivém às notas altas, e que perdura até ao final dessa frase melódica. Estou-me a referir a esta nota aqui. Mesmo não estando muito atento, nota-se que há uma variação, alguma coisa que muda... e isso enriquece a música.
A minha análise subjectiva desta música é que ela é ao mesmo tempo alegre e triste, ou uma mistura dos dois. As voltinhas das notas mais agudas a irem para cima e para baixo são como que os altos e baixos, as alegrias e as tristezas que vão ocorrendo ao longo do tempo, que passa sempre sem parar... conforme as notas mais graves nos transmitem. A cadência e as repetições da música acentuam esse efeito, tal como a repetição com que ela termina... Como se o tempo fosse um comboio que não pára nunca... e afinal o que é lento não é Janeiro, nem é Lisboa, mas somos nós, é a nossa vida!
Provavelmente é obra do acaso, mas a mão esquerda é a que está mais iluminada e visível, e é também dela que gosto mais nesta música...
Uma música bonita. Celina: take five!
(que é uma maneira de acabar com outra música em 5/4, mas desta vez as notas agrupam-se em 2+1+2. uma forma de o sentirmos é tentarmos dançá-la, notando que se dança bem com um passo lento, depois um rápido, depois outro lento, e voltando ao início)
Celina da Piedade - "Janeiro lento em Lisboa" (quarto) from MPAGDP on Vimeo.
Um tema que já abordei no passado (por exemplo aqui) é o de que o conhecimento só acrescenta à nossa experiência: quanto mais se sabe, mais se gosta. Em relação à música, não tenho dúvida alguma que o ser capaz de ouvir as muitas coisas que nelas há para ouvir só torna a experiência melhor, de diversos pontos de vista. Dissecar os gostos é algo que desgosta muita gente. Mas só assim poderemos compreender porque é que gostamos e desgostamos. Explicar o que se sente, juntando pensamento e sentimento, além de nos tornar mais íntegros, torna-nos mais conhecedores de nós próprios e do mundo.
E agora... vou dissecar!...
O tempo desta música é 5/4. As primeiras notas da melodia soam mais ou menos assim. Ou seja, temos conjuntos de 4 notas, mas a quarta nota de cada conjunto demora o dobro das restantes. Portanto é como se em cada conjunto existissem 5 notas. Se, pelo contrário, a quarta nota demorasse o mesmo que as restantes, a música soaria mais ou menos assim, tendo um tempo de 4/4.
A música que normalmente ouvimos em Portugal (a que se ouve nas rádios e nas televisões, a que se compra nas lojas, a que se ouve nos elevadores e nos supermercados, a que acompanha a publicidade...) é quase toda em compassos binários, ternários ou quaternários. O mesmo se passa com as músicas deste mundo a que resolvemos chamar de "ocidental". Um compasso quíntuplo é, portanto, e para nós, um compasso esquisito, fora do comum, e que como tal classificamos de complexo.
Note-se, porém, que noutros sítios deste planeta, e noutras culturas, uma vez que as culturas não têm propriamente sítio, tempos de 5/4, 5/8, 7/8, 9/8, 11/8 e por aí fora são muito comuns. Por exemplo, se ouvirem as músicas tradicionais búlgaras deste pacote, poderão reparar que muitas músicas são em 7/8. Ou poderão ter dificuldade em reparar nisso, mas certamente constatarão que não se enquadram nos nossos conhecidos compassos binário, ternário ou quaternário.
(Já agora, a Celina também lá põe no mesmo cd duas valsa a 8 tempos e outra música cuja batida também é no conjunto 3+3+2, mais uma coisa esquisita. Ide lá investigar)
Se atentarmos agora às notas mais graves (tocadas pela mão esquerda) notaremos que os acentos são colocados mais ou menos assim ou, se quisermos, assim. Isto significa que cada conjunto de 5 notas pode ser agrupado em 3+2. Outra forma de reparar nisso é atentar à linguagem corporal da Celina: toda ela é movimento 3+2! É uma maneira de o fazer, mas naturalmente poderia ser de muitas outras maneiras. No final haverá um exemplo alternativo.
O modo como este tempo 3+2 é bem marcado ao longo de toda a música faz dela uma óptima música para dança... digo eu!
Ainda numa análise objectiva, a escala adoptada começa em Lá e é uma escala menor natural (a que pelos vistos também se dá o nome de modo eólio). Soa assim. Se fosse uma escala maior em Lá soaria antes assim. O efeito que tem sobre nós uma escala menor já é algo mais subjectivo e até certo ponto culturalmente determinado.
Finalmente, a Celina enfia-nos uma pequena surpresa a meio da melodia, que é a introdução da nota Si bemol no primeiro vaivém às notas altas, e que perdura até ao final dessa frase melódica. Estou-me a referir a esta nota aqui. Mesmo não estando muito atento, nota-se que há uma variação, alguma coisa que muda... e isso enriquece a música.
A minha análise subjectiva desta música é que ela é ao mesmo tempo alegre e triste, ou uma mistura dos dois. As voltinhas das notas mais agudas a irem para cima e para baixo são como que os altos e baixos, as alegrias e as tristezas que vão ocorrendo ao longo do tempo, que passa sempre sem parar... conforme as notas mais graves nos transmitem. A cadência e as repetições da música acentuam esse efeito, tal como a repetição com que ela termina... Como se o tempo fosse um comboio que não pára nunca... e afinal o que é lento não é Janeiro, nem é Lisboa, mas somos nós, é a nossa vida!
Provavelmente é obra do acaso, mas a mão esquerda é a que está mais iluminada e visível, e é também dela que gosto mais nesta música...
Uma música bonita. Celina: take five!
(que é uma maneira de acabar com outra música em 5/4, mas desta vez as notas agrupam-se em 2+1+2. uma forma de o sentirmos é tentarmos dançá-la, notando que se dança bem com um passo lento, depois um rápido, depois outro lento, e voltando ao início)
quarta-feira, 14 de janeiro de 2015
A alegoria do frango assado (2/6)...
(capítulo 1)
Capítulo 2
Fulaninho da Silva veio ao mundo senhor de alguns cabelos na careca e um vozeirão capaz de irritar mesmo as mães mais babosas. Nada mais lhe pertencia. Nada mais seus pais lhe puderam dar.
Seus pais trabalhavam a terra que não era deles. O pai lá ficava nos campos, de sol a sol. A mãe só lá trabalhava durante as manhãs. De tarde voltava para casa e fazia os restantes trabalhos domésticos. Fazia questão de ter a casa sempre limpa. Além disso guardava sempre 'um pouco do melhor' para quando lá fossem visitas: alguns frutos secos, algum vinho. Só não tinha era frango assado. Não que ela não quisesse. Não que não estivesse disposta a suportar o seu custo só para agradar aos convidados. Mas o frango estragava-se...
Fulaninho cresceu. Quando fez seis anos os seus pais decidiram mandá-lo para a escola. Faziam questão que o seu filho não tivesse a mesma vida que eles, custasse o que custasse. Fulaninho era uma criança irrequieta e curiosa, cheia de vida. Queria saber tudo. Perguntava tudo aos pais. E os pais, mesmo que não soubessem responder, lá lhe contavam a sua versão das coisas, só para não darem parte de fracos. Fulaninho tinha muita confiança e muito orgulho nos seus pais.
Certo dia, já tinha Fulaninho dez anos de idade, chegou à aldeia onde morava um senhor a cavalo, muito bem vestido. Parou na adro do pelourinho e tocou uma corneta muito barulhenta. Quando se certificou que tinha captado a atenção dos habitantes, sacou de um papel que trazia enrolado, e à medida que o desenrolava ia dizendo em voz alta: que o rei tinha morrido, que o novo rei era tal e tal...
Fulaninho perguntou aos seus pais se isso era bom. Os pais não sabiam... Disseram-lhe que era assim... que para eles pouca diferença fazia... que as coisas só podiam melhorar...
Poucos meses depois o senhor do cavalo e das vestimentas voltou para anunciar as medidas que o novo rei tinha tomado. Explicou como se havia de eleger um representante para comunicar anualmente ao rei o número de frangos assados consumidos naquela aldeia. É claro que Fulaninho ficou intrigado.
'-Ó pai, para que é que o rei quer saber quantos frangos assados comemos?'
Lentamente Fulaninho começou a perceber que os pais afinal não sabiam tudo. E também não era na escola que saciava a sua curiosidade. Mas Fulaninho não desistia... queria saber, tinha de saber. E lentamente começou a construir o seu próprio rumo, por onde acabaria por ir sozinho.
Quatro anos passaram. Por essa altura, no início de cada ano, o mesmo senhor do cavalo já era aguardado com expectativa por todos. Vinha comunicar a variação no IB e as novas medidas adoptadas pelo rei. Na escola os colegas mais novos de Fulaninho já aprendiam o que era o IB. Na aldeia já todos compreendiam o que era o IB e sabiam como era importante que o IB aumentasse. Assim, se o mensageiro anunciava uma descida no IB, todos ficavam deprimidos, ansiosos, expectantes, todos tratavam de poupar e gerir melhor os seus haveres. Se fosse anunciada uma subida, todos reforçavam as suas impressões de uma melhoria nas suas vidas e logo os homens iam comemorar para a tasca.
Na família de Fulaninho comia-se frango assado nas ocasiões especiais: no Natal e nos aniversários do pai. Eventualmente, se a dignidade de algum convidado justificasse, lá se comeria um frango assado extra. Fulaninho dava-se por satisfeito. Sabia que nem todos os seus colegas de escola tinham a mesma sorte. Alguns nunca comiam frango assado. No entanto, sabia também, porque volta e meia se falava disso, que o filho do pároco comia para aí uns cinco ou seis frangos por ano! E não era o único: também havia o filho do senhor doutor e os filhos do Valis Longus, o senhorio dos pais e de todos os vizinhos.
Fulaninho cresceu, trilhando solitário o seu próprio rumo. Foi descobrindo que algumas das coisas que se falavam na escola não eram verdadeiras. Mas foi percebendo também que as desigualdades eram muito mais relevantes e consequentes do que havia julgado. Nem todos na aldeia comiam o mesmo número de frangos. E quando as coisas melhoravam, não melhoravam de igual forma para todos. E por muito que os pais trabalhassem, com as costas cada vez mais vergadas e as rugas cada vez mais sulcadas, lá em casa nunca se comiam mais de quatro ou cinco frangos por ano.
(capítulo 3)
Capítulo 2
Fulaninho da Silva veio ao mundo senhor de alguns cabelos na careca e um vozeirão capaz de irritar mesmo as mães mais babosas. Nada mais lhe pertencia. Nada mais seus pais lhe puderam dar.
Seus pais trabalhavam a terra que não era deles. O pai lá ficava nos campos, de sol a sol. A mãe só lá trabalhava durante as manhãs. De tarde voltava para casa e fazia os restantes trabalhos domésticos. Fazia questão de ter a casa sempre limpa. Além disso guardava sempre 'um pouco do melhor' para quando lá fossem visitas: alguns frutos secos, algum vinho. Só não tinha era frango assado. Não que ela não quisesse. Não que não estivesse disposta a suportar o seu custo só para agradar aos convidados. Mas o frango estragava-se...
Fulaninho cresceu. Quando fez seis anos os seus pais decidiram mandá-lo para a escola. Faziam questão que o seu filho não tivesse a mesma vida que eles, custasse o que custasse. Fulaninho era uma criança irrequieta e curiosa, cheia de vida. Queria saber tudo. Perguntava tudo aos pais. E os pais, mesmo que não soubessem responder, lá lhe contavam a sua versão das coisas, só para não darem parte de fracos. Fulaninho tinha muita confiança e muito orgulho nos seus pais.
Certo dia, já tinha Fulaninho dez anos de idade, chegou à aldeia onde morava um senhor a cavalo, muito bem vestido. Parou na adro do pelourinho e tocou uma corneta muito barulhenta. Quando se certificou que tinha captado a atenção dos habitantes, sacou de um papel que trazia enrolado, e à medida que o desenrolava ia dizendo em voz alta: que o rei tinha morrido, que o novo rei era tal e tal...
Fulaninho perguntou aos seus pais se isso era bom. Os pais não sabiam... Disseram-lhe que era assim... que para eles pouca diferença fazia... que as coisas só podiam melhorar...
Poucos meses depois o senhor do cavalo e das vestimentas voltou para anunciar as medidas que o novo rei tinha tomado. Explicou como se havia de eleger um representante para comunicar anualmente ao rei o número de frangos assados consumidos naquela aldeia. É claro que Fulaninho ficou intrigado.
'-Ó pai, para que é que o rei quer saber quantos frangos assados comemos?'
Lentamente Fulaninho começou a perceber que os pais afinal não sabiam tudo. E também não era na escola que saciava a sua curiosidade. Mas Fulaninho não desistia... queria saber, tinha de saber. E lentamente começou a construir o seu próprio rumo, por onde acabaria por ir sozinho.
Quatro anos passaram. Por essa altura, no início de cada ano, o mesmo senhor do cavalo já era aguardado com expectativa por todos. Vinha comunicar a variação no IB e as novas medidas adoptadas pelo rei. Na escola os colegas mais novos de Fulaninho já aprendiam o que era o IB. Na aldeia já todos compreendiam o que era o IB e sabiam como era importante que o IB aumentasse. Assim, se o mensageiro anunciava uma descida no IB, todos ficavam deprimidos, ansiosos, expectantes, todos tratavam de poupar e gerir melhor os seus haveres. Se fosse anunciada uma subida, todos reforçavam as suas impressões de uma melhoria nas suas vidas e logo os homens iam comemorar para a tasca.
Na família de Fulaninho comia-se frango assado nas ocasiões especiais: no Natal e nos aniversários do pai. Eventualmente, se a dignidade de algum convidado justificasse, lá se comeria um frango assado extra. Fulaninho dava-se por satisfeito. Sabia que nem todos os seus colegas de escola tinham a mesma sorte. Alguns nunca comiam frango assado. No entanto, sabia também, porque volta e meia se falava disso, que o filho do pároco comia para aí uns cinco ou seis frangos por ano! E não era o único: também havia o filho do senhor doutor e os filhos do Valis Longus, o senhorio dos pais e de todos os vizinhos.
Fulaninho cresceu, trilhando solitário o seu próprio rumo. Foi descobrindo que algumas das coisas que se falavam na escola não eram verdadeiras. Mas foi percebendo também que as desigualdades eram muito mais relevantes e consequentes do que havia julgado. Nem todos na aldeia comiam o mesmo número de frangos. E quando as coisas melhoravam, não melhoravam de igual forma para todos. E por muito que os pais trabalhassem, com as costas cada vez mais vergadas e as rugas cada vez mais sulcadas, lá em casa nunca se comiam mais de quatro ou cinco frangos por ano.
(capítulo 3)
sábado, 10 de janeiro de 2015
A alegoria do frango assado (1/6)...
Uma história, ou estória se quiserem ser mais chiques, que escrevi há exactamente dez anos atrás (como o tempo voa!...). Tem seis capítulos. Aí vai o primeiro:
Capítulo 1
Era uma vez um reino perdido nas montanhas da 'terra do sabe-se lá onde'. Depois de uma série de reinados despóticos, chegou ao trono um rei complacente que elegeu como prioridade do reino a melhoria das condições de vida do seu povo.
Mas, na realidade, o rei não fazia sequer ideia de como vivia o seu povo: se vivia bem ou mal e quais as suas carências. Depois de pensar um pouco sobre isso (não muito, que os reis cansam-se depressa), e considerando que o reino de cem quilómetros quadrados era demasiado vasto para ser pessoalmente percorrido de lés a lés (uma vez que, como disse, os reis cansam-se depressa), o rei decidiu reunir os seus conselheiros e debater a questão.
Os conselheiros reuniram então com o seu rei. O objectivo era arranjar um modo de aferir sobre as condições de vida da população. Muitas ideias foram lançadas para o debate (naquilo que hoje se chamaria um 'brainstorming' ou, se quiserem, uma 'tempestade cerebral'): seria permitido às pessoas enviarem cartas directamente para o rei a exporem os seus problemas, seria eleito um representante em cada aldeia que faria anualmente uma exposição das carências aí verificadas... Até que um dos conselheiros disse que não concordava com nada daquilo.
Segundo Numerus Clausus (era este o nome do conselheiro), não se deveria determinar o estado em que a população vivia através dos relatos das diversas pessoas. Não se deveria confiar de todo nesses relatos, dizia. Clausus era a pessoa certa para fazer tal afirmação. Lá na corte era o elemento mais introvertido e misantropo. Ficava dias e dias encarcerado na sua cela, profundamente mergulhado nas suas tábuas de 'números cósmicos', que segundo ele podiam explicar todos os fenómenos observáveis.
Clausus defendia que deveria haver um processo mais objectivo para determinar as condições de vida da população. Um conselheiro sugeriu então que se contassem os bens que cada pessoa possuia. Mas claramente, retorquiu logo outro, não faria sentido atribuir o mesmo significado a uma batata ou a uma casa. Foi então que o rei se lembrou de que no seu reino era usual comer-se frango assado. E uma vez que os frangos assados não eram tão baratos como as batatas, nem tão caros como as casas, podia-se contar o número de frangos assados que cada pessoa comia - esse número daria uma ideia de como as pessoas viviam.
Claro que ele, o rei, comia frango assado dia sim dia não, e só não comia mais porque se aborrecia de estar sempre a comer a mesma coisa. À sua volta os elementos da corte comiam bastante frango assado, embora não tanto como o rei. No entanto, o rei não conhecia ninguém que não comesse, pelo menos de vez em quando, frango assado.
Depois de se limarem uma data de arestas, o rei e os seus conselheiros chegaram à seguinte conclusão: seria construído um 'índice de bem-estar da população'. Para esse efeito, todos os anos, numa data precisa, os representantes de cada comunidade comunicariam ao rei o número de frangos assados comidos durante o ano. Os conselheiros do rei calculariam então uma média ponderada pelo número de homens de cada comunidade (as mulheres e as crianças só mais tarde é que foram consideradas).
O rei ficou feliz com a sua decisão. No primeiro ano o número médio de frangos assados consumidos por pessoa foi de três. O rei não fazia ideia se isto era bom ou mau. À primeira vista pareceu-lhe péssimo, uma vez que ele próprio consumia anualmente mais de cem frangos assados. Mas depois pensou que o seu povo não podia viver assim tão mal... ele é que vivia muito bem, pois claro! E como não tinha termo de comparação, o entretanto baptizado IB - índice de bem-estar - assumiu nesse primeiro ano o valor de 100.
Ora, pensou o rei, se o objectivo é melhorar as condições de vida das pessoas, só tenho que fazer com que o IB cresça. Nem o rei nem os conselheiros sabiam quanto é que o IB devia crescer, mas rapidamente se habituaram à ideia de que o IB devia crescer... e isso era tudo!
Os anos passaram. O rei, sempre complacente, assinou acordos de paz com os seus vizinhos e tomou algumas medidas que lhe pareciam poder beneficiar o seu povo. O IB lá foi crescendo, paulatinamente. Na corte, todos os anos, já se ansiava pela divulgação do novo valor do IB. E quando a conversa era sobre o reino, o IB vinha sempre à baila: porque o IB sobe, porque o IB desce, não se pode fazer isso por causa do IB, o IB para aqui e o IB para ali.
(capítulo 2)
Capítulo 1
Era uma vez um reino perdido nas montanhas da 'terra do sabe-se lá onde'. Depois de uma série de reinados despóticos, chegou ao trono um rei complacente que elegeu como prioridade do reino a melhoria das condições de vida do seu povo.
Mas, na realidade, o rei não fazia sequer ideia de como vivia o seu povo: se vivia bem ou mal e quais as suas carências. Depois de pensar um pouco sobre isso (não muito, que os reis cansam-se depressa), e considerando que o reino de cem quilómetros quadrados era demasiado vasto para ser pessoalmente percorrido de lés a lés (uma vez que, como disse, os reis cansam-se depressa), o rei decidiu reunir os seus conselheiros e debater a questão.
Os conselheiros reuniram então com o seu rei. O objectivo era arranjar um modo de aferir sobre as condições de vida da população. Muitas ideias foram lançadas para o debate (naquilo que hoje se chamaria um 'brainstorming' ou, se quiserem, uma 'tempestade cerebral'): seria permitido às pessoas enviarem cartas directamente para o rei a exporem os seus problemas, seria eleito um representante em cada aldeia que faria anualmente uma exposição das carências aí verificadas... Até que um dos conselheiros disse que não concordava com nada daquilo.
Segundo Numerus Clausus (era este o nome do conselheiro), não se deveria determinar o estado em que a população vivia através dos relatos das diversas pessoas. Não se deveria confiar de todo nesses relatos, dizia. Clausus era a pessoa certa para fazer tal afirmação. Lá na corte era o elemento mais introvertido e misantropo. Ficava dias e dias encarcerado na sua cela, profundamente mergulhado nas suas tábuas de 'números cósmicos', que segundo ele podiam explicar todos os fenómenos observáveis.
Clausus defendia que deveria haver um processo mais objectivo para determinar as condições de vida da população. Um conselheiro sugeriu então que se contassem os bens que cada pessoa possuia. Mas claramente, retorquiu logo outro, não faria sentido atribuir o mesmo significado a uma batata ou a uma casa. Foi então que o rei se lembrou de que no seu reino era usual comer-se frango assado. E uma vez que os frangos assados não eram tão baratos como as batatas, nem tão caros como as casas, podia-se contar o número de frangos assados que cada pessoa comia - esse número daria uma ideia de como as pessoas viviam.
Claro que ele, o rei, comia frango assado dia sim dia não, e só não comia mais porque se aborrecia de estar sempre a comer a mesma coisa. À sua volta os elementos da corte comiam bastante frango assado, embora não tanto como o rei. No entanto, o rei não conhecia ninguém que não comesse, pelo menos de vez em quando, frango assado.
Depois de se limarem uma data de arestas, o rei e os seus conselheiros chegaram à seguinte conclusão: seria construído um 'índice de bem-estar da população'. Para esse efeito, todos os anos, numa data precisa, os representantes de cada comunidade comunicariam ao rei o número de frangos assados comidos durante o ano. Os conselheiros do rei calculariam então uma média ponderada pelo número de homens de cada comunidade (as mulheres e as crianças só mais tarde é que foram consideradas).
O rei ficou feliz com a sua decisão. No primeiro ano o número médio de frangos assados consumidos por pessoa foi de três. O rei não fazia ideia se isto era bom ou mau. À primeira vista pareceu-lhe péssimo, uma vez que ele próprio consumia anualmente mais de cem frangos assados. Mas depois pensou que o seu povo não podia viver assim tão mal... ele é que vivia muito bem, pois claro! E como não tinha termo de comparação, o entretanto baptizado IB - índice de bem-estar - assumiu nesse primeiro ano o valor de 100.
Ora, pensou o rei, se o objectivo é melhorar as condições de vida das pessoas, só tenho que fazer com que o IB cresça. Nem o rei nem os conselheiros sabiam quanto é que o IB devia crescer, mas rapidamente se habituaram à ideia de que o IB devia crescer... e isso era tudo!
Os anos passaram. O rei, sempre complacente, assinou acordos de paz com os seus vizinhos e tomou algumas medidas que lhe pareciam poder beneficiar o seu povo. O IB lá foi crescendo, paulatinamente. Na corte, todos os anos, já se ansiava pela divulgação do novo valor do IB. E quando a conversa era sobre o reino, o IB vinha sempre à baila: porque o IB sobe, porque o IB desce, não se pode fazer isso por causa do IB, o IB para aqui e o IB para ali.
(capítulo 2)
terça-feira, 6 de janeiro de 2015
O detector de tretas - complemento...
Aqui está um curto vídeo (como aparentemente todos os vídeos hoje em dia têm de ser se os seus autores querem ter alguma audiência) que explora uma questão que levantei no meu artigo sobre o detector de tretas e que é: como é que podemos saber as coisas que sabemos?...
Conforme afirmei, sejamos nós crentes ingénuos ou cientistas cépticos, aquilo que aceitamos como realidade é sempre uma questão de fé. Sempre.
Isso não quer dizer, contudo, que é indiferente para nós acreditarmos numa ou noutra versão distinta das coisas. Acredito eu! Há consequências sérias de acreditar em coisas que não se ajustam bem à realidade. Acredito eu!... E nunca poderemos saber se esta minha crença é verdadeira ou não, mas se continuarem a acreditar que o Passos Coelho é um porreiraço e voltarem a votar nele, eu aposto que continuarão a ter as dificuldades económicas que agora têm... É uma maneira de testar!
E testar é importantíssimo para construirmos um bom detector de tretas.
Conforme afirmei, sejamos nós crentes ingénuos ou cientistas cépticos, aquilo que aceitamos como realidade é sempre uma questão de fé. Sempre.
Isso não quer dizer, contudo, que é indiferente para nós acreditarmos numa ou noutra versão distinta das coisas. Acredito eu! Há consequências sérias de acreditar em coisas que não se ajustam bem à realidade. Acredito eu!... E nunca poderemos saber se esta minha crença é verdadeira ou não, mas se continuarem a acreditar que o Passos Coelho é um porreiraço e voltarem a votar nele, eu aposto que continuarão a ter as dificuldades económicas que agora têm... É uma maneira de testar!
E testar é importantíssimo para construirmos um bom detector de tretas.
sexta-feira, 2 de janeiro de 2015
TV Rural - a dar-nos música pela barba...
É bom saber que há música a surgir à nossa volta em todos os sabores...
Estes sabores, para mim diferentes dos que a música portuguesa costuma ter, e bons, podem ser lidos e ouvidos com mais extensão e intenção neste site:
http://tvrural.bandcamp.com/
querias viver a vida a dormir
...
sem o ruído da razão
a moldar-te a percepção
...
e ainda dizes que nada disto te é sentido.
olha que bem!
...
nunca me fez tanto sentido
cantar canções de intervenção,
basta olhar à volta
...
e não aceitar
que a voz se apague pelo cansaço
...
mas olha, não te vás embora,
junta-te a mim!
mas olha, não te vás embora,
junta-te a mim!
...
Estes sabores, para mim diferentes dos que a música portuguesa costuma ter, e bons, podem ser lidos e ouvidos com mais extensão e intenção neste site:
http://tvrural.bandcamp.com/
querias viver a vida a dormir
...
sem o ruído da razão
a moldar-te a percepção
...
e ainda dizes que nada disto te é sentido.
olha que bem!
...
nunca me fez tanto sentido
cantar canções de intervenção,
basta olhar à volta
...
e não aceitar
que a voz se apague pelo cansaço
...
mas olha, não te vás embora,
junta-te a mim!
mas olha, não te vás embora,
junta-te a mim!
...
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